Senhor Celso

[Escrito em 28 de janeiro de 2025]

O cenário era o Hospital Pan Americano, na Tijuca.
Conheci o senhor Celso. Estava sozinho e tinha cerca de 80 anos.
Muito magrinho. Calça jeans, blusa social. Se arrumou todo para vir ao hospital. Ainda pude notar o aparelho de surdez nos dois ouvidos.

Ele estava no posto de enfermagem. Ou no posto médico, dentro da emergência. Não sei bem que local é aquele ali.

- Aguarda ali, senhor Celso, já vou deitar o senhor.

- Eu moro na Glória. Minha última refeição foi de manhã cedo. Eu estou com muita fome.

Eu estava ao seu lado, aguardando para falar com o doutor Matheus, que tinha as mãos próximas ao senhor Celso.

- Não, senhor Celso. Agora é dieta zero. Talvez o senhor tenha que operar. Mas vou ministrar um sorinho glicosado para o senhor.

Senhor Celso balançou a cabeça e sorriu espontaneamente um sorriso de "que bom que estou sendo cuidado, mas não entendi bem o que ela disse".

Esta médica, que falava com o senhor Celso, estava sentada (senhor Celso em pé), um pouco longe dele.

Doutor Matheus estava ao lado.

- O senhor entendeu o que ela disse?

Senhor Celso mostrou o aparelho pro doutor Matheus e disse, titubeante: "mais ou menos".

- O senhor vai ficar sentadinho aqui (falando pausadamente), porque ela vai deitar o senhor aqui na emergência. Vai deixar o senhor no soro. É muito ruim sentir fome. Mas talvez o senhor não possa se alimentar mais. Talvez a gente precise operar o senhor. Entende? E aí não pode ter comida do lado de dentro (pousando a mão na barriga do senhor Celso). Dieta zero que ela disse é sem comida nenhuma. Entendeu?

Senhor Celso sorriu e... "ah, agora sim". E abraçou o médico, pela explicação.

Eu, que aguardava para falar com o mesmo doutor, já estava morrendo de amores pelo senhor Celso, esperei o médico fazer contato visual comigo.

- Doutor Matheus, eu fiz a tomografia já. Estou aguardando o resultado. Estou lá fora na recepção com o meu marido, tá?

- Tá bom, eu vou ver e já levo para você. Só esperar.

- Eu vou com você? - senhor Celso se dirigindo a mim.

- O senhor quer ir comigo, senhor Celso? Pode ir comigo. - eu, querendo fazer novas amizades.

- Nãaaaao, senhor Celso. O senhor vai deitar. Só esperar sentado aqui, ó. Ela é outro caso. 

Senhor Celso me deu as mãos, olhou bem fundo no meu olho, sorriu, com os lábios e os olhos e disse: "eu vou ficar sem comer porque vão me abrir. Vão me dar um sorinho e vou ficar aqui, sentado, aguardando, porque vão me deitar. Você vai deitar também? Você já comeu?".

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