Juliana e Nelson

- Oi amor, acho que achei seu presente.
- É mesmo? Que legal. Na internet?
- Sim.
- Mas olha... não se preocupa... Meu presente é...
- Não é preocupação. É amor.
- Eu sei, eu também te...
- ... É lindo! Preto!
- Um tênis?
- Tênis? Pode ser...

Quinze dias depois.

- Pronto, amor, presente decidido.
- Ué, já não tinha decidido?
- Tinha, mas são muitas opções, né?
- Ah, sei, entendi.
- E aí?
- Pago amanhã.

Dia seguinte:

- Amor, paguei o presente!
- Caraca.
- No boleto.
- Maneiro.
- Chega em cinco dias úteis.
- Rápido, né?
- Cinco dias? Rápido? Úteis, ainda por cima? Marromeno, né?
(Nelson ri).
- É, mas o aniversário é final do mês. Hoje é dia oito. Dia oito.
- Pois é. Mas vai que o presente não chega? Tipo Natal? Lembra?
- Lembro. Mas tudo bem... Vai chegar sim...

No mesmo dia do pagamento do boleto, na hora do almoço. E-mail:

"Oi, boa tarde. Fiz o pagamento do boleto referente à mercadoria de código tal. Aguardo o envio do meu pedido. Grata".

No mesmo dia do envio do e-mail, três horas depois:

"Prezada sra. Juliana. Pagamento registrado. Sua encomenda será postada hoje ainda, sexta-feira. Aguarde o envio do código postal para rastrear seu pedido".

Na segunda-feira:

"Prezada sra. Juliana, o código do seu pedido é tal. Obrigada pela compra!"

- Amor?
- Oi.
- Atrapalho?
- Nunca.
- O site me respondeu. Seu presente já está no correio. 
- Caramba!
- O que?
- Rápido, né?
- Não é?
- Uhum.
- Era isso. Tchau.
- Grossa... Beijo.
- Beijo.

Na quarta-feira, em casa:

- Juliana, chegou uma caixa aí pra você. Tá lá no teu quarto.
- Caixa?
- É, caixa. Vê lá.
- Amor?
- Oi? Já chegou em casa? Foi tudo...
- Tenho uma surpresa!
- Surpresa?
- É! Surpresa!
- É pra eu adivin...
- ... Seu presente já chegou!
- Sério?
- Uhum!
- Rápido, né?
- Mega.
- E agora?
- A gente só vai se ver sexta, né?
- Não. Eu dou um jeito da gente se ver amanhã.
- Amanhã é dia de consultório, né?
- É, mas eu me viro.
- Tá bom. Vai almoçar?
- Correndo. Só vou ter intervalo de 14h30 às 16h.
- Te espero.
- São 20h, caramba.
- E...?
- Só vou te ver amanhã, às 14h30?
- Pois é, amor. Faz assim, vai embrulhando o presente... Chegou direitinho?
- Uhum.
- É grande?
- Um pouco.
- Pesado?
- 500 gramas.
- Você pesou o presente?
- Estou estimando. 436 gramas.

(Nelson ri).

- Que cor?
- Preto.
- Preto? Maneiro. Ó, vou jantar. A gente se fala, tá?
- Tá. Tchau.
- Grossa...

Trinta minutos depois:

- Amor? Tudo bem?
- Tudo. 
- Comeu, já?
- Comi. E o presente?
- Embrulhado!
- Sério?
- Sério.
- Quem embrulhou?
- Juliana!

(Ela se refere a ela na terceira pessoa...)

- Jura? Que linda...
- Ficou uma bosta. Não sei fazer isso direito.
- Ficou nada. Amo o amor que tem por...
- ... até tirei uma foto da caixa. Vou te mandar pelo whatsapp.
- Nossa, papel de Papai Noel?
- Era o que tinha em casa, né, Nelson?
- Tá bom. Tou reclamando não. Tou achando fofo. E é uma caixa de sapatos. Parece, né?
- Uhum. (Merda!) Chego em trinta, tá?
- Tá vindo?
- Queria. Mas tou morta. Não aguentaria ir. Mas, nossa... esperar até amanhã vai ser dose.
- Tou ansioso também.
- Tá?
- Tô.
- Que merda.
- Mas é bom, né?
- Bom?
- A ansiedade, né? Gostoso.
- Ai, gosto não.
- Juliana, olha só... posso te contar um segredo?
- É uma surpresa também, Nelson?
- Não. É segredo.
- Conta, conta o segredo! Adoro segredos!
- Um filho... demora nove meses, tá? Nove. Meses. Um mês tem trinta dias, tá?
- Fudeu.

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