Postagens

Mostrando postagens de fevereiro, 2014

Sexta-feira - véspera do Carnaval

O dia começou cedo, com bastante trabalho. Foi de 8h às 16h, direto. Neste intervalo, atendendo em consultório e convocando candidatos para entrevista (além de outras atividades muito prazerosas). No contato com candidatos, ouvi diversas vezes "Feliz Carnaval para a senhora". Eles mal sabem, mas eu sou muito grata pelas gentilezas que recebo. Finalizando o dia de trabalho, como há tempos não fazia, resolvi dar uma pequena corrida, no meu canto. Coloquei qualquer roupa e o tênis habitual de sempre. Descendo do elevador e procurando o porteiro para deixar minhas chaves na portaria, ouço, atrás de mim: - Vai caminhar, lindona? Olho pra trás, e lá está ele, com roupinha toda esporte também, banho tomado e cheiroso. - Vamos? Bora? Dei um abraço, apertado... - Nada. Hoje é dia de ficar em casa. Boa corrida. Você está linda! Corpaço! - E você é lindo! [Um doce pra quem adivinhar. Começa com Jean e termina com Wyllys. Sim, ele mora no meu prédio..

Em observação, no Clube do Conhecimento - 4

Hoje é sexta-feira. São 10h17.  Estou no Clube do Conhecimento, sentada na última mesa (mais encostada na parede), mais próxima da janela. Ao meu lado esquerdo, a Angela está sentada. Ela é branca, alta, magra, e tem cabelo curto, branco. Veste calça comprida preta, sapato vermelho, blusa vermelha. Está olhando para a sua esquerda, com os braços cruzados. Na minha frente, uma moça branca, baixa, magra, cabelo comprido, castanho, liso. Veste calça preta, blusa rosa. Olha algo para baixo. Olha para o palestrante. Coloca os cotovelos sobre a mesa, apóia a cabeça na mão. Olha para o palestrante. Coça a cabeça. Angela coça a nuca. Volta a cruzar os braços sobre a mesa. A menina da frente olha algo abaixo, na sua frente. Angela coça o rosto. Olha algo na mesa. Olha para o palestrante. A menina da frente ajeita o cabelo, e apóia a cabeça na mão. Angela apóia a cabeça na mão. Coça o braço. Apóia a cabeça na mão. - Muito preconceito... A menina da frente olha para a

Em observação, no consultório (Copacabana) - 11

Hoje é quinta-feira. São 11h28. Estou no consultório de Copacabana, aguardando a paciente de 11h que ainda não chegou. Por aqui, portas e janelas fechadas. O ar condicionado desligado. Tudo iluminado e silencioso. 11h33. Tocou a campainha. Paciente chegou.

Em observação, no consultório (Copacabana) - 10

Hoje é quarta-feira. São 19h58. Estou no consultório de Copacabana, sentada, na sala de atendimento. Por aqui, luzes acesas, portas e janelas fechadas, e ar condicionado ligado. Tudo silencioso, apenas com o barulho do ar ligado. O celular vibra. Notificação na agenda de 1h antes da paciente chegar. Volto ao silêncio, apenas com o barulho do ar condicionado ligado.

Espectadora

Eu sou eu. O outro é o outro. Qualquer outro. Você, ele ou qualquer um. E eu acho (só acho) que cada um é a sua melhor companhia. Estamos com o outro De vez em quando De vez em sempre Conosco, cada minuto (minuto?) dos nossos  Mais curtos E longos Dias Eu assisto o outro. Os outros. Você ou qualquer um. Sou uma espectadora / expectadora. De mim mesma. Do outro. Do amor. Do cuidado. Da proteção. Desproteção. Do afeto. Do desafeto. Do cuidado. Descuido. Eu sou Luana. Você é Augusto. André. Pedro. Ernesto.  Com nome próprio. Nome composto. Sobrenome. Ou sem nome nenhum. Você pode ter o nome que quiser. Ou nome nenhum. O inominável. Nem todo mundo precisa de diagnóstico. De DSM. De CID. De patologia. Mas todo mundo. Todo mundo. Eu, você, ele, qualquer um. Precisa, de verdade Verdadeiramente Apenas de si mesmo.

