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Mostrando postagens de março, 2014

Em observação, no Levitate

Hoje é terça-feira. São 9h26. Estou na Levitate, na Barra, na recepção. Ao meu lado direito, parte do sofá onde estou sentada, vazio. Ao meu lado esquerdo, a porta de vidro, que dá acesso ao shopping. Na minha frente, uma outra cadeira, vazia. A recepção está vazia e silenciosa. O telefone toca. A recepcionista vem atender. - Levitate, bom dia. A gente abre às 9h. A duração é de 1h30 e é R$ 150. Isso. Tá bom, tudo bem. Nada, tchau, tchau. A recepcionista desliga o telefone. - Você aceita um café, uma água? - Não, obrigada. - Nada. A recepcionista sai. A recepção volta a ficar vazia e silenciosa. A recepcionista volta para a recepção e senta no seu local, atrás do balcão. Não consigo vê-la. Ela espirra. Tosse. Funga três vezes. Espirra. Funga 19 vezes. Digita no computador. Tosse duas vezes. Digita no computador. Dois rapazes entram na recepção. - Bom dia. - Bom dia. - Bom dia. Eu queria ver um pacote pra minha esposa,

Margot

Eu não conheci Margot pessoalmente, apesar de ter a sensação que sim. Fiquei sabendo dela através da grande amiga, que a fotografou pra mim. E eu, que gosto mais das palavras do que das imagens-impressas-frias-fotografias, fotografo Margot por aqui para que, você, leitor, possa dar a ela, o rosto que quiser. Vou me travestir da minha amiga - esta, sem nome - e fotografar Margot em primeira pessoa. Este conto, no entanto, foi escrito a quatro mãos.  ========================================== Esta era, ou parecia ser, uma viagem como todas as outras com meu marido. Viajamos por diferentes cidades e países, desconhecidos por mim, até então.  Alguns hotéis bons, agradáveis, limpos, cheirosos, arejados; outros, péssimos, parecendo motéis, daqueles de mal gosto: colcha roxa, cortina vermelha, com babados; tapete laranja; uns quadros horríveis na parede. O travesseiro, pelo menos, compensava o cenário tragicômico. Os hotéis, portanto, eram locais para dormir, nada mais. F

Em observação, no Ale Coiffeur

Hoje é sábado, são 10h10. Estou no salão Ale Coiffeur, em Copacabana, sentada na cadeira, esperando a Ana, manicure. Ao meu lado direito, uma cadeira vazia; ao meu lado esquerdo, outra cadeira vazia. Na minha frente, a cadeira da Ana, vazia. Por aqui, barulho das pessoas conversando e do secador de cabelo do Tony. A Ana passa na minha frente. Caio passa na minha frente. Damiana passa na minha frente. Lídia passa na minha frente. (...) Agora são 10h47.  Estou no mesmo local. A Ana, na minha frente, faz a minha unha do meu pé, em silêncio. Ao meu lado esquerdo, uma cadeira vazia. Ao meu lado direito, uma senhora está sentada. É branca, baixa, magra. Veste bermuda jeans, blusa rosa, chinelo preto. Tem o cabelo liso, curto, castanho escuro. Pinta a unha da mão, de vermelho. - Não, obrigada. Ela levanta-se. - É. Ela levanta e senta novamente. Atende o celular. - Oi. Tudo bom. É. Ah... Então tá. Tá bom. Tá. Obrigada. Dá um beijo nela a

Em observação, no consultório (Centro) - 12

Hoje é quinta-feira. São 8h24. Estou no consultório do Centro, sentada na poltrona, na sala de atendimento, esperando a paciente de 9h. Por aqui, porta e janela fechadas e luzes acesas. Tudo silencioso, apenas com o barulho do ar condicionado.

Em observação, no consultório (Copacabana) - 13

Hoje é quinta-feira. São 07h43. Estou no consultório de Copacabana, sentada, na sala de atendimento. Por aqui, luzes acesas, portas e janelas fechadas, e ar condicionado ligado. Tudo silencioso, apenas com o barulho do ar ligado. O celular bipa. Whatsapp da Lorena. Volto para o silêncio, apenas com o barulho do ar ligado. O celular bipa. Whatsapp da Lorena. Volto para o silêncio, apenas com o barulho do ar ligado. O celular bipa. Whatsapp da Lorena. Volto para o silêncio, apenas com o barulho do ar ligado.

Em observação, no Espaço da Mulher - 3

Hoje é quarta-feira. São 16h53. Estou no Espaço da Mulher, no Leblon. Está acontecendo o curso de auto-maquiagem e as mulheres estão sentadas, todas, no fundo da sala, conversando e assistindo aula. Estou em silêncio, trabalhando. Estou na minha mesa, na entrada do Espaço. Ninguém aos meus lados, nem na minha frente. - Ó, Luana, tão aqui perguntando porque você não quis se maquiar. - Porque eu tou aqui trabalhando... Volto a ficar em silêncio, trabalhando.

