Fotografando Gente

Hoje é domingo. São 09h12. Estou na Smart Fit, sentada na bicicleta. Ao meu lado direito, uma bicicleta vazia. Ao meu lado esquerdo, uma bicicleta vazia. Na minha frente, um corredor por onde as pessoas passam. Um homem passa na minha frente. Ele é branco, magro e baixo. Tem o cabelo castanho e curto. Veste bermuda preta e blusa verde. Uma mulher passa na minha frente. Um homem passa na minha frente. Uma mulher senta na bicicleta ao meu lado esquerdo. Ela é branca, gorda e alta. Tem o cabelo curto e castanho. Veste uma bermuda branca e blusa branca e florida. Usa uma sapatilha branca.

Hoje é sábado. São 11h12. Estou na Smart Fit. Um homem passa na minha frente carregando uma garrafa preta. Ele é branco, magro e baixo. Estou sentada na bicicleta. Uma mulher passa na minha frente carregando uma garrafa preta. Ela é branca, magra e alta. Ao meu lado direito, uma bicicleta vazia. Um homem passa na minha frente. Ele é branco. Ao meu lado esquerdo, uma bicicleta vazia. Na minha frente, um corredor por onde as pessoas passam. Um homem passa na minha frente carregando uma garrafa e um celular. Ele é branco, magro e alto. Tem o cabelo preto e curto. Veste bermuda cinza e blusa de malha verde. Um homem passa na minha frente carregando uma mochila preta da Nike. Ele é branco. Um homem passa na minha frente carregando panos. Um homem passa na minha frente carregando uma garrafa. Ele é branco, gordo. Um homem passa na minha frente. Um homem passa na minha frente carregando uma garrafa de metal. Um homem passa na minha frente. Um homem passa na minha frente. Uma mulher passa na m

Hoje é sexta-feira. São 17h37. Estou no ônibus 220, sentada. Ao meu lado direito, uma janela aberta. Ao meu lado esquerdo, um banco vazio. Na minha frente, um banco com sacolas e presentes.

Um homem passa na minha frente carregando uma mochila preta. Ele é negro, alto e magro. Tem o cabelo preto e curto. Hoje é quinta-feira. São 06h45. Estou na rua Uruguaiana, sentada. Ao meu lado direito, um banco vazio. Um homem passa na minha frente carregando uma sacola. Um homem passa na minha frente. Um homem passa na minha frente carregando uma mochila preta. Um homem passa na minha frente carregando uma mochila preta e uma sacola de pão. Uma mulher passa na minha frente. Um homem passa na minha frente. Um homem passa na minha frente carregando uma bolsa bege e um cigarro. Ele é branco e magro Uma mulher passa na minha frente. Uma mulher passa na minha frente. Um homem passa na minha frente carregando uma mochila marrom. Ele é branco, magro e alto. Veste uma blusa de malha vermelha. Ao meu lado esquerdo, um vão por onde as pessoas passam. Na minha frente, a calçada por onde as pessoas passam. Um homem passa na minha frente carregando uma mochila. Um homem passa na minha frente carr

Hoje é quarta-feira. São 18h45. Estou na rua Barão de Itapagipe, sentada na mureta. Um homem passa na minha frente carregando uma bolsa. Ao meu lado direito, um portão fechado. Ao meu lado esquerdo, uma mureta. Na minha frente, a calçada por onde as pessoas passam. Um homem passa na minha frente. Um menino passa na minha frente arrastando a mochila. Um homem passa na minha frente. Um homem passa na minha frente. Uma mulher passa na minha frente. Uma mulher passa na minha frente. Um homem passa na minha frente carregando uma mochila azul da Nike.

Hoje é terça-feira. São 06h14. Estou no ônibus 220, sentada. Ao meu lado direito, uma janela aberta. Ao meu lado esquerdo, um banco vazio. Na minha frente, um banco vazio.

Um homem passa na minha frente. Hoje é segunda-feira. Um homem passa na minha frente. Um homem passa na minha frente. Uma mulher passa na minha frente. Uma mulher passa na minha frente. São 18h44. Estou na Smart Fit. Um homem passa na minha frente carregando uma garrafa. Ele é branco, magro e alto. Um homem passa na minha frente. Estou sentada na bicicleta. Ao meu lado direito, uma bicicleta vazia. Ao meu lado esquerdo, uma bicicleta vazia. Na minha frente, um corredor por onde as pessoas passam. Um homem senta na bicicleta ao meu lado esquerdo.