Djalma

Era um dia de semana. Hora do almoço.Talvez um pouco depois, umas 14h / 15h. Eles não me viram, mas eu os fotografei, com precisão. Um casal caminhava, lado-a-lado, de mãos dadas, conversando. Heviane e Djalma. Cerca de trinta-e-cinco anos. Conversavam, normalmente.  Na mesma calçada, em sentido oposto, vinha ele sozinho: Rafael. Cerca de 19, 20 anos. O olhar de Rafael cruzou com o de Djalma, por mais de seis segundos. Era este o tempo máximo de tolerância do moço. - Tá olhando o que, mermão? - Oi? - Que que tu tá olhando aqui? - Tava olhando pra tua mulher não, cara... - Tou falando da minha mulher não, rapá. É pra mim mesmo! Que que tu tá me olhando? - Sei lá, só olhei. - Eu sou quadro? - Oi? - Exposição? - Que? - Obra de arte? - Amorzinho? Djalma? Deixa o moço. Vambora... - Peraê, Viane. Quero saber aqui dele. Falaê, irmão. Desembucha. - Sei não, seu Djalma. - "Seu Djalma". Ficou íntimo agora o cara... - Moço, o senhor me desc

Em observação, no consultório (Centro) - 11

Hoje é quinta-feira. São 15h20. Estou no consultório do Centro, sentada, na poltrona da sala de atendimento, esperando a paciente de 15h30. Por aqui, portas e janelas fechadas. Tudo aceso. Apenas com o barulho do ar condicionado ligado. O celular bipa. E-mail que chegou. O celular toca. - Luana, boa tarde. Oi João Paulo, tudo, e você? Você é pra vaga de Vendedor, né? Dia 22, às 14h. Você pode anotar o endereço? Ih, João, eu tou fora do meu sistema agora. Você não tem como anotar? Rua Uruguaiana, ___. Isso,  ___ . Sala  ___ . Isso, dia 22, quarta-feira, às 14h. Tá ótimo, obrigada! Não esquece o seu curriculo! Tchau! Volto a ficar em silêncio, apenas com o barulho do ar condicionado ligado.

Sobre corpos

Queria dizer uma coisa, para vocês. Homens e mulheres. Hetero, homo, bi. Ou nenhuma destas opções. O corpo (o seu, o meu, o de qualquer um) é o que temos de mais sagrado Não converse com ninguém Tocando no corpo do outro O outro precisa te dizer No olhar Na voz No sorriso: "me toque" E não estou falando de sexo. Estou falando de dedos - ou mão Em qualquer parte do corpo do outro. Se você é hetero ou homossexual E deseja um outro, uma outra Que você desconheça E você canta essa pessoa na rua Ainda que seja a cantada mais bela Mais singela Mais fofa Uma cantada é sempre uma cantada. No meu caso, cantadas são sempre MAL CANTADAS MAL CONTADAS. Se você, ao cantar alguém Percebe a ausência de olhar A ausência de sorriso A ausência de qualquer-coisa para você Deixe ir. Simplesmente deixe ir. Não toque o corpo de outrem De alguém De ninguém. O único corpo que pode ser sempre tocado É o seu próprio

Em observação, na Alliage

Hoje é terça-feira. São 10h24. Estou na Alliage Consultoria de Rh, em uma recepção, aguardando ser atendida. Ao meu lado direito, uma porta que dá acesso às salas. Na minha frente, parte da recepção, onde as pessoas passam. Ao meu lado esquerdo, a candidata Natália. Ela é branca, alta, magra, e cabelo escuro, liso, comprido. Veste uma calça social preta, blusa social azul, sapato preto. Tem as pernas cruzadas, e a mão direita entre as pernas. A mão esquerda apoiada no braço do sofá. Lídia passa pela minha frente. Ela é alta, branca, magra, loira, cabelo curto e liso. Usa óculos. Veste um vestido preto e sapato alto, vermelho. Uma senhora passa ao meu lado. - Bom dia. - Bom dia. Uma senhora passa na minha frente. - Natália. - Oi. - Eu sou a Rosana, vamos lá. Natália levanta e ela e Rosana entram na porta a minha esquerda. Agora, ninguém ao meu lado direito, ao meu lado esquerdo e nem na minha frente.

