Polyana
O seu nome é Polyana, com Y mesmo. Porque a mãe, desde nova, é ligada em coisas de numerologia. Na adolescência, na escola, os amigos começaram a chamá-la de Poly e ficou. Se alguém pergunta seu nome, ela logo diz: “Poly, com Y, mas não a mesma daquele livro”. Toda explicativa.
Não sei bem a sua idade hoje. Na aparência, parece mais jovem. No mundo de dentro dela mesma, parece mais velha. O que, das duas formas, é ótimo mesmo.
Nasceu numa família tradicional mamãe-papai-vovô-vovó da Zona Norte do Rio. Estudou em escola pública, e sempre foi uma boa aluna. Os professores admiravam ela pelas notas. Nem sempre pelo desempenho em sala. Entrava em silêncio, saia em silêncio. Das aulas, da escola. Mas não das amizades.
Poly sempre foi menina e mulher de poucos e bons amigos. Desde nova. As amizades vêm e ficam. Algumas vêm e vão. Mas gosta desta fluidez das relações, dos amigos-livres, que podem ir, desaparecer, voltar. Mas que estão pra sempre dentro dela. Nas suas memórias e lembranças.
Poly, por volta dos seus 15 e 16 anos, quis ser jornalista. E tentou vestibular e passou logo, de primeira, para uma faculdade pública, no Rio. Ninguém ficou surpreso, porque sempre foi uma boa aluna.
Apesar do pai querer que ela tivesse escolhido uma carreira que “ganhasse mais dinheiro”, “tipo Medicina, Engenharia, né, Polyana?”, ela seguia o seu desejo. Em silêncio. Sem muita discussão ou debate em casa.
E assim entrou na UFRJ, em Comunicação Social. Sabia que faria Jornalismo. E foi na faculdade que pôde se encontrar mais e melhor. A sua galera. A sua turma. Os seus amigos. Não ia precisar mais da física e da química, pelo menos não agora.
Continuava em silêncio. Entrando silenciosa das aulas. Mas, agora, mais participativa. Debatendo e participando das aulas com as suas colocações e suas opiniões sociais, políticas, éticas. Foi fazendo amizades. Encontrando uns e umas. Outros e outras. E podendo sair mais de casa.
“Chego tarde hoje. Vou dormir na casa do Vinícius. É. Meu amigo. Amigo, pai”. E era amigo mesmo. Sempre teve amizade com meninos e meninas da escola e, como gosta de rua, acaba ficando na casa de um amigo, para não voltar de madrugada para praia.
Conheci Poly num processo seletivo. E desde o início, do primeiro momento, gostei dela. Cabelos curtos. Sem adereços. Sem maquiagem. Apesar de estar acima do peso para os padrões, roupas que realçam seu corpo. Sem vergonha.
Gosto assim. O que é o corpo ideal? Magro ou gordo? No padrão ou fora? Padrão para quem? Poly, neste caso, não tinha padrão. O seu padrão era seu. E se precisasse se vestir assim, bonita ou feia, era assim que se vestia: bonita sempre. Apesar da roupa. Ou do corpo.
No seu andar, apesar do silêncio, da timidez, tem uma segurança, uma altivez. Um saber-se presente. Poly é presente. Se faz presente. No olhar. No sorriso tímido. Na gargalhada, quando lhe é possível.
No final da seleção, ficamos entre Poly e outra candidata. O poder de decisão não era meu. Eu seria pela Poly. Não só pela sua bagagem acadêmica e profissional, mas por quem Poly é-parecia-ser. Parecia que eu já conhecia Poly. Não do “te conheço de algum lugar”, mas do “quero saber mais de você”.
O poder de decisão ficou com o big-boss. E eu, na torcida. Silenciosa, como Poly. “Vamos ficar com a Polyana”, ele me avisou. “Foi a minha preferida também”, eu disse. Avisei à Poly e ela começou, seus dias conosco.
Quase não ouço o barulho dos seus dedos no teclado, enquanto escreve e digita seus textos diários. Ela é silenciosa até mesmo nisso. Quase não vejo Poly entrar ou sair da sala. Mas sei que Poly está ali, próxima e perto de mim.
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Dias desses, conversando com Poly, despretensiosamente, ela me pediu um presente de Natal. Algo simbólico, segundo ela. Ela nem sabia, mas foi um dos presentes mais caros que ela me pediu.
Pediu uma foto dela. Não de perfil. Ou de lado. Ou uma selfie. Mas assim, uma foto-palavra. Pelo lado de dentro.
Eu espero que o presente seja a contento de Poly. Espero que ela goste de se ver nesta foto.
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