Postagens

Mostrando postagens de abril, 2013

Era uma velhinha...

Imagem
Eu não sei seu nome. Nem perguntei. Não importa pra este conto. Nem pro nosso encontro. Fui à praia sozinha. Encontrei uma amiga por lá, depois; mas, na ida, no caminho, no encontro com meu lugar sagrado, eu estava só.  Eu moro no início de Copacabana, e vou a praia no Leme. Então, é uma pequena caminhada, pelo calçadão, olhando as pessoas, o mar, as crianças, os cachorros... Olho tudo, menos os carros. (rs) Nossa personagem era magra, bem magra. Devia beirar os 70 anos. Vestia um shortinho de pano, deixando suas pernas brancas bezuntadas de protetor solar de fora, e uma camisetinha, combinando. Uma sapatilha branca, de pano, velhinha, compunha o conjunto.  Tinha um olhar sorridente (embora não sorrisse), contemplativo. Parecia sozinha, sentada numa cadeira de rodas, na beirada do calçadão (a beirada mais próxima da areia). Percebi, a alguns metros, alguém semelhante a uma enfermeira. Uma moça mulata, baixinha, magrinha, pouco sorridente, comprando um coco.  Não pude dei

Um ano se passou

Imagem
Meu tio – sábia pessoa – me diz que quando a gente fala do outro – para o outro – a gente fala da gente mesmo.  Há quem ache que esta carta é para AnaZ. Desculpa te decepcionar: ela não vai ler. Eu vou ler. Nós vamos. Então, apesar de endereçada a ela, é uma carta pra gente mesmo. Pra mim, pra você, pra quem quiser ler (ou não). Nada ficou a ser dito, AnaZ. Embora eu ache que sim; eu também acho que não. Muitos perdões. Muitos obrigadas. Muitos te perdôo. Muitos te amo. Ou minutos mais cedo – ah, se eu tivesse sido mais rápida naquela manhã de sábado – eu teria pego você, ainda, com um ultimo sopro de vida. Mas eu cheguei, e você já tinha ido.  Enfim, depois de quase 2 anos lutando com uma doença ingrata, você se permitiu perder o controle mesmo. Não, a gente não sabe como é ficar 2 anos quase ininterruptos sem respirar, entubada, vivendo e dependendo de um oxigênio artificial para (SOBRE)viver. Não, a gente não sabe como é ficar numa cama de hospital, consciente ou

Beto

Eu conheci Beto no ônibus do metrô, no trajeto Botafogo - PUC.  Acho que era a primeira vez que fazia este trajeto, neste horário. O ônibus estava cheio, a fila estava grande, mas eu encarei (o trânsito) ir em pé. Por acaso, parei na sua frente. Na frente de Beto, digo.  Vou contar a sua história antes do (curto) trajeto da viagem, que nos conhecemos. Beto tinha 33 anos, e morava no Humaitá, com os pais.  Seus pais sempre foram bem-sucedidos. Sua mãe, professora de Filosofia de duas universidades. E seu pai, arquiteto e engenheiro civil (sim, ele tinha as duas formações). Ambos sempre educaram os três filhos homens - Humberto (o Beto), Rubens e Carlos - com muita educação e civilidade. Buscavam passar valores humanitários, de igualdade, e viviam à base do zero preconceito. Eram pais amorosos, que buscavam e propiciavam, aos filhos e às pessoas em geral, o máximo de liberdade e amor ao próximo. Nunca foram religiosos, mas sempre tiveram um viés espiritualista, guiado pe

Zulmira e a sua história

Essa história, embora não pareça, tem muito mais realidade do que pensamos. Eu conheci Zulmira, pessoalmente. Ela não sabe que eu sou psicóloga e nem que entrevisto pessoas. Mas ela me contou (pôde me contar) a sua história.  E eu senti que, por respeito à Zulmira, e à sua história, precisarei fotografá-la. Portanto, eis, a seguir, a sua história. Estive, hoje, no Shopping Leblon e fui almoçar com uma amiga, a Fernanda. Fernanda ia encontrar a Zulmira, uma conhecida de sua mãe, pra entregar algumas coisas à ela. Eu e Fernanda escolhemos nosso restaurante, fizemos o nosso prato, e sentamos em uma mesa, para 4 lugares. Fernanda já acabava a sua refeição (e ainda precisava passar no banco), quando a Zulmira chegou. Eu, que comia mais lentamente, ainda demorei um pouco mais. - Oi tia Zulmira! Tá boa? - Tudo bem, querida, e você? - Tudo ótimo. Essa aqui é a Lu, minha amiga. - Oi Lu, prazer. - Oi Zulmira, prazer é meu, obrigada. - Você não vai almoçar, tia? - Não,

Miguel e Renata, na Lapa

Imagem
Eles se conheceram, ali, na nossa frente, num show de uma banda numa praça eclética da Lapa.  Ele, 30 anos, separado, era um homem bonito, apesar dos dreads. Tinha os olhos expressivos e grandes, uma sobrancelha bem delineada. Bem magro e não muito alto. Um olhar e uma voz o tornavam especialmente sedutor. Tinha recém chegado de Barcelona, e estava a três semanas no Rio de Janeiro, pela primeira vez. Trabalhava como fotógrafo pela Europa, já há alguns anos, mas sempre ganhando pouco para viver a vida que desejaria.  Juntou 20% do que recebia, todos os meses, e conseguiu acumular o equivalente a R$ 2 mil, para poder colocar uma mochila nas costas e vir para o Rio de Janeiro, conhecer a cidade. Se arranjar algum trabalho por aqui, vai ficando. Nessas três semanas, só tinha rolado um trabalho, onde ele ganhou R$ 150, que deu para passar a semana. Miguel estava hospedado num sobrado, na Lapa. Tipo aluguel de quarto, mas ele dividia o quarto com duas outras pessoas. Um rapaz