Fotografando Gente

Hoje é quarta-feira. São 06h23. Estou no ônibus 220, sentada. Ao meu lado direito, um banco vazio. Ao meu lado esquerdo, uma janela fechada. Na minha frente, uma mulher sentada. Ela tem o cabelo castanho, cacheado, comprido, com mechas loiras. Veste uma blusa branca florida.  O celular bipa. Direct do Instagram. A mulher sentada na minha frente manda áudio para alguém. Olha para dentro do ônibus. Olha para fora da janela. Olha para dentro do ônibus. Olha para fora da janela. Usa óculos de grau. Ela é negra. Olha para dentro do ônibus. Olha para fora da janela. Olha para dentro do ônibus. Olha para fora da janela. Usa aparelho nos dentes. Olha para dentro do ônibus. 

[Escrito em 06 de agosto de 2024] Se tem uma profissão que eu admiro nesta vida é a profissão de diarista (ou da empregada doméstica). É a profissional que sai da sua própria casa para cuidar da sua casa. Neste caso, da minha casa. Eu não sei como está a casa dela. Mas sinto o cheirinho de como está a minha. Para além dos clichês da importância dos enfermeiros, médicos, psicólogos (olha ela puxando a sardinha). Mas esse Fotografando hoje vai ser pra falar da minha diarista. O nome dela é Elaine.  Elaine tem uma certa idade. Nunca perguntei a idade dela, talvez pela indelicadeza das coisas. Mas ela já é bisavó. Então, ela tem mais que eu. Talvez mais que você.  Elaine mora na Cidade de Deus e pega dois ônibus para chegar a minha. Eu não tenho problemas com horários e ela sempre chega entre 11h00 e 12h00 na minha casa (mas sai depois das 20h00, sempre, o que me deixa sempre preocupada).  Não tem um dia que Elaine não chegue cantando, gritando, e falando chegue-ei! Aqui em casa, são 4 gat

Um homem passa na minha frente carregando uma mochila verde. Hoje é domingo. São 08h41. Um homem passa na minha frente. Ele é branco, gordo e alto. Estou na Smart Fit, sentada na bicicleta. Ao meu lado direito, uma bicicleta vazia. Ao meu lado esquerdo, uma bicicleta vazia. Na minha frente, um corredor por onde as pessoas passam. Um homem passa na minha frente. Um homem passa na minha frente. Uma mulher passa na minha frente. Uma mulher passa na minha frente. Um homem passa na minha frente carregando um celular. Um homem passa na minha frente carregando um celular e uma garrafa. Ele é negro, magro e alto.  Uma mulher passa na minha frente carregando um celular e uma garrafa azul. Usa fones de ouvido sem fio. Ela é negra, magra e baixa.  Um homem passa na minha frente. Um homem passa na minha frente. Ele é branco, magro e alto. É careca.  Uma mulher passa na minha frente carregando um casaco azul. Ela é branca, magra e baixa.  Uma mulher passa na minha frente carregando um saco. Ela é n

Hoje é sábado.  Um homem passa na minha frente carregando uma garrafa. Ele é branco, magro e alto. São 08h46. Estou na Smart Fit, sentada na bicicleta.  Um homem passa na minha frente. Uma mulher passa na minha frente carregando uma mochila vinho. Ela é branca e magra.  Ao meu lado direito, uma bicicleta vazia.  Uma mulher passa na minha frente.  Uma mulher passa na minha frente carregando uma garrafa.  Uma mulher passa na minha frente.  Um homem passa na minha frente carregando uma mochila.  Uma mulher passa na minha frente.  Um homem passa na minha frente.  Ao meu lado esquerdo, uma bicicleta vazia. Na minha frente, um corredor por onde as pessoas passam.  Um homem passa na minha frente carregando uma garrafa vermelha e um celular. Ele é branco, magro e alto. Um homem passa na minha frente carregando uma garrafa e um celular. Ele é branco, magro e alto. Uma mulher passa na minha frente.  Um homem passa na minha frente.  Um homem passa na minha frente carregando uma mochila preta.  Um

Hoje é sexta-feira. São 11h51. Estou no ônibus 415, sentada. Ao meu lado direito, um banco vazio. Ao meu lado esquerdo, uma janela fechada. Na minha frente, um homem sentado. Ele é branco e magro. Tem o cabelo castanho, curto e liso. Usa fones de ouvido pretos sem fio. Usa uma blusa cinza. Olha para fora da janela. Usa barba e sua barba é grisalha. Seu cabelo é também um pouco grisalho.  O celular bipa. Notificação do RioCard. Um homem senta ao meu lado direito carregando um celular. Ele é branco, magro e alto. Tem o cabelo preto e curto. Usa fones de ouvido pretos com fio. Veste uma bermuda preta, blusa verde e tênis preto. Mexe no celular, no Instagram. Levanta e sai. Agora, ao meu lado direito, um banco vazio. O celular bipa. Notificação do Pedômetro. Uma mulher senta ao meu lado direito carregando uma mochila preta. Ela é negra, gorda e tem o cabelo curto e preto. Veste um macacão cinza estampado. Levanta e sai. Agora, ao meu lado direito, um banco vazio.  Um homem senta ao meu lad

