Postagens

Mostrando postagens de setembro, 2013

Em observação, no consultório (Centro)

Hoje é segunda-feira. São 16h57. Estou no consultório, no Centro, aguardando a paciente. Estou sentada no sofá. Estou sozinha e silenciosa. Apenas o barulho do ar condicionado interrompe o silêncio desta tarde. Meu celular bipa. É um email que chegou no gmail. Volto para o silêncio, com o pequeno barulho do ar condicionado. A campainha toca. Saio da sala de atendimento e vou abrir a porta. - Oi. - Oi. Tem lixo aí, doutora? - Um copinho só. – pego um copo no lixo da recepção e entrego a ele. - Obrigado. - Obrigada a você. Bom trabalho. - Obrigado, pra senhora também. Fecho a porta e volto para a sala de atendimento. Meu celular bipa. São duas mensagens do André no whatsapp. Volto para o silêncio, com o pequeno barulho do ar condicionado. Meu celular bipa. Mais uma linda mensagem de André, no whatsapp, que me deixa com os olhos marejados. Volto para o silêncio, com o pequeno barulho do ar condicionado. Meu celular bipa.

Armando e Isabela

Imagem
A praia, sempre a mesma. Mesmo canto. Mesmas amigas. Os mesmos habitués de Praia do Leme.  O mar, no entanto, não era o mesmo. Nesse dia, tinha um quê de agressivo.  Não gosto de chamar a natureza de "agressiva"; ou de dizer que "a natureza devolve o que fazemos com ela". Acho deveras determinista, ou fatalista, ou pessimista.  O mar, no entanto, não estava para peixe. No pouco tempo que ficamos na nosso canto, vimos três ou quatro afogamentos. Uma criança, inclusive, foi lambida pela onda do mar, bem na beiradinha. O salva-vidas (eu admiro estes profissionais) viu imediatamente na hora e conseguiu resgatar o pequeno antes que o mar o engolisse.  Mas este não é para contar do meu dia na praia, no mar. Mas, sim, para fotografá-los. Incrivelmente, apesar de tratar de pais-e-filhos, este conto não fala de mães. Como se o pai do conto é que estivesse, há anos atrás, grávido. O pai, Armando; a pequena, Isabela.  Ele, 37 anos; ela, três. Arman

Em observação, na Cortrel - 3

Hoje é quinta-feira. São 9h31. Estou na CORTREL, no Leblon, aguardando ser atendida para trocar o curativo do meu pé. Estou sentada na recepção, com cerca de outras 20 ou 30 pessoas. Estou em uma fileira de cadeiras. Do meu lado direito, não há ninguém. Do meu lado esquerdo, tem uma senhora de cerca de 65 anos. Veste calça preta, blusa estampada, branca, preta e verde, sandália preta. É alta, nem magra nem gorda. Tem o cabelo alorado, preso, e é bem bonita. Carrega uma bolsa beje. Sobre a bolsa, alguns papéis e a senha 040, para a fisioterapia. Abre a bolsa e mexe em algo dentro dela. Ela levantou do meu lado e trocou de lugar. Na minha frente, uma senhora de cerca de 70 anos. Usa calça jeans, blusa social verde água, sandália cinza, e bolsa cinza sobre seu colo. É magra, alta, loira, e usa óculos. Está lendo o Jornal O Globo. Dobrou o jornal e pôs em cima da bolsa. Pegou a bolsa, ajeitou no colo. Colocou o óculos preso na blusa e olhou para a televisão, presa na parede. T

Em observação, na Clínica Emílio Amorim

Hoje é terça-feira. São 10h15. Estou na recepção da Clínica Emílio Amorim, aguardando exame. Estou sentada em um canto da recepção, onde tem várias cadeiras e exatamente 17 pessoas aguardando, como eu, seus exames. Nas cadeiras exatamente à minha frente, não há ninguém. Do meu lado direito, três cadeiras vazias e, na quarta cadeira, um senhor. Na cadeira à minha esquerda, uma senhora no celular. - Uhum. Uhum. É. Eu acho. Mais prático, né? Uhum. Uhum. Tá. A Nanda é que não tá passando bem. Dor de barriga. Muita dor. A única coisa que eles tomaram igual foi um suco de fruta de conde. Só. É. Uma dor atravessada na barriga. Ele mandou ficar de olho, mandou receitar lá o Floratil. Não. Não vai e volta. É uma dor de cólica. Mas vamos ver. Estou de orelha em pé. Hã? Já dei entrada nos documentos e tou bebendo água. Estou aguardando, o médico está atrasado. Tá bom. Tá bem. Beijo, tchau. A senhora desliga o celular. Ela veste calça branca, blusa estampada, casaco verde, e s

