Raquel
[Escrito em 31 de agosto de 2025]
Meu nome é Raquel. Eu vivo nas ruas. Em uma rua específica, do Rio Comprido. É uma rua escura, mal iluminada, que quase não passa carro e nem gente.
De manhã cedo, passo pelas ruas mais movimentadas para ver se encontro um trocado.
Era um domingo, antes das oito da manhã. Eu estava enrolada com o meu cobertor e com o meu chapéu que cobre todo o meu rosto. Não quero que as pessoas me vejam direito.
Não lembro quando foi o último banho que tomei. Assim, com sabão e tudo. Talvez já tenha pra lá de anos.
A moça veio andando em minha direção. Você quer uma água?, ela disse.
Quero, eu respondi. Tem um real?, eu pedi.
Ela disse que não tinha. Eu não acreditei muito, mas tá bom.
E uma panela velha na sua casa, tem?, eu perguntei.
Ela não entendeu o que eu disse, tirou os fones e pediu que eu falasse novamente. É raro alguém me dar papo assim, na rua.
Panela velha na sua casa, você tem?, eu repeti.
Ah, não tenho..., ela disse.
E cobertor, tem?, eu perguntei.
Cobertor eu tenho, ela respondeu, pra minha alegria. Mas pra hoje não.
Mais tarde?, perguntei.
Pode ser mais tarde, vou tentar, ela disse.
Vou tentar não, vou conseguir, diz assim, eu disse a ela.
Ela repetiu o que eu disse, agora sorrindo. Qual o seu nome?, ela perguntou.
Raquel, eu disse, que é meu nome mesmo. E o seu?
Luana, ela disse.
Valeu, Luana, vou esperar mais tarde o cobertor então.
A Luana não sabe, mas eu tenho um filho, que fizeram em mim, na rua, e ele ainda tá sem cobertor. Quando ela trazer o cobertor, eu vou dar pra ele. O nome dele é Felipe, que era o nome do meu pai, que já se foi.
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