Filho da Iara

[Diálogos reais, no domingo, no conforto do meu lar] O celular toca. Um número fixo, desconhecido. - Alô? - Iara? - Quer falar com quem? - Com a minha mãe. - Qual o nome da sua mãe? - Qual o seu nome? - Perguntei primeiro... - Minha mãe se chama Iara. E a sua? - A minha já morreu. - Pô, desculpe, dona. Lamento. Liguei engano. A senhora se chama Iara? - Não. - Desculpaê. - Tá tudo bem. - Tá. Boa noite. - Boa.  [A pessoa do outro lado era um menino de, no máximo, doze anos]. Dúvida 1. Ele não reconhece a voz da mãe? Dúvida 2. Por que ele perguntou o nome da minha mãe?

Em observação, no escritório do pai - 14

Hoje é quinta-feira. São 13h12. Estou no escritório do pai, na sala de reuniões, sentada à mesa, de frente para a mesa de reunião. Por aqui, portas e janelas fechadas. Luz acesa. Ar condicionado ligado. Na mesa de reuniões, Isabelle faz a redação. Ela é branca, magra, alta. É loira, tem o cabelo curto, liso, preso num rabo de cavalo. Veste calça jeans, blusa social preta. A bolsa bege, no seu colo. Uma mão pousada sobre a mesa e, a outra, escrevendo a redação. Tem uma ótima aparência e postura. Tem um piercing no nariz e uma tatuagem no colo que, com o decote da blusa, dá para visualizar parte dela. - Terminei. - Terminou? Vou te levar lá fora. Estou de volta, aqui. No mesmo local. Agora, sozinha. Tudo silencioso, apenas com o barulho do ar condicionado ligado.

Em observação, na Loreal - 3

Hoje é terça-feira. São 15h35. Estou na Loreal, na recepção, aguardando ser atendida. Estou sentada em um sofá, na beirada. Do meu lado direito, o braço do sofá e mais no extremo, a porta de entrada da Loreal, de vidro. Na minha frente, um (teoricamente) corredor, onde as pessoas passam. Do meu lado esquerdo, uma moça está sentada. É mulata, gordinha, cabelo encaracolado, comprido, molhado. Usa óculos. Veste um vestido cinza. Curto, e uma sandália bege. Tem um relógio verde fluorescente e tem papéis na mão. Uma moça passa na minha frente. É mulata, alta, gordinha, cabelo comprido, castanho, preso num rabo de cavalo. Veste um vestido estampado, curto, e uma sandália bege. A moça ao meu lado, agora, recostou-se no sofá. Pernas e braços cruzados. A moça mulata, alta passou novamente na minha frente. - A bolsa. A moça ao meu lado descruzou os braços e mexe nas unhas. - A porta do desespero. A moça ao meu lado cruzou os braços. Uma senhora sai da por

Frederico

Diálogos [reais] de Centro do Rio... Na frente do Edifício Avenida Central, indo comprar um lanche. Dois "camelôs", aqueles rapazes que vendem CD e DVD de jogos e programas... - E aí, major? O Frederico é gay, né? - Frederico? - É, Frederico, não é? - Que Frederico, maluco? - O filho daquele cara, o cego? - Cego? Caralho... - É, do cego e da ricona lá. Aquela loira, coroa. - Da novela? - É, cacete! Tá pensando que eu tou falando de quem, irmão? - Félix, mermão! Félix! Que mané de Frederico!!! - Ih, alá... O cara sabe até o nome do cara... - Tu é que falou errado, parceiro. - Mas Félix, Fred, é tudo parecido. - Tu falou Frederico, e não falou Fred não. - É que eu não prestenção.  - Prestenção então. Aí, rapá, a moça... deixa ela passar... Obrigada!

