Em observação, no CMNG
PARTE 1
Hoje
é dia 20 de junho, 5ª feira, são 8h27.
Estou
no Centro de Medicina Nuclear da Guanabara, no Centro, aguardando o meu exame.
Estou
sentada numa recepção, logo à frente (existem muitas cadeiras, talvez umas 50,
atrás de mim).
Na
minha frente, uma pequena mesa com café. E, três portas: uma na minha frente,
que parece banheiro; uma do lado esquerdo; e uma do lado direito.
A
recepção em si (com os guichês) fica ao meu lado direito, mas atrás de mim.
Do
lado de trás, a porta de entrada do andar.
Sentada,
ao meu lado direito, tem uma moça também aguardando. Veste calça preta, casaco
preto, bolsa preta. ´w branca, magra, baixa. É loira e tem o cabelo liso,
comprido. Olha a TV, no jornal da manhã.
A
moça da limpeza passa e entra na porta da direita.
Uma
moça sai da porta da direita e entra na porta da esquerda. Ela sai da porta da
esquerda e vai para a recepção e, depois, entra na porta da direita.
Uma
senhora senta ao meu lado. Veste calça verde, casaco preto, usa bengala. Tem o
cabelo curto, castanho caju. É branca, baixinha e gordinha. Olha a TV e olha o
chão e a recepção, alternadamente.
Um
rapaz sai da porta da direita.
-
Natália Bernardo.
A
menina loira entra com ele na porta da direita.
A
senhora senta, agora, onde a Natália estava sentada.
A
moça da limpeza sai da porta da direita.
A
senhora olha a recepção, olha para trás, sempre se apoiando na bengala.
Uma
moça senta ao lado da senhora e conversa com ela.
-
Tem que pegar a senha e esperar chamar para ser atendida. A Helena não marcou
nada. Eles é que fizeram merda.
Uma
moça sai da porta da direita e entra na porta da esquerda.
Uma
moça sai da porta da esquerda.
Uma
moça sai da porta da esquerda e entra na porta da direita.
-
Segunda feira eu estou lá. 539.
A
moça ao lado da senhora é negra, alta, magra. E séria.
Fui
chamada.
PARTE 2
Agora
são 8h46.
Estou
na mesma recepção, mas logo atrás (existem muitas cadeiras, agora à minha
frente, talvez umas 50).
Exatamente
na minha frente, uma senhora lê o jornal de esportes. Usa calça jeans, casaco
vermelho, cabelos curtos e avermelhados, e óculos. É branca, baixinha e peso
normal, meio o estilo “socadinha”.
A
recepção em si (com os guichês) fica ao meu lado direito.
Do
lado de trás, a porta de entrada do andar.
Ao
meu lado direito, tem uma moça também aguardando. Veste calça jeans, sapatilha
xadrez, blusa vermelha e bolsa preta. É branca, baixinha, um pouco gordinha.
Tem o cabelo preto, liso, e usa óculos. Presta atenção na televisão, bem à sua
frente.
Estou
sentada bem no canto, junto à parede.
A
moça ao meu lado mexe no papel do guichê. E fica o tempo todo balançando as
pernas.
A
moça da minha frente vira a página do jornal e coça o nariz. Fecha o jornal,
busca algo dentro da bolsa, pesca uma bala, e abre-a, vagarosamente. Coloca na
boca, guarda o papel da bala, olha a TV e volta para o jornal, enquanto chupa a
bala. Arregaça as mangas do seu casaco e continua lendo o jornal, no caderno de
esportes. Coloca a mão na boca. Olha para a recepção. Mexe no seu cordãozinho
de ouro. Coloca a mão na boca e, agora, nas têmporas. Tira a mão do rosto,
fecha o jornal, fala com a moça ao seu lado. Olham para trás. Guarda o jornal e
sorri. Ajeita-se na cadeira, estica as pernas. Olha para a TV e balança as
pernas. Usa uma sapatilha bege claro. Tosse, duas vezes. Pigarreia. Olha para o
lado.
