Rute
[Escrito em 31 de agosto de 2025]
Meu nome é Rute. Com TE no final. Muita gente, me chamava de Ruth, com TH. Eu não ligava...
Moro na Tijuca já há muitas décadas. Vim do interior de Minas Gerais com o meu marido, quando ele foi transferido para cá. Ele faleceu já tem uns quinze anos.
De lá para cá, quem me sustenta são as minhas amigas. Quem me sustenta assim afetivamente. Financeiramente, eu mesma me sustento. Fui professora durante muitos anos, me aposentei, não tivemos filhos, e João, meu marido, me deixou uma pensão e uma boa herança. Não tenho do que reclamar.
De todos os meus programas favoritos, o favorito mesmo é ir à feira, aos domingos.
Gosto de comer bem, sabe? Verduras, legumes, frutas, comida de verdade, como dizem as blogueiras de hoje em dia. E é lá que eu encontro as comidas de verdade. Moro bem pertinho da feira, então não carrego peso. Os feirantes são meus amigos e guardam e levam pra mim, deixando tudo na portaria, que o porteiro Gabriel me ajuda a subir tudo.
Todo domingo eu estou lá, e os feirantes já me conhecem pelo meu nome. E eu também pelo nome deles. Tem o Josué e o Breno das frutas. O Pedro dos ovos. O Miguel dos sucos. A Alessandra das verduras.
Hoje, minhas amigas, que sabem das minhas horas - eu sou uma mulher de rotina e de hábitos, sabem? - me fizeram uma surpresa. Foram todas para a feira comigo. Ficamos passeando, conversando, vendo as compras, as modas. Uma delas, a mais jovem, que tem 77 anos, resolveu tirar selfies nossas. Eu, sempre sorridente.
Ainda bem que hoje saí mais arrumadinha de casa, e também maquiada. Hoje é um dia especial.
Quando cheguei à barrada do Felipe, onde gosto de comprar bananas, uma surpresa. Eles não esqueceram!!!!
Um bolo bem grande, branco, bonito, com três velas. Uma vela número 1 e duas velas número 0. Sim, hoje é meu aniversário de 100 anos. Minhas amigas fizeram selfies comigo, e cantaram parabéns para mim, junto com o feirante.
Quando eu vi, a feira toda parou e cantou parabéns para mim, assim, em coro. Eu fiquei bem emocionada, mas só sorria. Sempre tive dificuldade de chorar. Mesmo de emoção.
A minha amiga mais nova, a Julia, a de 77 anos, comprou o bolo, e deixou guardado com o Felipe. Foi o aniversário surpresa mais feliz que eu já tive. A comemoração de cem anos, no meio das pessoas da feira. Das que conheço e das que não conheço.
Ainda bem que o bolo era bem grande. Quem passasse por ali, ganharia um pedaço. Porque não sou de fazer desfeita, mesmo com quem não conheço.
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