As senhoras e a bengala

[Escrito em 28 de abril de 2025]

O metrô estava cheio quando entrei. 

Duas senhoras entraram comigo, na mesma estação. Uma delas, de bengala. Cabelos brancos e ralos.

A outra, mais jovem. Cabelos pintados de preto. Beirava seus sessenta-e-alguns.

A de bengala procurava uma haste para se segurar com firmeza, além da bengala. Todos os lugares ocupados.

- Ali na frente tem lugar para a senhora, vai lá.

A senhora-mais-jovem era mandona.

- Tem alguém jovem sentado no seu lugar. Tira de lá e senta.

A senhora de bengala tinha dificuldade de se locomover. A mais jovem não ajudou. Só ditou a ordem.

Alguém mais próximo aonde ela estava, e igualmente velha, cedeu o seu lugar.

A senhora de bengala deveria dar quatro passos, sem hastes pelo caminho, só com a bengala, pra chegar ao lugar destinado, agora vago, a ela. 

O trem andava. Em velocidade rápida e constante.

A velhinha foi. Tinha sido dada ordem a ela para ir. Não podia mais ficar de pé.

Sentou quase se jogando no lugar destinado. Mal conseguiu dizer obrigada. A bengala pendia para o alto, agora. Os passageiros em pé, incomodados.

E a senhora não tão jovem, mas nem tão senhora, de longe, sorria triunfante. 

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