O saco de arroz

[Escrito em 15 de outubro de 2025]

Quarta-feira, dia de presencial. Volto de metrô, já bem tarde da noite, e salto na estação onde tem um mercado do lado.

Ao subir as escadas do metrô, já do lado de fora, uma pessoa em situação de rua me aborda.

- Oi, senhora, não quero dinheiro. Pode ser um saco de arroz, de feijão, uma maionese, qualquer coisa assim. 

- Tou dura, foi o que respondi, e continuei andando.

- Vai com Deus então. Que Deus te acompanhe, muito obrigadooooo.

Já dentro do mercado, onde eu nem precisava ir, comprei poucas coisas: pão, requeijão, e um chocolate para a filha, que sentiu falta de um doce pós almoço. E penso que talvez um saco de arroz pro rapaz lá fora não vai pesar tanto no orçamento.

- Já no caixa... quantas sacolas?, a caixa me pergunta.

- Uma só. É pouca coisa. Não precisa colocar o arroz no saco porque vou levar para o rapaz lá fora. 

A caixa sorri pra mim. Pago as compras, e saio carregada. Estou sempre carregando mil coisas, como sempre. Hoje foi dia de Saara.

Venho andando já do lado de fora do mercado, em direção ao rapaz, com o arroz na mão. 

- Trouxe o seu arroz, digo a ele, apontando o arroz, de longe.

- Sem sacola?

- É, não pedi sacola.

- Me dá a sua sacola então.

- Oi????

- Ou então volta lá e pega uma sacola pra mim.

- Pera... não entendi...

- Dá só um arroz e nem me dá sacola? Se eu for lá, ela não vai me dar...

- Eu falei pra ela que estava comprando o arroz pra te dar. 

- Ah, então eu vou lá pedir a minha sacola, já que você foi incapaz de me trazer uma sacola. Muito obrigado, tá? Que Deus e Jesus te acompanhem, sua generosazinha de merda...

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