Em observação, no Itaú Cinemas

Hoje é sábado. São 15h37. Estou no Espaço Itaú de Cinemas, sentada no café, esperando o André. Estou sentada em uma mesa, sozinha. À minha esquerda, uma cadeira, com a minha mochila em cima. À minha direita, uma cadeira vazia. Na minha frente, uma espécie de corredor, onde as pessoas passam (da esquerda – onde é a rua -, para a direita – onde são as salas de cinema). Uma senhora passa ao meu lado direito. É branca, alta, magra, cabelo curto, avermelhado. Usa óculos escuros. Veste uma saia justa, preta, uma blusa preta, estampada e um sapato preto, baixo. Carrega uma bolsa preta. Um senhor passa ao meu lado direito. Um senhor passa ao meu lado direito. É branco, magro, baixo, cabelo preto, raspado. Um casal passa ao meu lado direito. O celular bipa. Whatsapp do Bernardo. Whatsapp do André.

Em observação, no consultório (Centro) - 10

Hoje é quinta-feira. São 14h50. Estou no consultório do Centro, sentada na recepção, esperando a paciente de 15h30. Estou ouvindo que estão atendendo lá dentro e, por isso, não sei em qual das salas está acontecendo o atendimento e não quis entrar, para não atrapalhar o atendimento alheio. Na recepção, ao meu lado esquerdo, um filtro e o som, e a porta de vidro, que dá acesso ao hall dos elevadores. Do meu lado direito, o corredor que dá acesso às salas. Na minha frente, um pequeno balcão, com uma cadeira. Por aqui, luzes acesas, portas fechadas e o som, do rádio, que ocupa o silêncio do local. Meu celular toca. - Luana, boa tarde. Oi, Carlos. Tudo. Isso, 249. Isso, do lado do colégio. É uma vila. Isso, 249. Isso mesmo. Nada. Tchau. Boa sorte. Volto para o som que toca, que ocupa o silêncio do local. Meu celular bipa. E-mail da Cinara. Volto para o som que toca, que ocupa o silêncio do local. Meu celular bipa. Whatsapp da paciente. Volto para o

Em observação, no Dr. Antonio Carlos

Hoje é terça-feira. São 8h36. Estou no consultório do doutor Antônio Carlos, sentada na recepção, aguardando a minha consulta (de 8h30). Ao meu lado direito, um balcão (onde é a recepção). Ao meu lado esquerdo, a minha mochila ao lado, no sofá. Na minha frente, uma porta aberta. A recepcionista passa pela porta, fecha a porta atrás de si, passa pela minha frente e entra no balcão (na recepção) e senta. Levanta-se. Liga o ar condicionado. Vai até lá dentro. Ela é branca, alta, tem o cabelo castanho, preso num coque. Veste calça jeans e blusa estampada e sandália baixa. Sai da recepção, passa pela porta e entra, deixando-a entreaberta. Sai dali novamente, fecha a porta atrás de si e entra num corredor. Vem até a recepção. Senta. Não consigo visualizá-la daqui pois o balcão é relativamente alto. Levanta e pega algo na mesa. Entra no corredor. Volta para a recepção. Sai da recepção, passa na minha frente e entra na porta que tem a minha frente, deixando-a aberta. Sai da porta,

Em observação, nas Barcas

Hoje é domingo, são 11h18. Estou na estação das Barcas, em Niterói, na Praça Araribóia. Estou sentada em um banco, na beirada do banco. Ao meu lado direito, uma lata de lixo. Na minha frente, ninguém. Ao meu lado esquerdo, mãe e filha. Ambas, mulatas e magras, do cabelo curto. A mãe veste short jeans branco e blusa sem manga verde e chinelo branco.. Olha a máquina fotográfica. Deve ter cerca de trinta anos. A filha veste short verde, de bolinhas, e parte de cima de um biquini rosa, de bolinhas brancas. Usa um chinelo rosa. - Eu ficava com uma cabeçona só. Né, mãe? Cabeçona só. Cabeçona só. Cabeçona só. Cabeçona só. - Bota o óculos. - Esqueceu, mãe? Já vai dar a hora. - Coloca a cabeça junto. A filha passa na minha frente. E passa de novo. - Olha mãe. Vai morar aqui? Tomei um susto, olha. - Vamos ver. - Mãe, eu queria ir. A filha passa na minha frente. E passa novamente. Filha e mãe passam na minha frente. A bolsa rosa delas permanece ao meu