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Mostrando postagens de junho, 2020

Sobre o encontro com Papai Noel

(Escrito em 15 de novembro de 2015) Em geral, saio do consultório próximo das 21:00h. E estou habituada, neste horário, a não encontrar com ninguém no elevador, quando desço. Então, devido ao cansaço e após o atendimento, a Luana-distraída tomava conta de mim. Ontem foi diferente. Entrei no elevador e lá tinha um homem grande, enorme,  e barrigudo, daquelas barrigas de vovô, velhinho. - Que susto... Eu só me dei conta dele depois que já estava dentro do elevador, com as portas fechadas. (O que é péssimo; só se dar conta da pessoa ali dois segundos depois). - ... não costumo encontrar ninguém neste horário... Ele deu uma risada gostosa. - Ainda mais o Papai Noel, não é? E aí é que eu fui olhar bem para ele. Tipo olho-no-olho. Devia beirar seus 60 ou 70 anos. Cabeça branca. Barba branca. Bem alto. Barrigudo. Calça social preta, blusa social branca. Suspensórios. De novo: suspensórios. Seus olhos sorriam.  (Anotem aí: crianças de suspensórios me matam

Marcela

(Escrito em 05 de novembro de 2015) Eu tinha quase 30 dias de empresa quando a conheci, na integração. "Você é que é a Luana? Luana Zanelli? Já ouvi falar muito bem de você". Uma menina doce, assim, sorrindo facilmente, meio falante, e com olhos cor do mar, sorria pra mim. Eu sorri tímida e disse só um "É...?", e tive o desejo imediato de ser amiga dela. Entre indas e vindas, e corredores, me mudei para a sala do lado da dela. E hoje - antes da mudança, aliás - nos tornamos amigas. Conheço ela, a mãe, a casa do namorado, o namorado, o pai, a mãe, a tia do namorado. Até a ex mulher do namorado. E os filhos do namorado. E conheço os seus desejos de viajar. E de ir. E voltar. E de ser livre. Outro dia, fomos tomar uma caipirinha, no final de um dia de trabalho, sem nenhuma programação. Já fomos almoçar, também, sem data marcada. É uma menina forte, e doce. E amorosa, e de riso fácil. E choro também. Gosto de ir à sala dela. Sempre peço

Francisco e Vicente

(Escrito em Junho de 2015) O cenário era o Centro do Rio, ali, perto da Carioca. O horário? Tipo quase 20h. Era uma quarta-feira. Dia de consultório. Um dia de Junho, num frio úmido bem ruim. Choveu de manhã torrencialmente, e as muitas poças d'água nas ruas faziam do frio um lugar gélido. Foi quando avistei Francisco. Naquele trecho da Rua Uruguaiana, bem no início (esquina com Rua da Carioca). Em frente ao prédio nº 10 da rua. Na calçada do meio, onde há aqueles bancos de cimento, Francisco tocava um instrumento (que descobri chamar-se escaleta). É uma corneta, acoplada num mini-teclado. Parecia um brinquedo de criança, mas não era, pois o som era bom e bem alto. Francisco, apesar dos seus 38 anos, morava com os pais, já bem idosos e aposentados do Banco do Brasil. Era sustentado por eles "porque não parava em emprego nenhum". Era um rapaz (sim, ele se chamava de "rapaz") triste. Queria ser músico. Era músico, diriam os amigos. "Mas eu nã