Postagens

Em observação, no ônibus - 468

Hoje é quarta-feira. São 06h37. Estou no ônibus 220, sentada.  Ao meu lado direito, um banco vazio. Ao meu lado esquerdo, uma janela fechada. Na minha frente, um banco vazio. 

Em observação, no consultório - 600

Hoje é terça-feira. São 18h27. Estou no consultório, sentada a mesa. Ao meu lado direito, uma porta aberta. Ao meu lado esquerdo, uma cadeira vazia. Na minha frente, uma cadeira vazia. Por aqui, luzes acesas e tudo silencioso. O celular bipa. Notificação da agenda. Volto ao silêncio.

Raquel

[Escrito em 31 de agosto de 2025] Meu nome é Raquel. Eu vivo nas ruas. Em uma rua específica, do Rio Comprido. É uma rua escura, mal iluminada, que quase não passa carro e nem gente. De manhã cedo, passo pelas ruas mais movimentadas para ver se encontro um trocado. Era um domingo, antes das oito da manhã. Eu estava enrolada com o meu cobertor e com o meu chapéu que cobre todo o meu rosto. Não quero que as pessoas me vejam direito. Não lembro quando foi o último banho que tomei. Assim, com sabão e tudo. Talvez já tenha pra lá de anos.  A moça veio andando em minha direção. Você quer uma água?, ela disse. Quero, eu respondi. Tem um real?, eu pedi. Ela disse que não tinha. Eu não acreditei muito, mas tá bom.  E uma panela velha na sua casa, tem?, eu perguntei. Ela não entendeu o que eu disse, tirou os fones e pediu que eu falasse novamente. É raro alguém me dar papo assim, na rua.  Panela velha na sua casa, você tem?, eu repeti. Ah, não tenho..., ela disse. E cobertor, tem?,...

Em observação, na Smart Fit - 274

Hoje é domingo. São 09h24. Estou na Smart Fit. Um homem passa na minha frente. Uma mulher passa na minha frente. Ela é branca, magra e alta. Tem o cabelo preto, liso e curto. Um homem passa na minha frente. Um homem passa na minha frente carregando um copo preto. Estou sentada na cadeira de massagem. Ao meu lado direito, um bebedouro. Ao meu lado esquerdo, uma cadeira de massagem vazia.  Um homem passa na minha frente. Uma mulher passa na minha frente. Uma mulher passa na minha frente carregando uma garrafa transparente e um celular. Ela é branca, magra e alta.  Na minha frente, um corredor por onde as pessoas passam. Um homem passa na minha frente. Um homem passa na minha frente carregando um celular. Ele é branco. Uma mulher passa na minha frente carregando uma garrafa branca e um celular.  Um homem passa na minha frente carregando uma garrafa. Ele é branco, baixo e magro. Uma mulher passa na minha frente carregando uma garrafa e uma mochila vinho. Ela é branca, magra e...

Em observação, no Hospital Pan Americano

Um homem passa na minha frente. Um homem passa na minha frente carregando um papel.  Hoje é sábado. São 09h39. Estou no Hospital Pan Americano, sentada na recepção da emergência. Ao meu lado direito, uma cadeira marrom vazia. Ao meu lado esquerdo, uma cadeira marrom vazia. Na minha frente, um corredor por onde as pessoas passam.  Uma mulher passa na minha frente. Ela é branca, gorda e alta. Tem o cabelo castanho. O celular bipa. WhatsApp da Isys. Uma mulher passa na minha frente carregando um celular e uma bolsa preta transpassada. O celular bipa. WhatsApp da Isys.  Uma mulher passa na minha frente carregando uma bolsa preta. - Bom dia. Emergência. Ah tá.  O celular bipa. WhatsApp da Isys. Uma mulher passa na minha frente. Ela é branca, gorda e alta. Tem o cabelo preto, liso e comprido. O celular bipa. WhatsApp da Isys.  Uma mulher passa na minha frente. O celular bipa. WhatsApp da Isys. Uma mulher passa na minha frente. Uma mulher passa na minha frente carregan...

Em observação, no consultório - 599

Hoje é sexta-feira. São 11h24. Estou no consultório, sentada a mesa. Ao meu lado direito, uma porta aberta. Ao meu lado esquerdo, uma cadeira vazia. Na minha frente, uma cadeira vazia. Por aqui, luzes acesas e tudo silencioso. O celular bipa. WhatsApp da Viviane. Volto ao silêncio.

Em observação, na Clínica de Olhos Octávio Moura Brasil - 5

Hoje é quinta-feira. São 08h28. Estou na Clínica de Olhos Octávio Moura Brasil, sentada na sala da doutora Lúcia. Ao meu lado direito, um vão por onde as pessoas passam. O celular bipa. WhatsApp da Marília. Ao meu lado esquerdo, uma cadeira preta com minha bolsa em cima. Na minha frente, a cadeira preta da doutora Lucia. - Oi, doutora.

Em observação, no ônibus - 467

Hoje é quarta-feira. São 06h33. Estou no ônibus 220, sentada. Ao meu lado direito, um janela fechada. Ao meu lado esquerdo, um banco vazio. Na minha frente, uma mulher sentada. Ela tem o cabelo comprido, castanho com mechas loiras e trançado. Usa óculos de grau de armação transparente. Ela é negra. Olha para fora da janela. Olha para baixo. Usa uma blusa cinza. Coça o pescoço com a mão esquerda. Se ajeita no banco. Olha para baixo. Olha para fora da janela. Olha para baixo. Olha para fora da janela. A armação do seu óculos é lilás, e não transparente. Olha para baixo. Ela levanta e sai.  Agora, na minha frente, um banco vazio. 

Em observação, no consultório - 598

Hoje é terça-feira. São 17h27. Estou no consultório, sentada a mesa. Ao meu lado direito, uma porta aberta. Ao meu lado esquerdo, uma cadeira vazia. Na minha frente, uma cadeira vazia. Por aqui, luzes acesas e tudo silencioso. O celular bipa. WhatsApp da Hanna. Volto ao silêncio. O celular bipa. WhatsApp da Hanna. Volto ao silêncio. O celular bipa. WhatsApp da Hanna. Volto ao silêncio.

Leonardo e Laura

[Escrito em 27 de agosto de 2025] É quarta, dia de presencial. Eu voltaria para casa cedo, de metrô. Eram 16h, metrô da Carioca. Um casal de meia-idade aguarda o metrô sentido Uruguai, junto comigo.  Era um casal, mas não parecia um casal. Ela, um pouco mais velha que ele. Talvez uns 65 e ele por volta dos seus 58 anos. Laura e Leonardo. - Porque sua mãe se faz de burra, mas de burra ela não tem nada. Eu não sabia se era um elogio ou uma ofensa à sogra. Leonardo falava alto, já dentro do vagão. E Laura, apesar de grande, era discreta. Mesmo próxima a mim, eu não conseguia ouvir o som da sua voz. Da Carioca até a Afonso Pena eles não ficaram em silêncio em nenhum momento, mas eu só ouvia as falas do Leonardo, que tinha um adjetivo para cada membro da família de Laura. - Seu irmão sim. Até hoje não engoli. Ele pensa que é quem? Depois é que eu vi que ele é um bandido e não quis me meter. Laura colocava as mãos no peito de Leonardo, sutilmente pedindo que falasse mais baixo. Ela não s...