Fotografando Gente

Hoje é sábado. São 10h26. Estou no Uber, sentada.  Ao meu lado direito, porta e janela fechadas. Ao meu lado esquerdo, um banco vazio. Na minha frente, um banco vazio   - Boa tarde, Hélio. Bom dia. Desculpa. É, ali do lado do Norte Shopping, por favor. Tá mesmo. Um calorzinho bom. É mesmo. Eita. Caramba. Que horror. É mesmo. Tudo bem.  O celular bipa. WhatsApp da Ana. Bipa novamente. WhatsApp da Juliana. Bipa novamente. WhatsApp da Ana.  - Eita. 

Uma mulher passa na minha frente carregando uma sacola plástica.  Hoje é sexta-feira. São 13h24. Estou no Centro de Medicina Nuclear da Guanabara.  Uma mulher.  Um homem passa na minha frente carregando um bebê no colo. Estou sentada na recepção.  Ao meu lado direito, uma mochila preta em cima da cadeira verde. Ao meu lado esquerdo, um corredor.  Uma. - Boa tarde.  Uma mulher passa na minha frente carregando um papel. Ela é preta, alta e magra. Tem o cabelo preto, comprido e cacheado. Veste uma blusa amarela. Na minha frente, um corredor por onde as pessoas passam.  Uma mulher passa na minha frente. Ela é branca, magra e alta. Tem o cabelo loiro, comprido e cacheado. Usa máscara preta. Veste calça preta e blusa azul. Calça um sapato preto. Seu nome é Ana Paula. Passa novamente na minha frente carregando uma prancheta e a mochila preta.  Uma. Um. Uma. Um homem passa ao meu lado esquerdo. Ele é preto e tem o cabelo preto e curto.  Uma. Uma mulher.  Uma mulher passa ao meu lado esquerdo.

Hoje é quinta-feira.  Um homem desce na minha frente carregando uma mochila preta.  São 06h25. Estou no ônibus 415, sentada.  Ao meu lado direito, uma janela aberta. Ao meu lado esquerdo, um banco vazio. Na minha frente, a escada do ônibus por onde as pessoas descem. Um homem desce na minha frente carregando uma mochila cinza e preta. Uma mulher desce na minha frente carregando uma mochila colorida.  O celular bipa. Notificação da agenda.  Um homem desce na minha frente carregando uma bolsa cinza. Ele é negro, baixo e magro. Tem o cabelo grisalho. Veste bermuda bege. Um. Um. Um homem sobe na minha frente carregando uma sacola de balas e doces. Ele é negro, alto e magro. Tem o cabelo branco. 

Hoje é quarta-feira. São 06h23. Estou no ônibus 415, sentada.  Ao meu lado direito, uma janela aberta. Ao meu lado esquerdo, uma cadeira vazia. Na minha frente, uma mulher sentada. Ela é branca. Tem o cabelo castanho, preso em um rabo de cavalo. Veste uma blusa branca e preta estampada. Segura com a mão direita no banco da frente. Solta. Usa máscara descartável azul. Segura no banco da frente com a mão direita novamente. Solta.  Um homem sentado ao meu lado esquerdo carregando uma mochila vermelha. Levanta.  Agora, ao meu lado esquerdo, um banco vazio.  A mulher sentada na minha frente levanta e sai.  Agora, na minha frente, um banco vazio.  Uma mulher senta na minha frente.  Um homem senta ao meu lado esquerdo carregando uma mochila preta. 

- Entendi. É porque você estava demorando. Entendi. Hoje é segunda-feira. São 13h04. Estou no Uber, sentada  Ao meu lado direito, porta e janela fechadas. Ao meu lado esquerdo, um banco vazio. Na minha frente, um banco vazio.  O celular bipa. WhatsApp da Hanna.  - Eita. O celular bipa. WhatsApp da Paula. Bipa novamente. WhatsApp da Hanna. Bipa novamente. WhatsApp da Elaine.  - Flávio, aqui eu moro na esquina da rua do Matoso. O prédio de grades vermelhas. Sim, do lado direito. Quanto eu te devo, Flávio? Aqui. Muito obrigada. Deixa eu só pegar a minha chave? Muito obrigada. Fica com Deus.

