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Mostrando postagens de fevereiro, 2013

Isabela

Isabela entrou no ônibus junto comigo, na minha frente. Calça jeans, sapatos baixos, blusa larguinha, mochila preta. O ônibus já estava cheio quando entramos (Jacaré - Ipanema), ali na Presidente Vargas. Isabela ficou de pé, tal como eu, segurando a mochila de lado.  Por sorte, na frente dela, as duas moças sentadas saltaram, e Isabela logo se posicionou na janela. Ao seu lado, um rapaz por volta dos seus 45 anos. Ela deveria ter uns 32.  Assim que sentou e recostou, suspirou. Abriu a mochila vagarosamente, e tirou um livro e começou a lê-lo. Não consegui ver o título, nem se era técnico e/ou romance. Ela marcava o livro com uma lapiseira, em alguns momentos. Eu vim a observando, ao longo do trajeto, sem tirar o olho de Isabela. E ela, não tirava os olhos do livro. Ela era sozinha. Morava sozinha, no seu apartamento, recém comprado, no Bairro Peixoto, em Copacabana. Não era triste. Mas também não era feliz. Era, como dizia, "normal".  Sua mãe morrera

Ralph e Lucas

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Ralph foi criado por seu pai, um senhor de nacionalidade indefinida, muito machista. Sua mãe morreu no parto, de pré-eclâmpsia. Ele não sabia bem o que era isso, mas sabia que a "sua velha Isa" tinha morrido pouco após dar a luz a ele. Desde cedo, Ralph gostou de mar, praia, sol e independeu-se muito novo. Aos 12 anos, já matava aula para surfar. - Que se foda essa porra toda. - dizia isso sempre, mesmo na tenra idade. Surfava sozinho, pelo menos 3 vezes por semana. A prancha era emprestada dos surfistas que ficavam por ali, em Ipanema, onde morava com o pai.  Aprendeu a nadar no mar. Conheceu seus amigos no mar. Aprendeu a sentir o sol, o vento, a temperatura, a velocidade no mar.  Como era esperto e bom aluno, acabava sempre passando de ano, pois estudava na véspera e acabava tirando a nota necessária para passar. Seu pai, um tanto quanto ausente, não educava nem ensinava sobre a vida para o pequeno Ralph. Desde novo, sempre fora machis

Alessandra e Francisca

Estava eu, no metrô, indo pra algum lugar que não lembro mais. Vi Alessandra, 17 anos; e Francisca, 40, sua mãe. Moravam na Pavuna, e estavam na linha 2, de tarde, voltando pra casa, em pleno sábado. Francisca é empregada doméstica. Trabalha na casa da dona Marisa, em Ipanema, há mais de 10 anos. Alessandra termina o ensino médio e quer trabalhar como recepcionista, mas nunca trabalhou ainda. "Preciso apenas de uma oportunidade pra mostrar o meu potencial". E tinha. Era uma boa menina, apesar de namoradeira, segundo a mãe. Ambas eram negras, magras. Alessandra, mais alta que a mãe. Francisca, no entanto, era mais forte que a filha. O mesmo olhar de jabuticaba aparecia nas duas.  O olhar das duas, triste, silencioso. Não se olhavam. Sequer conversavam. Havia, no entanto, cumplicidade. Uma silenciosa cumplicidade e amor. Muito amor. Alessandra conhecera João na festa da comunidade, e namoraram escondidos. Ele é mais velho. Ela, com 17, hoje, ele tem... 23.

Janete

O ônibus era o 455. Copacabana - Central. Sento lá atrás, sempre.  Só tinha lugar para sentar no corredor, do lado esquerdo. Do lado direito, vi Janete. Uma negra linda. Por volta dos 35 anos. Negra, bem gorda, cabelo solto, curto, alisado. Tinha duas bolsas. Uma, parecia uma pequena mala de viagem, e uma bolsa de mão, mas destas grandes, avantajadas. Estava, também, sentada no corredor (do lado direito), bem ao meu lado (do outro lado do corredor). Em geral, viajo silenciosa, lendo um livro (no momento, é "A grande arte"), ou fotografando as pessoas. Janete pediu para ser fotografada. Fechei o livro e... - Pois é, menina! Mas eu não te contei? Foi um escândalo... É, se lembra? Então, ela fez uma cara... É uma sonsa. Sonsa. É. Muito sonsa. Ela sabe que eu sei. Mas ela não diz nada. Faz aquela cara de santa. Naquele dia lá, lembra? Pois é. E aí, desde sempre é assim. Ninguém percebe. Mas eu sei. Ela não é boba. Ela se faz de boba. Mas a mim, é a gente. Não, não