O velhinho
[Escrito em 10 de maio de 2025]
Na calçada, próximo a minha casa, um carro parado. Malas abertas, duas mulheres guardando caixas e coisas na mala grande do carro sedan.
O carro estava parado em frente a uma pequena floricultura. É um estabelecimento que vende pequenas mudas de árvores. Do lado, uma loja de ferramentas, pequena e velhinha, como seus donos.
Sentado, em uma cadeira de rodas, o patriarca da família. Ao lado da dona do carro.
O velhinho: chinelo de couro, cobertor nas pernas, uma roupa que parecia roupa de sair ou pijama. Sem óculos, cabelo inteiramente branco, muitas rugas no rosto. O típico velhinho fofo. Observava, entre o olhar atento e o alheio, as duas mulheres guardando as caixas no carro. Não parecia mudança. Eram caixas leves, dada a facilidade com que elas carregavam os volumes.
Subitamente, sentou o neto ao lado do velho.
- Vai lá ajudar não, vô?
O bom humor fez o velho dar um sorriso de canto de boca. Mas seus olhos, eram inteiramente de admiração pelas mulheres e pelo neto.
Lembrei do livro que estou lendo "Velhos são os outros", da Andréa Pachá. Assim como lembrei do meu pai, há mais de dois anos desencarnado, e muito magrinho, cabelo branco, rugas pelo rosto e corpo todo. Vestido com seu pijama e seu cobertor nas pernas.
E me veio o sentimento de gratidão por estar viva, e o desejo por viver até a velhice, mas de preferência sem as cadeiras de rodas.
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