Hoje é sábado. São 14h49. Estou no Norte Shopping, sentada na praça de alimentação do segundo piso. Ao meu lado direito, um banco com a mochila preta do André em cima. Ao meu lado esquerdo, umas plantas. Na minha frente, duas cadeiras vazias. - Tem gente. São só vocês duas? Então pode sentar aqui. Que aqui na frente é só a minha filha.  Uma mulher senta na minha frente. Ela é branca, magra. Tem o cabelo preto, comprido e liso. Veste uma blusa preta. Usa óculos e máscara preta. 

Hoje é sexta-feira. São 13h11. Estou no Centro de Medicina Nuclear da Guanabara, sentada no atendimento.  Ao meu lado direito, uma cadeira verde vazia. Ao meu lado esquerdo, um vão por onde as pessoas passam. Na minha frente, a mesa da atendente.  Uma mulher passa ao meu lado esquerdo. Ela é branca, magra e alta. O celular bipa. WhatsApp da Isys.  Uma mulher passa ao meu lado esquerdo carregando uma caixa vermelha.  - Tá. Vou olhar. Pera. 251266. Uma mulher passa ao meu lado esquerdo. Ela é negra, alta e gorda.  O celular bipa. SMS da Amil que chegou.  - Oi? 20261005. Barão de Itapagipe. Isso. 138. 406. Isso. Isso. Isso. Não ouvi. Tudo bem. 

- Boa tarde. É, por favor.  O celular bipa. Notificação do Uber.  Hoje é quinta-feira. São 14h10. Estou no Uber, sentada.  Ao meu lado direito, porta fechada e janela aberta. Ao meu lado esquerdo, um banco vazio. Na minha frente, um banco vazio. 

Hoje é quarta-feira. São 13h17. Estou no Uber, sentada.  Ao meu lado direito, porta fechada e janela aberta. Ao meu lado esquerdo, um banco vazio. Na minha frente, um banco vazio.  - Você é o Fábio? Tudo bem? Tudo ótimo.  O celular bipa. WhatsApp da Hanna.  - É. Eu também. Exato. Sim. Aparecer do passageiro, né? Sei. Você falou? Claro. Sei. Claro. Sei. Ah, é sim. Sei. Lá no alto. Sei. É, por favor. Ali, Fábio, do lado direito. De grades vermelhas. Aqui. Isso. Quanto eu te devo? Aqui, tá certo. Muito obrigada. Fica com Deus.

O celular bipa. Direct da Juliana. Hoje é segunda-feira. São 12h04. Estou na clinica Sensorium, sentada no consultório da dra. Letícia.  - Eita ferro. Tinha que ter trazido uma mala.

- Conseguiu. Na verdade não tem, né? Nós próximos. Cara, agora imagina o que vai ser esse verão, hein? Por que que eu sei? Eu olho. Meus amigos estavam organizando uma pelada, e escolheram o horário de 11h da manhã. Mas merdas acontecem. É. É.  Os caras escolheram o Batista. Ali subindo na rua Uruguai, por ali. Os caras são loucos. Não. Sujeito de mais de 40 anos, que não joga bola há um tempo. Eu não jogo há cinco anos. Não vou me meter a besta. É.  Hoje é sábado. - Eu também. Mas não jogo há cinco. Não sei o que é isso há cinco anos. - Aí... - O pessoal quer me colocar no desgaste. - Tadinho... coisa horrível. Nossa. Parece filme de terror. Eu sou penteado. 

Hoje é sexta-feira. São 12h55. Estou no Centro de Medicina Nuclear da Guanabara, sentada na recepção.  Ao meu lado direito, uma cadeira verde vazia.  O celular bipa. WhatsApp da Isys. Ao meu lado esquerdo, uma parede. Na minha frente, um homem sentado. Ele é branco, magro e tem o cabelo comprido e cacheado, castanho claro. Veste uma blusa azul. Usa óculos. Parece ler algo.  O celular bipa. WhatsApp da Isys.  O homem sentado na minha frente calça um tênis branco. Anota algo com uma caneta laranja. Cruza a perna. Tem um prendedor de cabelo verde no pulso esquerdo. Usa máscara preta. Coloca a mão na cintura. Coca a nuca.  O celular bipa. WhatsApp da Isys. 

