Leonardo e Laura
[Escrito em 27 de agosto de 2025]
É quarta, dia de presencial. Eu voltaria para casa cedo, de metrô.
Eram 16h, metrô da Carioca.
Um casal de meia-idade aguarda o metrô sentido Uruguai, junto comigo.
Era um casal, mas não parecia um casal. Ela, um pouco mais velha que ele. Talvez uns 65 e ele por volta dos seus 58 anos.
Laura e Leonardo.
- Porque sua mãe se faz de burra, mas de burra ela não tem nada.
Eu não sabia se era um elogio ou uma ofensa à sogra.
Leonardo falava alto, já dentro do vagão. E Laura, apesar de grande, era discreta. Mesmo próxima a mim, eu não conseguia ouvir o som da sua voz.
Da Carioca até a Afonso Pena eles não ficaram em silêncio em nenhum momento, mas eu só ouvia as falas do Leonardo, que tinha um adjetivo para cada membro da família de Laura.
- Seu irmão sim. Até hoje não engoli. Ele pensa que é quem? Depois é que eu vi que ele é um bandido e não quis me meter.
Laura colocava as mãos no peito de Leonardo, sutilmente pedindo que falasse mais baixo. Ela não sussurrava, mas era discreta. Falava em um tom de voz possível que apenas Leonardo ouvisse. E não o vagão inteiro.
- Mas olha, e aquela lá? Lembra dela? Coitada. Amante, né? Porque seu pai sempre foi um filho da puta. Nossa senhora. Eu só não mandei ele... deixa pra lá... por que ele já era um velho. Que dirá agora... Aquele filho dele tinha que sair bandido mesmo. Porque olha... vale nada...
Santo mesmo era Leonardo.
E eu penso - ainda - apesar de ter saltado antes deles, quantas agressões mais Laura sofreria na vida?
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