Rosa vermelha?

[Escrito em 15 de outubro de 2025]

Hoje é feriado, de dia do Professor. Já que eu ia atender presencial, fui mais cedo para o Centro, pra bundear no Saara. Eu tinha coisas para comprar para casa, mas bundear no Saara é para além de comprar coisas para casa. É para comprar coisas inúteis - para mim e para casa.

Mas uma das coisas úteis para mim e para casa era velas de sete dias e ervas para banho. Domingo é dia de branco neste lar. 

No meio do Saara, achei um Palácio das Velas, loja que costumo comprar sempre, mas esta eu não conhecia. 

Entrei na loja timidamente, esticando o pescoço e procurando primeiro pelas velas. Gosto daquelas gordinhas, que duram sete dias mesmo...

- Oi amiga, posso te ajudar?

- Oi, pode sim, obrigada. Preciso de vela de sete dias, por favor. 

Ian - descobri seu nome depois - me levou até a seção de velas. 

- Gosto daquelas gorduchas, que duram sete dias mesmo. 

- Ian me mostrou uma super-gorducha, que não caberia no meu copo de vela.

- Não, essa é gorducha demais, e não vai caber no meu copo de vela.

- Mas não seja por isso. Eu tenho a vela gorducha e o copo de vela pra vela gorducha.

- Não, não. Vamos na pouco menos gorducha.

- 260 gramas de vela. Tá bom? Quantas?

- Três só. 

Além das velas, escolhi as ervas para o banho. Três de cada também.

Fui ao balcão tirar a nota das minhas compras, com um outro atendente, igualmente gentil. 

- Posso pagar no PIX?

- Pode, claro. Como a senhora preferir. O caixa é no final da loja. Se a sua internet não funcionar, avisa que te damos o wifi da loja, tá?

- Ah, que gentil. Tá bom. Se não for no PIX, pode ser no débito mesmo. Obrigada. 

Me encaminhei pro caixa, e Ian já estava atendendo outra cliente, ali próxima.

- Posso abrir o QR Code? Vai de PIX?

- Pode, amiga. Já tou com o banco aberto.

Ian, já atendo, pergunta se minha internet ali está funcionando.

- Sim, está tudo funcionando aqui.

Razô, segundo o vendedor.

Olhando pelo periférico, vejo que ele está atendendo a cliente, que está escolhendo guias.

- Olha essa guia aqui que, linda. Contas pretas, Caveiras, e a rosa vermelha. Tou ouvindo aqui (batendo com o dedo indicador na própria orelha) que sua entidade quer essa. Olha que rosa vermelha linda!

A cliente solta uma gargalhada, e eu seguro o riso.

- Pior é que não. Falou errado. A rosa dela não é vermelha não, é branca. Dona Maria Navalha não usa rosa vermelha.

Ao ouvir o nome, me desce um frio no espinha, e sigo dura, atenta ao pagamento.

- Vamos procurar então com a rosa branca pra ela...

Procura daqui, procura dali, nada de rosa branca na guia. Só vermelha. Ou contas pretas. Ou caveira. Ou tridente. Mas sem rosas brancas.

A cliente faz contato visual comigo e vai na lata, apontando o dedo.

A Maria Navalha dela é que usa rosa vermelha!

(Se tivesse um terceiro cliente ali na hora, veria que além de gelada, eu teria ficado pálida, perdendo a cor, os sentidos, tudo...)

Pior é que uso rosa vermelha mesmo, ouvi lá no fundinho.

- Pior é que ela usa rosa vermelha mesmo, eu repeti, em voz alta, pra cliente.

E o Ian volta com a pérola:

- Eita, que quem falou comigo então foi a sua entidade, e não a dela! 

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