Hoje é quinta-feira. São 12h47. Estou no Espaço Carolina Parreira, sentada na recepção. Ao meu lado direito, uma revista em cima do banco. Ao meu lado esquerdo, um banco vazio. Na minha frente, um vão por onde as pessoas passam. - Ah, muito obrigada. Claro. Aqui. Será que eu posso colocar o óculos, com isso que você colocou em mim?  O celular bipa. Whatsapp da Hanna. Bipa novamente. Direct da Luana. Bipa novamente. Workchat da Yasmin.

Hoje é quarta-feira. São 06h23. Estou no ônibus 220, sentada. Ao meu lado direito, uma janela fechada. Ao meu lado esquerdo, um banco vazio. Na minha frente, um homem sentado. Ele é branco. Tem o cabelo curto e grisalho. Usa uma blusa social de cor creme. Parece linho. Olha para fora da janela. Tem os olhos pretos e os cílios grandes. Olha para dentro do ônibus. Olha para fora da janela. Olha para cima do ônibus. Olha para fora da janela. Olha para cima do ônibus. Olha para dentro do ônibus. Olha para fora da janela. Olha para dentro do ônibus. Olha para fora da janela. Olha para dentro do ônibus. Olha para fora da janela. Olha para dentro do ônibus. Olha para fora da janela. O celular bipa. Notificação da agenda.  O homem sentado na minha frente olha para dentro do ônibus. Olha para fora da janela. Olha para dentro do ônibus. Olha para fora da janela. Olha para dentro do ônibus. Olha para fora da janela. Tem as sobrancelhas grossas. Olha para dentro do ônibus. Olha para fora da janela

[Escrito em 20 de junho de 2024] Quero dizer em primeiro lugar que essa não é uma história de religião. Ou de espiritualidade. Ou de reencarnações. É uma história de vida humana. De uma vida humana. Ou da multiplicidade de vidas humanas. Nessa história, eu não tenho um nome. Você - que está lendo - pode dar o nome que quiser a mim. Porque, por acaso, eu tenho um nome. Mas que monte de outros nomes eu poderia ter tido? Então, vamos assim, sem nome nenhum. Escrevo essa história da vida que eu tenho, em 2024. Sou casada e trabalho em uma escola particular da Zona Sul, como professora do Ensino Fundamental. Gosto do meu trabalho, me faz feliz. Da minha vida como um todo, eu gosto: marido, bichos, casa. Mas gostar, gostaaaaar mesmo, eu gosto do meu trabalho. Como diria a minha psicóloga, “ é uma fatia importante da minha vida ”.  Mas é isso: minha vida. E se essa vida não fosse a minha vida? Se a minha vida fosse outra? Eu gostaria de fazer a diferença no mundo, de algum jeito. Abrir uma ON

Hoje é domingo. São 19h38. - Quer que eu saia daqui? Bernardo passa na minha frente.  Pedro passa na minha frente.  Juliana passa na minha frente e senta ao meu lado direito. Levanta e sai. Estou na Gauísa. Lilian passa na minha frente carregando uma bolsa preta. Cristiane passa na minha frente.  Estou sentada na recepção.  Ao meu lado direito, um banco vazio. Olga passa na minha frente.  - Não.  Ao meu lado esquerdo, minha mala rosa e dois potes. Na minha frente, um vão por onde as pessoas passam.  Tainá passa na minha frente carregando uma mochila, uma sacola e uma bola azul. Tereza passa na minha frente.  Samantha passa na minha frente.  Lilian passa na minha frente. Veste uma calca colorida e uma blusa branca.  Um homem passa na minha frente carregando um celular IPhone. Ele é branco, magro e alto. Tem o cabelo preto e curto.  Deborah passa na minha frente.  Juliana passa na minha frente carregando uma sacola. Uma mulher passa na minha frente.  Valentina passa na minha frente.  Pat

Hoje é sábado. São 06h32. Estou no ônibus 220, sentada. Ao meu lado direito, um banco vazio. Ao meu lado esquerdo, uma janela fechada. Na minha frente, um banco vazio. 

Hoje é sexta-feira. São 17h19. Estou no salão Maria Bonita, sentada. Ao meu lado direito, um móvel branco com coisas em cima. Ao meu lado esquerdo, um carrinho preto com secador e uma acetona em cima. Na minha frente, uma mesa com secador rosa e luminária em cima.  O celular bipa. Whatsapp da Luciana. - Fala minha flor. Tudo bem? Tudo, e você? Sento ali ou fico aqui? Tá.