A
moça ao meu lado, permanece imóvel, de braços cruzados, agora sem mais balançar
as pernas, e olhando fixa e seriamente para a TV.
A
moça da minha frente, agora, balança as pernas, com os pés cruzados, no ar.
Olha para o lado. Conversa – muito baixinho – com a moça ao seu lado direito. Pára
de conversar e olha para a TV, agora, balançando as pernas separada e alternadamente.
Olha para trás. Ajeita seu casaco.
-
É...
A
moça do meu lado direito fala sozinha, pensativa. Continua séria, imóvel,
braços cruzados, olhando para a TV.
A
moça da minha frente mexe na bolsa, atende o celular.
-
Oi. Tá. É. Tá. Não sei. Tenho. É. Tá bom. Tá ótimo. Vem almoçar? Vem almoçar?
Você vai chegar em casa para almoçar? Lá pelas 2 horas.
-
Isso é a senha? Senha 204... Vai e volta. Vai e volta.
A
moça ao meu lado começa a se mexer na cadeira.
A
moça da minha frente desliga o celular e guarda-o na bolsa.
A
moça do meu lado direito olha para a sua senha – 204 – e mexe as pernas,
impacientemente. Agora, está sentada curvada para a frente, desencostada do
encosto.
A
moça da minha frente, também, balança as pernas e mexe em algo na sua bolsa, e
olha para a TV, sem muito entusiasmo. Abre a bolsa e guarda algo. Pega uma
sacola ao seu lado esquerdo, e vasculha algo dentro dela. Coloca a sacola ao
lado. Olha para a recepção e vê as senhoras chegando, mais velhas que ela. Ela
chega para o lado e fala algo com a senhora que está ao seu lado. Balança as
pernas, separada e alternadamente. Olha para trás, na recepção. Pára de
balançar as pernas. Ajeita-se na cadeira. Mexe em algo na bolsa. Pega uma nova
bala, coloca na boca. Guarda o papel na bolsa. Balança as pernas
alternadamente. Olha para os lados. Olha para a TV.
A
moça ao meu lado direito não tira os olhos da TV. Recosta-se na cadeira, mexe
no cabelo, tosse. Cruzou os braços e volta à imobilidade.
A
moça da minha frente mexe as pernas, vagarosa e alternadamente, e olha para a
TV.
A
moça ao meu lado direito, agora, balança as pernas, com os tornozelos cruzados.
Parou.
A
moça da minha frente balança as pernas, alternadamente, em movimentos
circulares.
A
moça ao meu lado direito estica as pernas, e volta a balançá-las, com os
tornozelos cruzados. Parou.
A
moça da minha frente olha para a recepção e volta a olhar para a TV. O
movimento das pernas permanece.
A
moça ao meu lado direito olha as horas, cruza os braços e volta a olhar para a
TV.
-
Eu acho que está demorando. – Resmunga.
Agora,
balança as pernas, com os tornozelos cruzados, com força. Se posiciona para a
frente, e olha a recepção. Volta a olhar para a TV. Continua balançando as pernas,
e pára.
A
moça da minha frente, agora, balança as pernas cruzadas, tal como a moça ao meu
lado direito. Olha para a recepção e volta a olhar para a TV.
A
moça ao meu lado direito descruza os braços, mexe em algo dentro da sua bolsa,
tira uns papéis e documentos. Fecha a bolsa. Ajeita-se.
Fui
chamada.
PARTE 3
Agora
são 9h11.
Estou
aguardando o meu exame.
Estou
sentada numa pequena recepção, sozinha. Preciso beber dois copos de água, e não
ir ao banheiro.
Ao
meu lado direito, duas cadeiras, um filtro, com água, e uma TV, na Record.
Na
minha frente, mais duas cadeiras e a porta que dá acesso a outras áreas da
clínica.
Entra
uma moça pela porta da frente.
-
Bom dia.
-
Oi, bom dia.
Eu
e ela sorrimos.
Ela
veste uma calça preta, social, blusa bege, cinto preto, sapato preto, social.
Ajeita a blusa e bebe água. É branca, magra, alta. Cabelo escuro, e liso. Sai,
na mesma velocidade que entra.
