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Mostrando postagens de dezembro, 2013

Tábata

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Estava no ônibus, em caminho indeterminado, quando a vi. Ela estava no ponto de ônibus, no Mergulhão da Praça XV.   Seu nome é Thabata, com Th no início mesmo. Ela não gostava muito do seu nome com o H, então, se a pessoa escrevesse errado, ela não corrigia. Neste caso, nós a chamaremos de Tábata, sem H.  No auge dos seus 19 anos, estudava Técnico em Edificações no CEFET, no Maracanã, e estava esperando o ônibus pra ir à escola, no último período do curso. Ela morava em São Gonçalo e pegava um ônibus até as Barcas da Praça XV. Dali, seguia direto para o local de sua aula.  No ponto de ônibus, avistei Tábata aos prantos. Com as lágrimas rolando, ela tirava e recolocava os óculos, em um movimento circular que parecia se dirigir ao infinito. Era um choro de raiva, mas indeciso. Ela chorava, parecia refletir e retomava a choradeira. A menina exibia um tremor por todo corpo. Sentava no meio-fio, balançava as pernas e cobria a cabeça com as duas mãos, como se estivesse se defende

Em observação, no Espaço da Mulher - 2

Hoje é terça-feira. São 18h. Estou no Espaço da Mulher, no Leblon, no Workshop da Alba, esperando começar. Estou sentada em uma mesa, bem próxima à entrada. Ao meu lado direito, parede. Na minha frente, a entrada do Espaço. Ao meu lado esquerdo, Fernanda está sentada. É branca, magra, baixa. Tem o cabelo escuro, e preso num coque. Veste calça jeans, blusa indiana, estampada, sapato bege claro, bolsa azul marinho sobre seu colo e mexe, séria, no celular. Agora são 20h. Estou no mesmo local. Sentada em uma mesa, próxima à entrada. Ninguém aos meus lados, nem na minha frente. Veronica vem e passa na minha frente. É branca, alta, meio gordinha, cabelo comprido, liso, loiro. Veste calça preta. Esther passa ao meu lado e pisca para mim. Conversamos um pouco. Agora são 20h16. Estou no mesmo local, assistindo a palestra da Alba. Fernanda está na minha frente, olhando para a palestra da Alba. Coçou as costas com a caneta. Pousou a caneta na mesa. Presta atenção n

Em observação, na Máxima Segurança do Trabalho

Hoje é segunda-feira. São 9h11. Estou na Máxima Segurança do Trabalho, em São Gonçalo. Estou em uma recepção grande, com várias cadeiras. Na minha frente, um balcão alto, com duas atendentes. Ao meu lado esquerdo, um pequeno corredor, onde as pessoas passam. Ao meu lado direito, um rapaz sentado. É alto, magro, negro. Tem o cabelo preto, curto. Veste calça jeans preta, blusa pólo verde, tênis preto e mochila cinza. Está conversando com uma moça ao seu lado direito. - Ele ia voltar lá? Não quis voltar na hora não? Só riu? Um rapaz passa no corredor, ao meu lado. - Mas não quis voltar não? O rapaz ao meu lado ri. - Acontece. Vou te falar, que parece tradição, tem que tomar um susto desse logo no começo, pra se acostumar. Eu sou do Rio, não sou de São Gonçalo não. Um senhor passa no corredor, ao meu lado. É branco, baixo, magro. Barbado e usa óculos. Um senhor passa no corredor. Uma senhora passa no corredor. Outro senhor passa no corredor. Outra senho

Muitas

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Eu nasci Luana. Luana Zanelli Moreira de Oliveira. E, antes de eu ser Luana Eu era “a neném” Como minha nave-espacial me chamava Antes de saber que eu era Uma menina sem cabelos (Até os dois anos) Ao longo da vida Fui ganhando outras denominações Luaninha, pelas tias Lu e Lulu, pelas amigas Tive a época de ser chamada de Xuxa pelo pai Muito antes da Xuxa iniciar a carreira Quando ela apareceu Voltei a ser Luana Alguns (poucos) amigos me chamam de Lua Meu segundo apelido preferido Minha mãe sempre me deu apelidos Eu era Luquinha Ou Luca Ou apenas Quinha Quinhazinha quando pedia favor Qui quando tinha preguiça (o que Qui remete à “Luana”?) E, só entre a gente, Luca-ra-caca Assim, falado tudo junto: Lucaracaca. Por mais estranho que possa parecer Eu amava todas estas denominações. A mãe morreu. Com ela, todos os meus apelidos. Luca, Luquinha, Quinha, Qui Eram (são) apelidos muito particulares E pessoa

Sobre os ovos

[Diálogos reais] Dia 24 de dezembro, cerca de 13h. - Luana, após o almoço você vai comprar ovo pra mim? Não comprei o suficiente. - Ué, estamos na Páscoa ou no Natal, irmão? - No Natal, mas maionese sem farofa não tem graça. - Ué, mas é ovo ou farinha? - Ovo. - Pra maionese ou pra farofa? - Pro jantar. Quer dizer, pra farofa. O André gosta de farofa? - Gosta. - Então, tá vendo? Compra o ovo, tá? Eu fui. 

Em observação, no consultório (Centro) - 8

Hoje é quinta-feira. São 15h20. Estou no consultório do Centro, sentada na poltrona, na sala de atendimento, esperando a paciente de 15h30. Por aqui, portas e janelas fechadas. Luz acesa. Estou no silêncio, apenas com o barulho do ar condicionado ligado.