Hoje é domingo. Um homem passa na minha frente. Um homem passa na minha frente. São 08h36. Estou na Smart Fit, sentada na bicicleta. Ao meu lado direito, uma bicicleta vazia. Um homem passa na minha frente carregando um pano. Ele é negro, magro e alto. É careca. Ao meu lado esquerdo, uma bicicleta vazia. Um homem passa na minha frente. Ele é branco, gordo e alto. O celular bipa. WhatsApp da Dora. Na minha frente, um corredor por onde as pessoas passam. Uma mulher passa na minha frente carregando uma mochila cinza e um celular. Ela é branca, magra e baixa. Uma mulher passa na minha frente carregando uma mochila preta da Adidas e um celular. Uma mulher passa na minha frente. Um homem passa na minha frente. Um homem passa na minha frente carregando uma mochila preta da Nike. Uma mulher passa na minha frente carregando uma mochila preta. O celular bipa. WhatsApp da Dora. Um homem passa na minha frente. Uma mulher passa na minha frente. Um homem passa na minha frente. O celular bipa. WhatsA

Hoje é sábado. Um homem passa na minha frente. Uma mulher passa na minha frente. Um homem passa na minha frente. São 10h44. Estou na Smart Fit, sentada na cadeira de massagem. Ao meu lado direito, um bebedouro. Ao meu lado esquerdo, uma cadeira de massagem vazia. Uma mulher passa na minha frente. Um homem passa na minha frente carregando um celular. Ele é negro. Uma mulher passa na minha frente carregando uma garrafa. Ela senta na cadeira de massagem do meu lado esquerdo.  Na minha frente, um corredor por onde as pessoas passam.

- Oi Adriano. Bom dia. Tudo bem? Hoje é sexta-feira. São 09h13. Estou no táxi, sentada. Ao meu lado direito, porta e janela fechadas. Ao meu lado esquerdo, um banco vazio. Na minha frente, um banco vazio. O celular bipa. WhatsApp do Paulo. Bipa novamente. WhatsApp do André. O celular toca. - Alô? Pois não? Quem quer falar com ele? Oi Anderson, ele faleceu no dia primeiro de novembro. Pode ser a esposa dele, Margaret. Você quer o telefone dela? Pode anotar? Margaret. Por nada.

Hoje é quinta-feira  São 06h18. Estou no ônibus 220, sentada. Ao meu lado direito, uma janela aberta. Ao meu lado esquerdo, um banco vazio. Na minha frente, a catraca por onde as pessoas entram no ônibus.

Hoje é quarta-feira. São 11h38. Estou no Infnet, sentada à mesa, no DPED. Ao meu lado direito, um vão por onde as pessoas passam. Ao meu lado esquerdo, uma lixeira e um vão por onde as pessoas passam. Na minha frente, a mesa do Ciro com dois monitores em cima. O computador bipa. Microsoft Teams da Mariana. Bipa novamente. Microsoft Teams do Leonardo. Bipa novamente. Microsoft Teams do Pedro Gabriel. Bipa novamente. Microsoft Teams da Mariana. Bipa novamente. Microsoft Teams do Pedro Gabriel. Bipa novamente. Microsoft Teams da Mariana. Bipa novamente. Microsoft Teams do Leonardo. Bipa novamente. Workchat da Erika. Bipa novamente. Microsoft Teams do Leonardo. Bipa novamente. Microsoft Teams da Mariana. Bipa novamente. Microsoft Teams do Leonardo. Bipa novamente. Microsoft Teams da Mariana. Bipa novamente. Microsoft Teams do Leonardo. Bipa novamente. Microsoft Teams da Mariana. Bipa novamente. Microsoft Teams do Leonardo.

