Estou no consultório Psicologia e
Coaching, sentada à mesa. Ao meu lado direito, parede. Ao meu lado esquerdo, um
móvel. Na minha frente, duas cadeiras vazias.
Hoje é domingo. São 08h35. Um homem passa na minha frente. Ele é negro, magro e alto. Estou na Smart Fit, sentada na bicicleta. Ao meu lado direito, uma bicicleta vazia. Ao meu lado esquerdo, uma bicicleta vazia. Na minha frente, um corredor por onde as pessoas passam. Uma mulher passa na minha frente carregando uma garrafa. Um homem passa na minha frente. Uma mulher passa na minha frente. Ela é branca, gorda e alta. Tem o cabelo castanho, preso em um rabo de cavalo. Veste bermuda preta e blusa cinza. Usa um tênis preto e rosa. Um homem passa na minha frente carregando uma mochila. Uma mulher passa na minha frente carregando uma garrafa azul. Ela é branca e magra. Um homem passa na minha frente carregando uma garrafa e um celular. Ele é branco, magro e alto. Uma mulher passa na minha frente carregando uma garrafa. Ela é branca, magra e baixa. Um homem passa na minha frente carregando uma mochila preta e um celular. Uma mulher passa na minha fren...
(Escrito em 08 de julho de 2023) Conheci Maria assim, de passagem. Mora em Belford Roxo, sozinha. Seus filhos moram com o pai, que levou todos para morar com ele no kitnet na Lapa, para ficarem próximos da escola. Maria ficou desempregada pouco antes da pandemia e, pra conseguir pagar o seu aluguel e suas contas, seguindo a dica de amigas, começou a vender coisas como camelô ambulante. Já vendeu de tudo. Mas, o que mais deu certo foram as jujubas de eucalipto. "É uma mercadoria que quase ninguém tem, dá pra vender por um real cada saquinho e eu compro cada saquinho a dez centavos, o que me gera 90 centavos em cada saquinho, de ganho. Às vezes, dá pra fazer trinta reais em um dia. Mas, em dias bons, já fiz cento e cinquenta e sete reais em um só dia". Maria pega o trem em Belford Roxo, todos os dias - inclusive finais de semana - e vem vendendo sua mercadoria, como ela mesma gosta de chamar, "mercadoria". Aos sábados, ela costuma vender mais pois, apesar de não ter t...
Hoje é domingo. São 09h36. Uma mulher passa na minha frente. Estou na Casa de Portugal, sentada na emergência. Ao meu lado direito, uma cadeira vazia. Ao meu lado esquerdo, uma cadeira vazia. Na minha frente, um vão por onde as pessoas passam. O celular bipa. Whatsapp da Hanna. Bipa novamente. Notificação da Amil. Bipa novamente. Whatsapp da Ana. Uma mulher passa na minha frente carregando uma bandeja. Ela é branca, gorda e alta. O celular bipa. Whatsapp da Ana. Uma mulher passa na minha frente. Uma mulher passa na minha frente carregando uma sacola. Uma mulher passa na minha frente carregando uma prancheta. Ela é branca, gorda e baixa. Usa óculos de grau. O celular bipa. Notificação da Amil. Bipa novamente. Whatsapp da Hanna. Bipa novamente. Notificação da agenda. Bipa novamente. Notificação da Amil. Bipa novamente. Whatsapp da Teresa. Bipa novamente. Whatsapp da Hanna. Bipa novamente. Whatsapp da Teresa. - E aí, amor? Não? Graças a Deus. André senta ao meu lado direito.
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