Fotografando Gente

Hoje é terça-feira. São 12h18. Estou no ônibus 415, sentada. Ao meu lado direito, uma janela aberta. Ao meu lado esquerdo, um banco vazio. Na minha frente, um banco vazio. O celular bipa. Workchat da Erika.

- Tudo bem, Edson? Tudo bem, graças a Deus. Ih, não bati. Hoje é segunda-feira. São 16h12. - É.  Ah, é? Estou no Uber, sentada. Ao meu lado direito, porta e janela fechadas. Ao meu lado esquerdo, um banco vazio. Na minha frente, um banco vazio. O celular bipa. WhatsApp da Jordana. - É mesmo. Poxa. Caramba. O que que você fazia? Sei. Entendi. Ah sei. Que legal. Eu imagino. O celular bipa. Notificação do Bradesco. Bipa novamente. Notificação do Estante Virtual. Bipa novamente. Workchat do Rômulo.

Hoje é domingo. São 15h43. Estou no Fornolleto, sentada à mesa. Ao meu lado direito, uma parede de vidro. Ao meu lado esquerdo, uma cadeira vazia. Na minha frente, uma cadeira vazia.

- Não. Sem problema nenhum. Não. Sem problemas. Não. Tem problema nenhum. Hoje é sábado. São 13h28. Estou no Uber, sentada. Ao meu lado direito, porta fechada e janela aberta. Ao meu lado esquerdo, um banco vazio. - É. É sujo, né? Na minha frente, um banco vazio. - É mesmo. Jura? Que loucura. Caramba. Virando ali a direita, o meu prédio é logo ao lado direito. isso. Esse. Quanto eu te devo? Eita. Aqui. Muito obrigada. Bom trabalho.

Hoje é sexta-feira. São 18h20. Estou no consultório Psicologia e Coaching, sentada à mesa. Ao meu lado direito, uma porta aberta. Ao meu lado esquerdo, uma cadeira vazia. Na minha frente, uma cadeira vazia. Por aqui, luzes acesas e tudo silencioso.

Hoje é quinta-feira. São 18h35. Estou no consultório Psicologia e Coaching, sentada à mesa. Ao meu lado direito, uma porta aberta. Ao meu lado esquerdo, uma cadeira vazia. Na minha frente, uma cadeira vazia. Por aqui, luzes acesas e tudo silencioso.

Hoje é quarta-feira. São 17h52. Estou no ônibus 220, sentada. Ao meu lado direito, uma janela fechada. Ao meu lado esquerdo, uma cadeira vazia. Na minha frente, uma mulher sentada. Ela é branca, loira e tem o cabelo liso e comprido. Fala no whatsapp por texto com alguém. Usa um blazer marrom. Mexe nos cabelos. Tem a unha comprida. O celular bipa. WhatsApp da Danielle. A mulher sentada na minha frente encosta a cabeça no banco. Desencosta. Olha para fora da janela. Levanta e sai. Carrega uma mochila preta Agora, na minha frente, um banco vazio. O celular bipa. WhatsApp da Danielle.

O celular bipa. WhatsApp da Sandra. Hoje é segunda-feira. São 13h20. Estou no ônibus 220, sentada. Ao meu lado direito, uma janela aberta. Ao meu lado esquerdo, um banco vazio. Na minha frente, um banco vazio. O celular bipa. WhatsApp da Sandra. Bipa novamente. Notificação do Bradesco. Bipa novamente. Workchat da Erika. O celular toca. Alô. O celular bipa. WhatsApp da Sandra. Bipa novamente. Email da Erika.

- Ótimo. Hoje é domingo. São 21h48. Estou no carro do Carlos, sentada. Ao meu lado direito, porta e janela fechadas. Ao meu lado esquerdo, um banco vazio. Na minha frente, André está sentado no banco. - Eu também. André está conversando com o Carlos, que dirige. - Eu também. O celular bipa. Notificação do Ifood. - André veste uma blusa laranja. Carrega uma bolsa no colo. - Sei. O celular bipa. WhatsApp da Suelen. - Adriano Camargo. Apartamento. O celular bipa. WhatsApp da Suelen. - Você mora em casa, Carlos? Onde? Sei. Na José Higino. Pô, mas então você deu uma volta enorme pra nos deixar. Muito obrigada. Sei.

Hoje é sábado. São 12h15. Estou no Uber, sentada. Ao meu lado direito, porta fechada e janela aberta. Oi, boa tarde. É, por favor. Ao meu lado esquerdo, um banco vazio. Na minha frente, um banco vazio. O celular bipa. WhatsApp do André. - Fica do lado esquerdo, mas se você não conseguir parar, pode me deixar do lado direito. Ah tá bom. Ali depois do Bradesco. Quanto eu te devo, Raphael? Aqui, me vê dez, por favor. Muito obrigada.