Maria e sua mercadoria
(Escrito em 08 de julho de 2023)
Conheci Maria assim, de passagem.
Mora em Belford Roxo, sozinha. Seus filhos moram com o pai, que levou todos para morar com ele no kitnet na Lapa, para ficarem próximos da escola.
Maria ficou desempregada pouco antes da pandemia e, pra conseguir pagar o seu aluguel e suas contas, seguindo a dica de amigas, começou a vender coisas como camelô ambulante. Já vendeu de tudo. Mas, o que mais deu certo foram as jujubas de eucalipto.
"É uma mercadoria que quase ninguém tem, dá pra vender por um real cada saquinho e eu compro cada saquinho a dez centavos, o que me gera 90 centavos em cada saquinho, de ganho. Às vezes, dá pra fazer trinta reais em um dia. Mas, em dias bons, já fiz cento e cinquenta e sete reais em um só dia".
Maria pega o trem em Belford Roxo, todos os dias - inclusive finais de semana - e vem vendendo sua mercadoria, como ela mesma gosta de chamar, "mercadoria".
Aos sábados, ela costuma vender mais pois, apesar de não ter tanta gente no trem, são os jovens que estão indo e vindo das noitadas, ou indo pra Zona Sul, ou para as praias.
Ela faz o trajeto Belford Roxo - Central do Brasil de trem. Apesar do olhar triste, ela é uma boa vendedora. Os passageiros e clientes gostam dela. Ela é boa de conta e, se as pessoas levam mais mercadoria, ela dá descontos.
Na Central do Brasil, pega o 415 até a Tijuca, vai até a Usina, e volta, no mesmo trajeto.
Dessa vez, conheci e encontrei Maria na Haddock Lobo. Ela já havia vendido bastante mercadoria e parou na Praça Afonso Pena, "porque achou simpática". Sentou um pouco e viu o movimento das senhoras, das crianças, e dos cachorros correndo em volta da praça.
Andou ali, pela região, como que conhecendo os lugares, até que avistou um bar. Vazio. Mesas do lado de fora.
Eram exatamente dez e quinze da manhã. Sentou no bar. Escolheu uma mesa do lado de fora, na calçada.
O garçom custou a vir até ela.
- Me dá uma cerveja, por favor? De garrafa.
Maria bebeu a sua cerveja, sozinha, saboreando cada golada. Abriu uma das suas mercadorias e comeu junto. Achou graça de sentir o ardido do eucalipto da jujuba com a cerveja.
Acabou, pagou a conta, e pegou o metrô na Praça Afonso Pena, até a Pavuna, de onde pegaria um ônibus, até Belford Roxo. O dia hoje merecia caminhos novos.
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