(Escrito em 03 de novembro de 2022)   Tem um moço que diz que a gente não perde as pessoas. Mas foi este o verbo que me veio ao escrever este textinho.   Seu Luiz já vinha tratando do câncer há dois anos. E estava muito emagrecido, como dizem os médicos, e Gaeth resolveu levá-lo na emergência. Ficou no CTI por uma semana. E no total de internação, 21 dias. Diariamente, ou quase, eu ia visitá-lo na minha hora de almoço. Assim, correndo, como me é peculiar, pra dar um beijinho. E, aos finais de semana, eu passava o sábado e o domingo com ele quase o dia todo, pra Gaeth poder descansar. Este tempo junto aos finais de semana era valioso. Eu ria, brincava, lia, via TV e ajudava a cuidar do meu velho, junto com a equipe de enfermagem. Entre banho, troca de fraldas, virada na cama, tinha até umas coçadinhas marotas que ele pedia. Sem contar os pequenos delírios, de “tira meu chinelo” ou “apaga a luz do corredor lá de fora” (que era o corredor do hospital).  Alguns momentos, pedia pra eu ficar

Hoje é domingo. São 09h06. Estou na Smart Fit, sentada na bicicleta. Ao meu lado direito, uma bicicleta vazia. Ao meu lado esquerdo, uma bicicleta vazia. Na minha frente, um corredor por onde as pessoas passam. Um homem passa na minha frente. Ele é branco, alto e magro. Um homem passa na minha  frente. Um homem passa na minha frente. Uma mulher passa na minha frente. Uma mulher passa na minha frente. Uma mulher passa na minha frente carregando uma bolsa branca. Um homem passa na minha frente carregando um celular. Um homem passa na minha frente. Um homem passa na minha frente. Uma mulher passa na minha frente. Um homem passa na minha frente. Ele é negro, magro e alto. É careca. Um homem passa na minha frente carregando um celular. Ele é branco, magro e alto. Tem o cabelo curto e preto. Veste uma blusa de malha preta. Usa bermuda cinza e tênis bege. Uma mulher passa na minha frente carregando uma mochila preta. Ela é negra, magra e alta. Tem o cabelo curto, crespo e cheio estilo black.

Hoje é sábado. São 10h30. Estou na Smart Fit, sentada na bicicleta. Ao meu lado direito, uma bicicleta vazia. Um homem passa na minha frente carregando uma mochila preta. Ao meu lado esquerdo, uma bicicleta vazia. Na minha frente, um corredor por onde as pessoas passam. Um homem passa na minha frente carregando um celular. Ele é branco, gordo e alto. Tem o cabelo curto e castanho. Um homem passa na minha frente carregando um celular. Um homem passa na minha frente. Um homem passa na minha frente carregando uma garrafa de metal. Ele é branco, magro e alto. Uma mulher passa na minha frente carregando uma garrafa. Um homem passa na minha frente. Um homem passa na minha frente. Uma mulher passa na minha frente. Uma mulher passa na minha frente. Um homem passa na minha frente. Uma mulher passa na minha frente. Um homem passa na minha frente. Um homem passa na minha frente carregando um celular e uma garrafa de metal. Uma mulher passa na minha frente carregando uma bolsa preta. Ela é branca,

Hoje é sexta-feira. São 07h49. Estou no Edifício Chopin, sentada na portaria. Ao meu lado direito, um banco vazio. Ao meu lado esquerdo, uma porta de vidro preto. Na minha frente, a portaria por onde as pessoas passam.

Hoje é quinta-feira. São 15h54. Estou no Infnet, sentada à mesa, no DPED. Ao meu lado direito, um vão por onde as pessoas passam. Ao meu lado esquerdo, uma lixeira e um vão por onde as pessoas passam. Na minha frente, a mesa do Ciro com dois monitores em cima. O computador bipa. Microsoft Teams do Luan Igor.

Hoje é quarta-feira. São 09h54. Estou no ônibus 415, sentada. Ao meu lado direito, um banco vazio. Ao meu lado esquerdo, uma janela aberta. Na minha frente, uma mulher sentada. Uma mulher senta ao meu lado direito. Carrega uma mochila e um celular Levanta e sai. Agora, ao meu lado direito, um banco vazio. A mulher sentada na minha frente, tem o cabelo castanho e liso. Olha para fora da janela. Um homem senta ao meu lado direito carregando uma bolsa preta e um celular.

