Um ano se passou
Meu tio – sábia pessoa – me diz
que quando a gente fala do outro – para o outro – a gente fala da gente mesmo.
Há quem ache que esta carta é
para AnaZ. Desculpa te decepcionar: ela não vai ler. Eu vou ler. Nós vamos.
Então, apesar de endereçada a ela, é uma carta pra gente mesmo. Pra mim, pra
você, pra quem quiser ler (ou não).
Nada ficou a ser dito, AnaZ.
Embora eu ache que sim; eu também acho que não. Muitos perdões. Muitos
obrigadas. Muitos te perdôo. Muitos te amo. Ou minutos mais cedo – ah, se eu tivesse
sido mais rápida naquela manhã de sábado – eu teria pego você, ainda, com um
ultimo sopro de vida. Mas eu cheguei, e você já tinha ido.
Enfim, depois de quase 2 anos
lutando com uma doença ingrata, você se permitiu perder o controle mesmo.
Não, a gente não sabe como é
ficar 2 anos quase ininterruptos sem respirar, entubada, vivendo e dependendo
de um oxigênio artificial para (SOBRE)viver.
Não, a gente não sabe como é
ficar numa cama de hospital, consciente ou não, esperando uma horinha de
visita.
Não, a gente não sabe o que é
viver uma vida paralela, de delírios.
Isso tudo você soube. Na pele.
Nos pulmões. Nos olhos. Nas mãos amarradas, para não arrancar os tubos. No auge
da sua inconsciência. E da sua consciência.
Eu e Nilson estávamos lá, diariamente.
E isso não é egóico. A gente não é maravilhoso.
A gente te amava. E a gente só
podia estar por perto. Só isso. Era o que podíamos fazer por você: estar por
perto.
De vez em quando, uma massagem
nos pés (nem sempre você gostava). Ou um chamego no cabelo. Ou desamarrar as
mãos e fazer massagem nos dedos.
Eu queria poder soprar ar
dentro de você. Queria poder dizer: NÃO MORRA!
Mas cada um tem o ar que
merece. E o último suspiro que merece.
E você mereceu cada sopro de
ar. Cada último suspiro.
É isso.
Hoje faz um ano que você não
está mais aqui. Um ano. Trezentos e sessenta e cinco dias. É dia para caralho,
né? Os primeiros foram piores do que os últimos. Cada vez vai ser sempre mais
fácil. Eu assim espero.
A saudade e o amor, estes serão
para sempre.
Eu queria te contar tantas
coisas que aconteceram depois que você foi. Mas foda-se, né? Eu não vou contar
nada não. Não importa mais.
Importa o silêncio.
E eu lembro de um texto que eu
escrevi (dia 02 de março de 2012), e copio abaixo, que, na época, você
comentou:
Às vezes, a gente tem a palavra.
Às vezes, o verbo.
Às vezes, o afeto.
Às vezes, apenas o instrumento.
Às vezes, o cheiro.
Às vezes, o som.
Muitas vezes, o silêncio.
E aí a gente percebe que não tinha nada.
Só a porta.
E quando a gente acha que o silêncio é bom.
Vem um maior.
Sim, silêncio maior.
Daquele até sem o barulho da respiração.
Este não é especialmente ruim.
É diferente.
Quase sufocante.
Sem som.
Sem gente.
É isso. Só o silêncio importa.
Então, durante todas as
internações, eu te dei meu silêncio.
E, agora, te dou de novo.
Para todo o sempre.
O meu melhor – e mais sincero –
silêncio para você, minha mãe.
Com todo o meu amor e a minha
gratidão por ter sido a minha nave-espacial.
Um beijo emocionado, Luana. Estou sempre me lembrando dela.
ResponderExcluirAna Hertz
Lulu querida, que texto lindo. Todo o meu carinho,sempre.
ResponderExcluirbeijo
Carol (dinda).
Texto lindo. Emocionante.
ResponderExcluirÀ você, amiga querida, mulher de fibra, guerreira pela vida o que tenho de melhor neste momento pra te oferecer: meu silêncio orante ... Sandro Valle.
ResponderExcluirMeu amor minha amiga, simplesmente linda sua carta e sua voz, estou sentindo daqui suasaudade, seu silêncio, sua garra, amo você Lu!
ResponderExcluirQuerida Luana, muito obrigada por você dividir conosco esse tempo de lembrança. Bartolomeu Campos de Queirós, que também foi se encontrar com a Ana, dizia que "o amor é silencioso". A gente fala, mas ele será sempre silencioso na sua intensidade.
ResponderExcluirBeijo carinhoso
Celia
Emocionante, Luana.
ResponderExcluirObrigado por dividir essa fotografia tão íntima.
Obrigado pela carta.
Beijo
@jairolsantos
Maravilhoso seu texto,Luana.Bateu uma saudade ,e um lamento:o da nossa relação,a minha com Ana,ter-se esgarçado daquela maneira,coisa que me privou de estar com ela por mais tempo.Bom,as coisas são como são e não como gostaríamos.
ResponderExcluirBeijos.