Lucas
[Escrito em 05 de setembro de 2024]
Hoje eu conheci o Lucas.
Eu estava no curso, na Rio Branco, perto da Praça Mauá. Saí às 17h e precisava ir pro Infnet, perto do Largo da Carioca.
Fiquei refletindo se eu iria a pé ou de VLT. Decidi o trem sob trilhos.
No ponto, esperando pelo trem, vi um casal. E só depois descobri que não se conheciam. Ela escolheu o local do ponto onde não seria o vagão feminino.
Fiquei observando-os. Ela o colocou no trem, quando vi que ele, com a bengala, era cego.
(O correto é cego ou deficiente visual?) Chamarei de cego, tudo bem?
Fiquei no vagão, próxima a ele. Olhando de rabo de olho. Ele tornou-se invisível ao vai-e-vem de passageiros.
Logo o que não vê era invisível...
Estava chegando meu momento de descer. Até que eu ouço em alto e bom som.
- Alguém vai descer no Largo da Carioca???
Me aproximei dele e sem encostar, falei: eu vou. Vambora. Você que encostar em mim?
Lucas encostou de bem leve no meu ombro.
Ele estava levemente de costas para a saída do trem.
- Vira um pouco pra sua esquerda.
Em um pleft, ele abriu a bengala, que se expandiu.
Fomos andando.
- Qual o seu nome?
- Lucas.
- Prazer, Lucas, eu sou a Luana. Está um pouco congestionado de pessoas aqui. Vamos devagar. Pra onde você vai?
- Pro metrô.
- Eu te levo.
- Você vai pra lá também?
- Não. Tou indo pro trabalho.
- A essa hora?
- Então, eu tava no curso, e agora trabalho.
- Não vou te atrasar?
- Nunca. Não se preocupe. A sua bengala tem uma bolinha na ponta?
- Tem. Eu sinto o chão e ela desliza mais fácil com essa bolinha.
- E você sente a textura do chão?
- Sinto. Isso.
- Sabe quando tem degrau?
- Sim. Eu sinto.
- Aqui. Três degraus, pra cima.
- Te levo ate lá embaixo? Na escada rolante? Como fica bom?
Foi quando Marcele apareceu. E eu lembrei da minha amiga do trabalho, de mesmo nome, igualmente linda e atenta. Igualmente mulher preta.
- Oi, cheguei. Eu levo ele daqui. Como é seu nome?
- Lucas.
- Oi Lucas, eu sou a Marcele. Eu tou descendo pro metro e te levo.
- Obrigada, Marcele!
- Segura no meu ombro.
Ela sequer se despediu de mim. Só tinha os olhos para o Lucas.
Lucas virou a cabeça na minha direção e...
- Tchau Luana, obrigado, bom trabalho!
E vi Lucas e Marcele se perderem na multidão, descendo para o metrô da Carioca.
Fui trabalhar, grata por este encontro. Eram 17h15 e meu dia estava só começando, grata por todos os encontros.
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