Volto
a ficar sozinha na pequena recepção.
Meu
namorado me liga e fico no celular com ele. Ficamos 7 minutos no celular.
Desligo, e volto a ficar sozinha e silenciosa na recepção. Agora, sorridente.
O
celular toca. Era uma candidata. Falo com a mesma, rapidamente. Desligo o
celular e volto a ficar sozinha e silenciosa na recepção.
Uma
moça entra na recepção, com uma menina.
-
Oi. Tou. Já entrou, tá esperando. Ganhou? Que bom. Parabéns. Parabéns por você
ter ganhado lá. Porque você ter ganhado significa que você ta indo bem no
trabalho. Tá bom, tchau.
A
moça senta na minha frente, mas só consigo ver a metade do corpo dela. Ela está
de frente para uma pequena parede que nos divide.
A
menina pára na minha frente, e fica mexendo no celular, que toca funk.
Não
consigo ver a mãe, e, agora, nem a menina.
-
Poxa, teimosa. Quando as pessoas falam com você, você obedece. Acho que ele mandou
uma mensagem pra mim.
A
mãe veste calça jeans, blusa preta listada com branca, e uma bolsa vinho. É
branca, baixinha, magra, e tem o cabelo preto, liso, curso.
-
Peraí, Taiane.
Agora,
a menina vem para a minha frente. Usa calça jeans, blusa preta e amarelo, e
sandália rosa. Senta ao lado da mãe e ouve o celular, com fone de ouvido.
-
Ta chovendo?
-
Não.
-
Ela tá trabalhando no computador?
-
Ta. Peraí, deixa eu ver. Não vê que eu tou falando com a sua irmã? Me dá um
aqui pra eu falar com ela.
A
mãe pega um dos fones de ouvido do celular.
-
Deixa o seu recado.
Uma
está sentada do lado da outra. Não se parecem. A menina tem o cabelo crespo,
comprido, preso. É bem mais magra que a mãe. Tem um rosto bonito, mas em nada
se parece com a sua mãe.
-
Quem é sogra?
-
Quem é sogra? Sua avó, né? A mãe do seu pai.
-
Taiane feia. Tem que escrever Taiane linda, não Taiane feia.
-
Taiane teimosa.
-
Prepara, que agora vai começar o show das poderosas.
A
menina canta e senta ao meu lado. Levanta e vai para o lado da mãe.
-
Vou te levar direto pra casa, não vou te levar pro meu trabalho, ouviu?
O
meu celular toca. Mais uma candidata. Falo com ela e desligo.
Taiane,
agora, está sentada na minha frente, ao lado da mãe.
-
Eu acho que está chovendo.
Ela
deita no colo da mãe e balança as pernas. Mexe no celular da mãe, com o fone de
ouvido.
A
mãe cata possíveis piolhos no cabelo da filha. Não consigo perceber se é “catar
piolho” ou “carinho”. Não sei as formas de carinho das duas.
As
duas estão silenciosas.
Taiane
balança as pernas longas e magras, alternadamente, e não tira os olhos do
celular. Ouve alguma coisa pelo fone.
-
Olha, sete um e sete. Sessenta e sete. Cento e sete.
O
celular toca. A menina atende.
-
Alo. É.
Ela
dá o celular para a mãe.
-
Oi, filha. É exame, tomografia. Ainda não. Tamos aqui na sala, aguardando.
-
É.
-
E aí, tá tudo bem, já ajeitou as coisas?
-
Pra quando acabar de estudar, é pra tu lavar a louça.
-
Tá bom então. Beijo, tchau.
-
Tchau.
As
duas – mãe e filha – falavam com a outra filha (da mãe) pelo fone de ouvido do
celular.
A
menina volta a deitar no colo da mãe.
-
Eu acho que está chovendo mesmo.
A
menina tosse. Balança as pernas.
-
Toma, mãe.
-
Olha só. Eu não quero barulho aí.
Eu
e Taiane fomos chamadas.
Fechando
meu exercício de observação por aqui.
Comentários
Postar um comentário