Fotografando Gente

Hoje é quarta-feira. São 15h16. Estou no Hospital Casa Hospital de Câncer, sentada na recepção.  Ao meu lado direito, uma cadeira azul vazia. Ao meu lado esquerdo, um vão por onde as pessoas passam.  Uma mulher passa ao meu lado esquerdo carregando uma sacola.  Um homem passa ao meu lado. Agora estou sentada em outro local na recepção.  Ao meu lado direito, um banco vazio. Ao meu lado esquerdo, uma lata de lixo e um extintor de incêndio. Na minha frente, um corredor por onde as pessoas passam.  Um homem passa na minha frente. Ele é branco.  Uma mulher passa na minha frente carregando um celular.  - Aonde? Um homem passa na minha frente. É branco, magro. O celular bipa. WhatsApp da Viviane.  Um. Um. Uma. Uma mulher passa.  Uma mulher passa na.  Uma mulher passa na minha frente carregando uma bolsa.  Um homem.  Um. Um. Uma mulher passa na minha frente sentada em uma cadeira de rodas. Um homem passa na minha frente carregando uma. Uma mulher passa na minha frente carregando duas bolsas. 

Hoje é segunda-feira. São 11h09. Estou no Infnet, sentada à mesa no DPED. Ao meu lado direito, um vão por onde as pessoas passam. - Foi? Ao meu lado esquerdo, uma cadeira preta vazia.  - Foi? Na minha frente, uma mesa com computador e um monte de coisas em cima. - Deu, Luana!

Hoje é sábado. São 11h56. Estou no Uber, sentada.  - Tudo bem, Anderson? Tudo bem, graças a Deus.  Ao meu lado direito, porta fechada e janela aberta. Ao meu lado esquerdo, um banco vazio. Na minha frente, um banco vazio.  O celular bipa. WhatsApp da Viviane. 

- Bom dia. É, por favor.  O celular bipa. Notificação do Uber.  Hoje é sexta-feira. São 09h58. Estou no Uber, sentada.  Ao meu lado direito, porta fechada e janela aberta. Ao meu lado esquerdo, um banco vazio. Na minha frente, um banco vazio.  O celular bipa. Email da Posthaus que chegou. Bipa novamente. Notificação do Estante Virtual. Bipa novamente. Notificação da agenda. Bipa novamente. WhatsApp da Monalisa. Bipa novamente. WhatsApp do Matheus. Bipa novamente. WhatsApp da Isabel. Bipa novamente. WhatsApp da Viviane.  Isso. Ali na frente. Você tem cinco pra mim, por favor?

- Boa tarde. Você chegou tem muito tempo? É. É ali no Hospital Casa, no Hospital do Câncer.  Hoje é quinta-feira. São 12h35. Estou no Uber, sentada.  Ao meu lado direito, porta fechada e janela aberta. Ao meu lado esquerdo, minha bolsa em cima do banco. Na minha frente, um banco vazio.  - Aqui, ali na frente. Você tem 10 pra mim? Obrigada. Aqui. Não, tá certo!

Hoje é quarta-feira. São 15h10. Estou no Uber, sentada.  Ao meu lado esquerdo, um banco vazio. - Boa tarde.  Ao meu lado direito, porta fechada e janela aberta. Na minha frente, um banco vazio.  - Do lado esquerdo, por favor. Aqui. Muito obrigada. Fica com Deus.

Hoje é segunda-feira. São 11h00. Estou no Infnet, sentada no segundo andar.  Ao meu lado direito, um banco vazio. Ao meu lado esquerdo, um vão por onde as pessoas passam. Na minha frente, um vão por onde as pessoas passam.  Por aqui, luzes acesas e tudo vazio e silencioso. - Boa tarde! O celular bipa. WhatsApp da Luana. - Oi, Luana!

Hoje é sábado. São 07h58. Estou no Uber, sentada.  - Isso, por favor. É, por favor.  Ao meu lado direito, porta fechada e janela aberta. Ao meu lado esquerdo, um banco vazio. Na minha frente, um banco vazio.  O celular bipa. WhatsApp do marido. Bipa novamente. Email do Twitter que chegou. 

- Não, pode seguir reto. É.  O celular bipa. Email do Twitter que chegou.  Hoje é terça-feira. São 13h16. Estou no Uber, sentada.  Ao meu lado direito, porta fechada e janela aberta. Ao meu lado esquerdo, uma sacola verde com plantas em cima só banco. Na minha frente, um banco vazio.  - Eita. Fecharam a rua, né? E aqui não tem como ir pra esquerda? É.  O celular bipa. WhatsApp da Mariana, no grupo Outro.  - É, fica atravancado, né? Ah, tem razão.  O celular bipa. WhatsApp da Agatha. 

- Tudo bem, Elber? Bom dia.  O celular bipa. Notificação da agenda.  Hoje é segunda-feira. São 10h30. Estou no Uber, sentada.  Ao meu lado direito, porta fechada e janela aberta. Ao meu lado esquerdo, um banco vazio. Na minha frente, um banco vazio.  O celular bipa. WhatsApp da Débora. Bipa novamente. Despertador que toca. Bipa novamente. WhatsApp da Débora. Bipa novamente. Notificação do Ifood.  - Eu vou ficar na esquina da Treze de Maio, tá, Elber. Por favor. Pode sim, claro. Quanto eu te devo? Você tem dez? Porque aí eu te dou 24. Posso te encher de moedas? Posso abrir aqui? Muito obrigada. Fica com Deus.

O celular bipa. WhatsApp do Higor. Hoje é sábado. São 15h37. Estou no Uber.  Ao meu lado direito, porta e janela fechadas. Ao meu lado esquerdo, um banco vazio. Na minha frente, um banco vazio.  O celular bipa. WhatsApp do Higor. Bipa novamente. WhatsApp do André. Bipa novamente. WhatsApp do Higor. Bipa novamente. WhatsApp do André. Bipa novamente. WhatsApp do Higor. Bipa novamente. WhatsApp do André. Bipa novamente. WhatsApp do Higor. 

Hoje é terça-feira. São 11h00. O celular bipa. Notificação de compromisso da agenda. Estou no Infnet, sentada no segundo andar.  Ao meu lado direito, uma porta de vidro. Ao meu lado esquerdo, um banco vazio. Na minha frente, um vão por onde as pessoas passam (o hall dos elevadores). - Fala, Rô. 

Hoje é sábado.  - Bom dia. Tudo bem? Tudo bem, graças a Deus. Isso. Eu só vou deixar isso na casa de uma amiga, na portaria, e depois a gente segue.  São 11h49. Estou no Uber, sentada.  Ao meu lado direito, porta fechada e janela aberta. Ao meu lado esquerdo, um banco vazio. Na minha frente, um banco vazio. 

Hoje é terça-feira. São 10h44. Estou no Infnet, sentada no segundo andar.  Ao meu lado direito, um banco com minha sacola em cima. Ao meu lado esquerdo, uma porta fechada. Na minha frente, um vão por onde as pessoas passam.  Por aqui, luzes apagadas.  - Oi, Andréa!