As nossas chaves

(Texto escrito em 02 de dezembro de 2021)
 
- Levo a chave?
- Leva. Porque aí eu posso ficar aqui trancado. 
- Quer que eu tranque você aqui, ao sair?
- Quero. Eu fico bem aqui trancado. 

Pego as chaves e guardo na bolsinha pra ir à rua.

- Isso tudo de chave?
- Sim. Dois trabalhos. Trabalho do pai. Minha casa. Casa do pai. Casa da sogra. 
- Minha chave é isso aqui. Duas chaves.

E tira duas chaves de dois compartimentos bem pequenos. Sem chaveiro.

- Daqui. E da minha casa. Só. 
- Pouco assim?
- Também tenho a chave da casa da minha mãe, mas não ando com elas. E, por segurança, deixo em casa.
- As minhas andam sempre comigo, todas elas.

Em tempos de pandemia, trabalhar com o chefe, em uma sala grande, onde vivíamos 12 pessoas e hoje somos dois. 
 
Onde temos as nossas próprias chaves e que um prefere trabalhar trancado (para poder respirar sem a máscara) e a outra prefere trabalhar com a porta aberta e escancarada. Prefere a máscara do que as portas fechadas.

Em que um tem as chaves únicas e sozinhas em compartimentos. E a outra tem um monte de chaves penduradas, com mil chaveiros que foi presenteada ao longo da vida. Um chaveiro que pesa na bolsa. 

Das descobertas das novas configurações das relações e dos objetos pessoais e valiosos de cada um. 

Sim, porque chaves abrem e fecham portas. Podem ser muitas, ou duas. Leves ou pesadas. E podem trancar e dar liberdade. Tranca a porta para respirar. Abre a porta para entrar e sair. Tranca a porta para viver a liberdade. Abre a porta pra não viver a solidão.

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Em observação, na Smart Fit - 161

Em observação, no salão Maria Bonita - 8

Em observação, no salão Maria Bonita - 17