Hoje é quarta-feira. São 12h40. O celular bipa. Notificação do Uber.  Estou no Uber, sentada.  Ao meu lado direito, porta fechada e janela aberta. Ao meu lado esquerdo, um banco vazio.  - Tudo bem, Renato? Muito obrigada. Tá bom. Muito obrigada. É.  Na minha frente, um banco vazio.  - Renato, eu coloquei número 56, mas vou ficar aqui nessa esquina. É. Pode. Quanto te devo? Aqui. Tira dez, por favor. Posso abrir aqui? Muito obrigada. Tchau. 

Hoje é quinta-feira. São 14h05. Estou no Condomínio do Edifício Santa Fé, sentada na portaria.  Ao meu lado direito, um vão por onde as pessoas passam. Ao meu lado esquerdo, um canteiro.  - Tchau, Francisco. Fica com Deus. Obrigada. 

Hoje é segunda-feira. São 11h40. Estou na clinica Sensorium, sentada na recepção.  Ao meu lado direito,  um corredor por onde as pessoas passam.  O celular bipa. WhatsApp da Viviane.  Ao meu lado esquerdo, uma cadeira preta vazia. Na minha frente, um corredor por onde as pessoas passam.  O celular bipa. WhatsApp da Viviane.  Uma mulher passa ao meu lado direito. Ela é branca, magra e alta e tem o cabelo castanho, liso e comprido. Carrega uma bolsa marrom de couro e um celular. Veste tênis preto, bermuda jeans, blusa de oncinha com manga 3/4. Usa anel e óculos. Usa máscara preta. Passa na minha frente.  Uma mulher passa na minha frente carregando duas sacolas de papel e uma mochila preta. - Chegou o token. 567720. Um homem.  Uma mulher passa na minha frente. Ela é branca, magra e alta e tem o cabelo castanho, liso e comprido. Carrega uma bolsa marrom de couro e um celular. Veste tênis preto, bermuda jeans, blusa de oncinha com manga 3/4. Usa anel e óculos. Usa máscara preta. Passa novam

- Bom dia. Tudo bem? Tenho. Só vou pegar uma coisa no prédio de uma amiga.  Hoje é sábado. São 11h31. Estou no Uber, sentada.  Ao meu lado direito, porta fechada e janela aberta. Ao meu lado esquerdo, um banco vazio. Na minha frente, um banco vazio.  O celular bipa. WhatsApp da Viviane. Bipa novamente. Notificação do Ifood.  - Não sei se tem como você entrar. Porque o prédio dela é esse aqui. Vai ter que dar uma voltona.  O celular bipa. WhatsApp da Viviane.  - Desculpa viu? Muito obrigada.  O celular bipa. WhatsApp da Viviane.

Hoje é sexta-feira. São 07h41. Estou no consultório Psicologia e Coaching, sentada à mesa.  O celular bipa. WhatsApp da Selma. Ao meu lado direito, uma porta aberta. Ao meu lado esquerdo, uma cadeira vazia. Na minha frente, uma cadeira vazia.  A campainha toca. Paciente que chegou. 

Hoje é quinta-feira. São 11h33. - Bom dia. Tudo bem? Tudo bom, graças a Deus.  O celular bipa. Notificação do Uber.  Estou no Uber, sentada.  Ao meu lado direito, porta e janela fechadas. Ao meu lado esquerdo, um banco vazio. Na minha frente, um banco vazio.  O celular bipa. WhatsApp da Marcia. Bipa novamente. Direct do André. Bipa novamente. Direct da Raquel. 

- Obrigada, Rodrigo.  O celular bipa. Notificação do Uber.  Hoje é segunda-feira. São 11h20. Estou no Uber, sentada. Ao meu lado direito, porta e janela fechadas. Ao meu lado esquerdo, um banco vazio. Na minha frente, um banco vazio.