Em observação, no consultório (Copacabana) - 7

Hoje é quarta-feira. São 12h53. Estou no consultório de Copacabana, sentada à mesa, na sala de atendimento, esperando a paciente de 13h. Por aqui, portas e janelas fechadas. Luz acesa. Ar condicionado ligado. Tudo silencioso, apenas com o barulho do ar ligado.

Em observação, no Estúdio Hanói

Hoje é terça-feira. São 22h04. Estou no Estudio Hanoi, em Botafogo. Está rolando, agora, a gravação do Colesterol – com André, Marco, Denise (e Laila) – entrevistando o Autoramas. Estou sentada em um sofá vinho. Na minha frente, ninguém. Aos meus lados, ninguém.  

Em observação, na BQ

Hoje é segunda-feira. São 18h54. Estou na BQ, sentada em uma cadeira, sozinha, no hall dos elevadores. Na minha frente, dois elevadores. Atrás de mim, a entrada da BQ. Um senhor sai do elevador e entra na BQ. O senhor retorna e senta ao meu lado esquerdo. Um senhor sai da BQ e fica no hall dos elevadores. Entra na BQ novamente. - Olha, a caneta não é minha. Peguei a caneta. O senhor sentado ao meu lado é moreno, baixo, magro e careca. Veste calça jeans, blusa cinza, tênis bege. Mexe na bolsa preta que está no seu colo. O senhor sai da BQ e chama o elevador e entra nele. O senhor sentado ao meu lado pega uma agenda na bolsa, e folheia. Ele respira com força. Um senhor sai do elevador e entra na BQ. O senhor sentado ao meu lado escreve algo na agenda. Um senhor sai da BQ e aguarda o elevador. É alto, meio gordinho, mulato. Tem o cabelo escuro, molhado e usa barba. Veste um uniforme da BQ e carrega um carrinho de mão. Murmura algo que não c

Ferdinando

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Estive com ele em uma consulta médica. Nem me lembro a especialidade. Nem importa. Fiquei compenetrada no bordado do seu bolso do jaleco branco: "Fernando Khoury" e o seu CRM, embaixo. - Diferente o seu sobrenome, doutor Fernando. Qual a origem? - Estou aqui te dando a receita, para tomar estas medicações. Volte em trinta dias. Se precisar, me ligue. Tem aqui os telefones. - Vejo que o senhor usa aliança. O sobrenome é seu ou da sua esposa? - Aquele outro remédio? Já acabou, ou precisa de mais receita? A consulta demorara exatos 7 minutos. Fernando não trocou um olhar sequer comigo. Fixava o olhar em parte-indefinida-do-meu-corpo, esperando (?) inspiração divina.  Fernando não sabe, mas eu sei bem da sua história. Eu sou boa em observar e investigar as pessoas. Apesar de investigativa, nunca usei isso contra ninguém; não usaria contra Ferdinando. Principalmente, o M de CRM, que não era de Medicina; era de Mentira. O distinto morava no Andaraí,

Em observação, no escritório do pai -- 11

Hoje é quinta-feira. São 12h25. Estou no escritório do pai, na sala de reuniões, sentada à mesa, esperando as candidatas de 12h. Por aqui, janelas e portas fechadas. Luzes acesas. Tudo silencioso, apenas o barulho do ar condicionado. Batem à porta. - Entra! - Chegou a Mayra. - Vou pegar já, Gaeth. Obrigada. Ela fecha a porta. Vou entrevistar. Agora são 12h59. Mesma coisa. Tudo silencioso, apenas o barulho do ar condicionado.

Em observação, no RB1

Hoje é terça-feira. São 13h43. Estou no auditório Guanabara, no RB1, no Centro, aguardando workshop. Estou sentada em uma mesa, com três lugares. Estou no local mais próximo à parede. Ao meu lado esquerdo, portanto, parede. Ao meu lado direito, uma cadeira vazia com a minha bolsa pousada. Na minha frente, uma mesa igual, com todos os três locais vazios. Por aqui, um som ambiente relaxante e as pessoas em silêncio. O celular bipa. E-mail da Cássia. Volto para o silêncio do local. O celular bipa. Outro e-mail da Cássia. Volto para o silêncio do local.

Imagem & Ação

O casal já se conhecia há algum tempo e namorava também, há algum tempo. Era sábado à noite e foram à casa de um casal de amigos dele. A moça do casal não conhecia ninguém. Exceto por um rapaz engraçado, estavam todos de casais.  Na TV, novela. Na mesa, comes e bebes. Vindo da cozinha, pela dona da casa, cerveja para os moços e moças. Já já ia ser feita a mini-pizza. A moça do casal estava na água e, depois, num gole de vinho. Os moços, todos na cerveja. Alguns, com energético. Não sei bem que horas veio, do quarto, o jogo Imagem & Ação, daqueles de mímica.  A moça do casal não conhecia ninguém, mas, como gosta muito do jogo (e descobriu que joga bem, apesar de não jogar há anos), já já estaria enturmada. Mas a fotografia do dia é para falar do moço do casal que, descobriu, não sabe jogar. Era a vez dele. - Qual o tema? - Difícil. - Para todos? - Para todos. - Pensa antes. Depois vira a ampulheta, quando for começar, ok? O rapaz