(Escrito em 30 de julho de 2022)   Eu estava entrando no metrô, quando vi uma moça sentada. O vagão, era daqueles modelos antigos, com bancos de dois lugares, um na frente do outro. Uma moça estava sentada na beirada do banco, na direção do corredor. A pessoa que estava sentada na janela saltou e ela se arrastou para sentar próximo a janela. Descobri que um senhor, sentado próximo a ela, estava com ela, pois tentava dialogar com ela. Ambos sussurravam. Ela, mais ainda.   Eu sentei ao seu lado, no banco do corredor e não pude ouvir o som da sua voz. Não sabia se era grave, aguda, impaciente ou amorosa. Ela apenas sussurrava e respondia, com monossílabos, o que o senhor perguntava. Ela sentia dor. Além das físicas, também as emocionais. Olhei bem pra ela, tentando encontrar os olhos, que fugiam de mim e disse: "posso te ajudar?" Ela fez que não com a cabeça e não emitiu som. Sequer olhou pra mim. Os olhos, voltados para baixo, e na direção da janela do vagão, olhando pro escur

Hoje é segunda-feira. O celular bipa. Notificação do Globo Play. São 15h50. - Não, obrigada. Estou no metrô, sentada no vagão. Ao meu lado direito, uma janela fechada. Ao meu lado esquerdo, um banco vazio. Na minha frente, um banco vazio.

Um homem passa na minha frente. Uma mulher passa na minha frente. Hoje é domingo. São 09h29. Estou na Smart Fit, sentada na cadeira da massagem. Ao meu lado direito, um bebedouro. Ao meu lado esquerdo, uma cadeira de massagem vazia. Na minha frente, um corredor por onde as pessoas passam. Uma mulher passa na minha frente. Um homem passa na minha frente carregando uma garrafa. Ele é branco, magro e baixo. Tem o cabelo curto e preto. Um homem passa na minha frente. Ele é branco, magro e alto. Tem o cabelo preto e curto. Uma mulher passa na minha frente carregando uma ecobag. Ela é branca, gorda e alta. Tem o cabelo castanho e cacheado. Um homem passa na minha frente. Uma mulher passa na minha frente carregando uma mochila preta. Ela é branca. Uma mulher passa na minha frente carregando chaves. Ela é branca, magra e alta. Tem o cabelo loiro, liso e preso num rabo de cavalo. Veste blusa regata rosa. Usa brinco de ouro. Um homem passa na minha frente. Ele é branco, magro e alto. Um homem pa

Hoje é sábado. São 18h42. Estou no Uber, sentada. Ao meu lado direito, porta e janela fechadas. Ao meu lado esquerdo, um banco vazio. Na minha frente, um banco vazio.

- Bom dia. Tudo bem e você? Isso, por favor. Hoje é sexta-feira. São 07h32. Estou no táxi, sentada. Ao meu lado direito, porta e janela fechadas. Ao meu lado esquerdo, um banco vazio. Na minha frente, um banco vazio.

Hoje é quinta-feira. São 10h49. Estou no ônibus 415, sentada. Ao meu lado direito, um banco vazio. O celular bipa. WhatsApp da Hanna. Ao meu lado esquerdo, uma janela aberta. Na minha frente, um vão onde as pessoas ficam e una mulher sentada. Ela é branca, magra. Tem o cabelo comprido, preto e liso. Veste uma calça jeans e blusa branca e sandálias preta. Usa máscara descartável branca. Mexe no cabelo. Um homem senta ao meu lado direito. Levanta e sai. Agora, ao meu lado direito, um banco vazio. Na minha frente, uma mulher está em pé. Ela é branca, gorda e alta. Tem o cabelo castanho, com luzes, liso e comprido preso em um rabo de cavalo. Veste calça jeans, blusa preta e sandália preta. Carrega uma bolsa preta. Usa uma pulseira de ouro no pulso esquerdo. Tem uma tatuagem escrita Wilson com uma coroa no braço esquerdo. Seu prendedor de cabelo é rosa. O celular bipa. Workchat da Erika. Um menino senta ao meu lado direito. Uma mulher senta com ele. Levantam e saem. Agora, ao meu lado direi

Hoje é quarta-feira. São 13:15. Estou na Smart Fit, sentada na bicicleta. Ao meu lado direito, uma bicicleta vazia. Ao meu lado esquerdo, um aparelho de remo vazio. Na minha frente, um vão por onde as pessoas passam. Um homem passa na minha frente carregando uma garrafa e uma corda azul. Ele é branco, gordo e alto. Tem o cabelo curto e castanho. Veste bermuda marrom e blusa marrom. Usa tênis preto e meias pretas. Um homem passa na minha frente. Ele é branco, magro e alto. Tem o cabelo preto e curto. Usa barba preta. Usa blusa cinza regata e bermuda preta.