Em observação, no COB - 3

Hoje é quinta-feira. São 11h18 e estou no COB – Centro Oftalmológico de Botafogo. Estou na recepção, aguardando ser atendida. São várias fileiras de cadeiras, com quatro cadeiras cada. Estou na terceira fileira de cadeiras, na cadeira mais próxima da parede. Na minha frente, não há ninguém: três cadeiras estão vazias. Do meu lado direito, tem parede. Do meu lado esquerdo tem uma moça sentada. Ela veste um vestido curto, preto, casaco marrom, sapatilha beje, bolsa marrom, que permanece no seu colo. Aparenta ter cerca de 36 anos. É branca, nem magra, nem gorda, cabelo curto, liso, avermelhado. Come uma barrinha de cereais e olha para a televisão. Tem as pernas cruzadas. Descruzou. Morde a barrinha de cereais. Tem as mãos pousadas sobre a bolsa. Olha para as pessoas que entram e saem da recepção da clinica (que fica à nossa esquerda). Olha para a televisão (na parede, na nossa frente). Morde a barrinha de cereais. Olha para as  pessoas que vão e vem. Morde e acaba com a barri

Em observação, na Cortrel - 2

Hoje é quinta-feira. São 10h02. Estou na Cortrel, no Leblon, para trocar meu curativo do pé. Estou na recepção, onde tem cerca de 30 pessoas, aguardando atendimento médico (de emergência e agendado) e fisioterapia. Estou sentada numa fileira de cadeiras, com 7 cadeiras. Na minha frente, todas as cadeiras estão com pessoas sentadas. Ao meu lado esquerdo, duas cadeiras vazias. Ao meu lado direito, duas cadeiras vazias. Exatamente na minha frente, uma senhora está sentada. Aparenta ter cerca de 60 ou 70 anos. Veste uma calça branca, blusa e casaco cinza, bolsa beje, escrito ITATIAIA, RIO DE JANEIRO e um tênis cinza. É japonesa, branca, baixinha e magrinha. Tem o cabelo liso e curto e usa óculos. Está com alguns papéis na mão e olha para o rapaz, ao seu lado. Olha para a frente. Ao meu lado direito, sentou uma senhora, que deve ter cerca de 40 anos. Usa calça preta, blusa branca, casaco estampado (lindo!) branco e preto, e sapatilha preta. Tem as unhas pintadas de um esmal

Em observação, no Sergio Franco - 2

Hoje é quinta-feira. São 6h48. Estou no Laboratório Sérgio Franco, no Leblon, em uma grande recepção, aguardando ser atendida. Estou sentada em uma fileira de cinco cadeiras. Na minha frente, um pequeno corredor que dá acesso a outras áreas do Laboratório e uma pequena área com quatro cabines de atendimento. À minha direita, uma cadeira vazia. À minha esquerda, idem. Um rapaz sai de um desses guichês. Veste jeans e blusa de manga comprida preta. Uma atendente sai de um desses guichês. - Flávio. Um rapaz entra no guichê com ela. Uma senhora passa pelo corredor, que fica à minha frente. - Luana Oliveira - Oi, estou indo. _______________ São 7h09. Ainda estou no mesmo Laboratório, só que, agora, em outra recepção. Do meu lado direito, um corredor, por onde as pessoas passam. Do meu lado esquerdo, quatro cadeiras vazias. Na minha frente, um arco com 12 cadeiras em semi-círculo. Estou sentada bem na entrada desta recepção, onde as pessoas passam e entr

Em observação, no escritório do pai

Hoje é quarta-feira, são 18h11. Estou no escritório do meu pai, no Centro, sozinha, esperando pelo meu namorado. Estou na sala de reunião (entre as duas salas), que foi usada por mim durante longos e bons meses (ou seriam anos?). Estou sentada em um sofá, com a perna esquerda para cima, em uma das cadeiras da mesa de reunião. A recepção e a sala do meu pai permanecem acesas, mas o escritório está vazio e silencioso. Na sala onde estou, a luz está apagada.  Prefiro o escuro, no silêncio. Ou o silêncio, no escuro? Acho mais coerente a ausência de luz e de som.  

