Djalma
Era um dia de semana. Hora do almoço.Talvez um pouco depois, umas 14h / 15h. Eles não me viram, mas eu os fotografei, com precisão.
Um casal caminhava, lado-a-lado, de mãos dadas, conversando. Heviane e Djalma. Cerca de trinta-e-cinco anos. Conversavam, normalmente.
Na mesma calçada, em sentido oposto, vinha ele sozinho: Rafael. Cerca de 19, 20 anos.
O olhar de Rafael cruzou com o de Djalma, por mais de seis segundos. Era este o tempo máximo de tolerância do moço.
- Tá olhando o que, mermão?
- Oi?
- Que que tu tá olhando aqui?
- Tava olhando pra tua mulher não, cara...
- Tou falando da minha mulher não, rapá. É pra mim mesmo! Que que tu tá me olhando?
- Sei lá, só olhei.
- Eu sou quadro?
- Oi?
- Exposição?
- Que?
- Obra de arte?
- Amorzinho? Djalma? Deixa o moço. Vambora...
- Peraê, Viane. Quero saber aqui dele. Falaê, irmão. Desembucha.
- Sei não, seu Djalma.
- "Seu Djalma". Ficou íntimo agora o cara...
- Moço, o senhor me desculpe, viu? Eu só olhei, assim, rapidamente.
- Sete segundos não é rapidamente. Sete segundos a gente olha quadro na parede, exposição, obra de arte, essas porras. Mas tu me olhou rapidamente? Fala pra mim? Sete segundos é rapidamente?
- Sei não, seu Djal... seu senhor...
- Faz seguinte, cara. Vou te dar uma treta. Quando a gente olha pro outro, pra qualquer um, até pra mulherzinha na rua - se estiver sozinha, porque se olhar pra minha... - é três segundos, ouviu? Três segundos.
- Ouvi sim senhor. Três segundos.
- Isso. Conta um... dois... três... e desvia o olhar. Tá me entendendo?
- Tou. Tou entendendo o senhor.
- Valeu então. Segue teu rumo aí.
- Boa tarde pro senhor também.
- Tá me chamando de mal educado, mermão? Que caralho de "boa tarde pro senhor também" é essa agora? Eu te desejei boa tarde? Moleque abusado, cara... Vambora, Viane. Ficar dando papo pra moleque abusado no meio da rua assim não...
Eu vi Rafael cruzando a esquina. Uma moça bonita passou por ele. Ela olhou e sustentou o olhar, com um meio sorriso.
Pude ler seus lábios murmurantes: "um... dois... três..."
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