(Escrito em 02 de dezembro de 2021)   Eu sou um homem. Casado. Um casal de filhos. Moro no Rio de Janeiro e tenho o mesmo emprego há muitos anos. Meu pai, que já se foi, deixou uma casa em Petrópolis, para onde vou com a família às vezes. A pandemia me permitiu trabalhar de lá, algumas vezes. Os filhos gostavam, a esposa também. O clima era mais ameno e a gente podia curtir aquela casa arejada e espaçosa.  A casa fica em um condomínio e, como gosto de caminhar, às vezes eu ia dar um passeio pelas ruas ao entorno, dentro do próprio condomínio.  Descubro, nos primeiros dias, que quatro ou cinco casas ao lado da nossa estava Chico. Sim, o Buarque. Cruzamos algumas vezes por nossas andanças e caminhadas e disse a ele o quanto o admirava, não só a ele pessoa, mas ao seu trabalho. Suas músicas, seus livros. E seu filme. Meus filhos, apesar de jovens, também ouvem seus discos comigo. Mencionei uma música ou outra, que fazia parte da trilha sonora do meu lar, e ele lembrava exatamente em que d

Hoje é segunda-feira. São 15h41. Estou no metrô, sentada na plataforma na estação Carioca. Ao meu lado direito, um banco vazio. Ao meu lado esquerdo, um banco vazio. Na minha frente, a plataforma por onde as pessoas passam.

Hoje é domingo. São 07h53. Estou na rua Haddock Lobo, sentada na mureta. Ao meu lado direito, um vão. Ao meu lado esquerdo, um vão. Na minha frente, uma escada por onde as pessoas passam. O celular bipa. Notificação da Samsung. Um homem passa na minha frente carregando uma mochila preta da Nike. Ele é negro, forte e alto. Um homem passa na minha frente carregando uma mochila preta. Ele é branco, magro e alto. Tem o cabelo curto e loiro. Veste bermuda preta, blusa regata preta e tênis azul marinho com meias pretas e brancas. Usa um fone de ouvido preto. Uma mulher passa ao meu lado esquerdo. Um homem passa na minha frente carregando uma mochila e um celular.

(Texto escrito em 02 de dezembro de 2021)   - Levo a chave? - Leva. Porque aí eu posso ficar aqui trancado.  - Quer que eu tranque você aqui, ao sair? - Quero. Eu fico bem aqui trancado.  Pego as chaves e guardo na bolsinha pra ir à rua. - Isso tudo de chave? - Sim. Dois trabalhos. Trabalho do pai. Minha casa. Casa do pai. Casa da sogra.  - Minha chave é isso aqui. Duas chaves. E tira duas chaves de dois compartimentos bem pequenos. Sem chaveiro. - Daqui. E da minha casa. Só.  - Pouco assim? - Também tenho a chave da casa da minha mãe, mas não ando com elas. E, por segurança, deixo em casa. - As minhas andam sempre comigo, todas elas. Em tempos de pandemia, trabalhar com o chefe, em uma sala grande, onde vivíamos 12 pessoas e hoje somos dois.    Onde temos as nossas próprias chaves e que um prefere trabalhar trancado (para poder respirar sem a máscara) e a outra prefere trabalhar com a porta aberta e escancarada. Prefere a máscara do que as portas fechadas. Em que um tem as chaves únic

Hoje é sábado. São 11h31. Estou no ônibus 220, sentada. Ao meu lado direito, uma janela aberta. Ao meu lado esquerdo, um banco vazio. Na minha frente, um homem sentado. Levanta e sai. Agora, na minha frente, um banco vazio. Uma mulher senta na minha frente. Levanta e sai. Agora, na minha frente, um banco vazio. Um homem senta na minha frente. Ele é branco. Tem o cabelo curto e branco. Veste uma blusa de malha branca. Olha para fora da janela. Usa óculos de grau de armação preta. Levanta e sai. Agora, na minha frente, um banco vazio. O celular bipa. Notificação do TikTok. Um homem senta ao meu lado esquerdo carregando uma mochila preta e um celular. Ele é branco e magro. Tem o cabelo preto e curto. Usa barba. Veste calça jeans e blusa cinza e sapato preto. Usa óculos de grau de armação preta. Levanta e sai. Agora, ao meu lado esquerdo, um banco vazio.