Cuame

[Escrito em 20 de fevereiro de 2024]

Aqui em casa, bebemos muito em garrafas pet. Mate, refrigerante, etc. E, desde a época da pandemia, eu guardo as garrafas pet, lavo, encho de água e coloco no congelador. 

Quando saio de casa, levo as garrafas (com água congelada) e entrego para pessoas em situação de rua. Já faço isso há alguns anos. 

Como saio bem cedo, acabo deixando próximo de pessoas em situação de rua que estejam dormindo.

Hoje conheci Cuame. É esse seu nome.

Eu estava indo para a academia, depois de atender uma paciente e andava - em pleno sábado de carnaval - numa rua movimentada da Tijuca. 

Vi uma senhora passando e fazendo que não efusivamente com a cabeça. 

Cuame ficou parado, com seu carrinho de feira, e com um copo que depois descobri ser de mate.

- Posso te dar um abraço?

Nunca ninguém tinha me pedido um abraço assim. Eu, do alto do meu preconceito, apesar do medo, disse que sim.

Cuame me abraçou forte e demorado. 
Ele estava sujo e maltrapilho. Mas não menos amoroso.

- Você quer uma água?

- Quero, mas você vai ficar sem?

- Eu trouxe da minha casa e quero te dar.

- Você quer um gole do meu mate? - ele tentou retribuir.

- Não, muito obrigada.

- Água é vida, né?

- Sim, você quer?

- Quero. Ganhei o meu dia. Muito obrigada.

- Eu é que ganhei o dia com o seu abraço. Qual o seu nome?

- Cuame. E o seu?

- O meu é Luana.

- Muito prazer, Luana. Seu nome é muito lindo. Que o amor e a generosidade estejam presentes no seu dia.

- Estarão. No nosso dia. Muito obrigada.

E fomos andando, seguindo na mesma direção. Cuame guardou a água no seu carrinho, repetiu que o amor e a generosidade eram muito importantes.

E, antes que eu pudesse atravessar a rua, ele me abraçou mais uma vez e seguimos, cada um, o nosso caminho.

Que o amor e a generosidade estejam presentes no dia de todos. Todos os dias.

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