Em observação, na Cortrel

Hoje é sexta-feira. São 14h12. Estou na CORTREL, no Leblon, em uma recepção interna, aguardando o raio-x. Atrás de mim, a sala de raio-x. Do meu lado esquerdo, elevador e escada. Do meu lado direito, a sala de gesso e imobilizações que está aberta e vazia. Na minha frente, uma senhora e um senhor, que não são um casal, pois estão separados, e não se olham nem se falam. Lá na frente, um corredor, com as salas de atendimento, e a porta que dá acesso à rua. - Boa tarde. É. Mas é dia, tudo bem. Na minha frente, a senhora, que deve ter cerca de 48 anos. Veste uma calça preta, estampada. - E ai, doentinho? Fez tudo? - Uhum. - Graças a Deus. - Luana? Vamos lá? - Vamos, vou só fechar aqui. Bati o raio-x e voltei para a mesma recepção que, agora, está vazia. As cadeiras do meu lado e da minha frente não têm absolutamente ninguém. Uma senhora passa por mim. Outra senhora passa por mim. Ambas descem as escadas, à minha esquerda. Uma moça passa por mim

Em observação, na Casa Rui Barbosa

Imagem
Hoje é sexta-feira. São 7h48. Estou na Casa de Rui Barbosa, em Botafogo, esperando o meu horário da nutricionista (às 8h) aqui na rua ao lado. [O segurança permitiu que eu ficasse, aqui, sentada nos bancos dos jardim, antes mesmo que a Casa abrisse, para "fazer hora"]. Estou sentada em um banco, desses de praça, logo na entrada da Casa, de frente para os jardins e de lado para a casa. À minha esquerda, a entrada da casa, na Rua São Clemente. Não vejo ninguém. Ninguém passa por aqui. Nenhum som, exceto o riacho que corre e me faz ouvir o barulho da água. O segurança passa por mim e tosse. Anda em direção aos fundos, onde tem uma guarita. Usa calça cinza, botina preta, casaco azul marinho escrito GRUPO CUERVO em branco. É alto, forte e não deve ter mais do que 40 anos. Um rapaz passa por mim. Usa calça jeans, casaco vermelho, tênis branco e mochila preta. Ele anda em direção aonde está o outro segurança. O silêncio e a solidão voltam a perpetuar neste lu

Em observação, no Centro Cultural Caravelas

Hoje é terça-feira. São 16h10. Estou no Centro Cultural Caravelas, aguardando ser atendida. Estou sentada em um sofá, na recepção. Do meu lado esquerdo, duas salas e a escada, que dá acesso aos outros andares, com salas também. Na minha frente, outro sofá e um aparador, com cartões e panfletos de profissionais. Do meu lado direito, a porta que dá acesso à rua, e a mesa da recepcionista, com uma senhora sentada. A senhora veste calça leging cinza, blusa cinza chumbo, casaco preto e bota cinza chumbo. Está chique e toda combinando. Usa óculos preto. É baixa, magra, tem o cabelo castanho escuro, um pouco crespo. Aparenta ter entre 50 e 60 anos. Está sentada, com a mão na boca, e mexe no laptop. Está zapeando no Facebook, bastante concentrada e sem se mover. Ela se levanta, anda pela minha frente e entra na copa, que tem ao meu lado esquerdo (abaixo da escada). Pega um copo plástico, se serve de café. Está de pé, de costas para mim, mexendo em algumas coisas que não consi

Em observação, no COB - 2

Hoje é terça-feira. São 15h02 e estou no COB – Centro Oftalmológico de Botafogo – aguardando ser atendida. Estou sentada na recepção, na primeira fileira de quatro fileiras. Cada fileira tem quatro cadeiras. Estou na cadeira mais próxima da parede. Do meu lado esquerdo, parede. Na minha frente, uma parede cor de terra com a TV ligada na Globo. Do meu lado esquerdo, um rapaz sentado ao meu lado. Uma cadeira vazia nos divide. Ele veste uma bermuda verde e preta, um tênis cinza e vermelho, uma blusa vermelha, branca e preta. Usa pochete preta, com o celular pendurado nela. Ele assiste televisão, e tem a mão na boca. Vejo que usa aliança, na mão que está na boca. Sua esposa está do seu outro lado e não consigo vê-la. Rói as unhas. Está sentado de forma relaxada. Não tira o olho da TV e, também, não se move. Parou de roer a unha. Coçou o rosto.     - Tem uma ótica ótima ali, ó. Abre um pouco mais a perna, e volta a olhar para a TV. - Sei lá. Não, não sei. Lá não? Se