Marcela

(Escrito em 05 de novembro de 2015)

Eu tinha quase 30 dias de empresa quando a conheci, na integração.

"Você é que é a Luana? Luana Zanelli? Já ouvi falar muito bem de você".

Uma menina doce, assim, sorrindo facilmente, meio falante, e com olhos cor do mar, sorria pra mim.

Eu sorri tímida e disse só um "É...?", e tive o desejo imediato de ser amiga dela.

Entre indas e vindas, e corredores, me mudei para a sala do lado da dela. E hoje - antes da mudança, aliás - nos tornamos amigas.

Conheço ela, a mãe, a casa do namorado, o namorado, o pai, a mãe, a tia do namorado. Até a ex mulher do namorado. E os filhos do namorado. E conheço os seus desejos de viajar. E de ir. E voltar. E de ser livre.

Outro dia, fomos tomar uma caipirinha, no final de um dia de trabalho, sem nenhuma programação. Já fomos almoçar, também, sem data marcada.

É uma menina forte, e doce. E amorosa, e de riso fácil. E choro também.

Gosto de ir à sala dela. Sempre peço licença. Aquele trinco na porta - nunca trancado pra mim - pede que eu peça licença. E eu sou obediente (nem sempre, tá bom).

Hoje, seus olhos por trás dos óculos, não estavam felizes. Dividiu um chocolate comigo. 

Tá tudo bem?, perguntei.

Vamos tomar uma água ali fora, ela pediu. 

Eu, obediente, fui. 

E ela me contou. Precisou demitir uma pessoa, uma vez na vida. Um pai de recém nascido, cuja esposa, sem emprego, tinha contas para pagar.

E, conversando com uma colega de trabalho, descobriu um profissional não tão competente, mas que (sobre)vive com R$ 12 por dia. A única refeição que ele pode comer custa R$ 12. Em 24 horas de dia, acordado ou dormindo, o que ele come custa 12 reais.

E aí, mais do que solidariedade. Mais do que amor. Mais do que qualquer outra coisa, vi ela chorar. Chorar pela dor do outro. Ali, do lado do bebedouro, da água limpa que tínhamos para beber. 

Dentro dela, da sua liberdade, dos seus grandes olhos azuis desejosos pelo mundo, doía a dor do outro. A miséria de quem está tão longe dela, mas tão perto.

O meu desejo é pegar cem reais e colocar em um envelope anônimo, na mesa, para ele, disse a menina dos olhos claros. 

Não precisaria dizer que era ela. Seria até melhor que ninguém mesmo soubesse que seria dela. Seria dele, mesmo. 

Mas o amor... Ah, o amor, este não é anônimo. 

E descobri gente da sua vida, com nomes e sobrenomes de mães e pais, que ensinam a ela sobre amor. E que ensina a mim sobre amor, também.

E penso que os cem reais que deixa no envelope não são só os cem reais. São todo o amor que você tem para dar para alguém que nem precisa saber que é seu. Porque amor é isso mesmo: é livre. É fluido. É tipo a água do mar. É tipo aquela conta que não bate, da infância. É tipo aquela foto, junto com a foto da família, na estante.

Que eu possa aprender ainda mais com você, minha amiga. Você é uma profissional e uma pessoa foda.

Que eu possa aprender com a sua doçura. E com todo o amor que você disponibiliza para tanta gente, e que nem precisa saber que vem de você. Eu sei que vem de você. E sou-lhe muito grata por isso.

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