Em observação, na Cinelândia

Hoje é segunda-feira. São 10h28. Estou sentada num banco na Praça Cinelândia, esperando André e Marco. Ninguém ao meu lado direito nem ao meu lado esquerdo. As pessoas devem me achar meio doida, de estar com o notebook aberto, no meio de uma praça pública, no RJ.  O dia está ensolarado e barulhento. As pessoas passam por todos os lados do banco onde estou sentada.

Em observação, no Banco do Brasil

Hoje é sexta-feira. São 13h17. Estou no Banco do Brasil, dentro do Fórum, aguardando o atendimento. Ao meu lado direito, um pequeno corredor. Na minha frente, os caixas. Ao meu lado esquerdo, meu tio Nilson. Ele é branco, alto, magro, grisalho e barbado. Veste um sapato marrom, calça bege, blusa laranja. Ele tem blusa laranja. - Porra, até 100 mil reais recebe aqui. Porra... Não quero te dizer nada não, mas tá no 22 ainda, no mesmo número que a gente entrou. Ele está sentado, com a mochila sobre o colo e a mão na boca. - Imagina o pessoal que trabalha nisso o dia inteiro? Vendo número e resolvendo pepino? Uma senhora passa na minha frente. É alta, branca, loira, cabelo comprido, liso, preso num meio-rabo-de-cavalo. Veste saia preta, blusa estampada, bolsa preta e sapato preto. - Voce soube do cara que foi de saia trabalhar? Que homem não pode bermuda. Agora pode, né? A Luciana me falou, que agora foi pra recurso, né? Ela falou que as vezes é melhor, porque

Juliana e Nelson

- Oi amor, acho que achei seu presente. - É mesmo? Que legal. Na internet? - Sim. - Mas olha... não se preocupa... Meu presente é... - Não é preocupação. É amor. - Eu sei, eu também te... - ... É lindo! Preto! - Um tênis? - Tênis? Pode ser... Quinze dias depois. - Pronto, amor, presente decidido. - Ué, já não tinha decidido? - Tinha, mas são muitas opções, né? - Ah, sei, entendi. - E aí? - Pago amanhã. Dia seguinte: - Amor, paguei o presente! - Caraca. - No boleto. - Maneiro. - Chega em cinco dias úteis. - Rápido, né? - Cinco dias? Rápido? Úteis, ainda por cima? Marromeno, né? (Nelson ri). - É, mas o aniversário é final do mês. Hoje é dia oito. Dia oito. - Pois é. Mas vai que o presente não chega? Tipo Natal? Lembra? - Lembro. Mas tudo bem... Vai chegar sim... No mesmo dia do pagamento do boleto, na hora do almoço. E-mail: "Oi, boa tarde. Fiz o pagamento do boleto referente à mercadoria de código tal. Aguardo o

Em observação, no escritório do pai - 15

Hoje é quinta-feira. São 14h10. Estou no escritório do pai, sentada à mesa, em frente à mesa de reuniões. Ao meu lado esquerdo, ninguém. Ao meu lado direito (meio na minha frente), uma candidata faz a redação. O nome dela é Carla(*). Carla(*) é mulata, magra, tem o cabelo castanho, liso, preso num rabo de cavalo. Veste uma regata branca e está debruçada, sobre a mesa, escrevendo a redação. Tem as unhas pintadas de vermelho, um anel e pulseira dourados, um cordão dourado, e um brinco dourado. Está debruçada, sobre a mesa, escrevendo a redação. Coça o ombro. Volta a escrever a redação. Ajeita a bolsa sobre seu colo. Volta a escrever a redação.

Em observação, no Fórum

Hoje é sexta-feira. São 12h24. Estou no Fórum, no segundo andar, sentada em uma cadeira, na fila para o Banco do Brasil. Ao meu lado esquerdo, vazio. Ao meu lado direito, um senhor. É negro, alto, magro, careca. Veste calça preta e blusa social branca e cinza, listrada. Mexe no celular. Na minha frente, as pessoas passam para a direita e para a esquerda. Um senhor passa na minha frente. É branco, baixo. Uma senhora passa na minha frente. É negra. Uma senhora passa na minha frente. Um senhor passa na minha frente. Uma senhora passa na minha frente. O senhor ao meu lado coça a careca. E continua mexendo no celular. Uma senhora passa na minha frente. É branca, magra, baixa, loira. Uma senhora passa na minha frente. É branca, magra. Uma senhora passa na minha frente. É branca, magra. Um senhor passa na minha frente. Um senhor passa na minha frente. É mulato, gordo, alto, careca. Veste calça jeans e blusa polo listrada. Duas senho