Sobre os mendigos
[Escrito em Outubro de 2014]
Eu pego sempre o mesmo caminho para ir à academia, que fica a exatos 750 metros de casa. O celular, plugado no rádio, me tapa, com os fones, o ouvido para sons da rua. Mas não os olhos para olhar para gente.
Eu pego sempre o mesmo caminho para ir à academia, que fica a exatos 750 metros de casa. O celular, plugado no rádio, me tapa, com os fones, o ouvido para sons da rua. Mas não os olhos para olhar para gente.
Na praça Cardeal Arco Verde há uma "família" de mendigos. Digo família-entre-aspas, pois acho que eles são uma família. Meu olhar diz isso, mas, como não tenho certeza, prefiro "aspar". A família têm dois cães.
Hoje, o seu dono - um dos moradores da família - atravessou meu caminho, com um dos cães. Por um mini-segundo, eu achei que estavam brigando.
O cão subia e descia do canteiro e o dono corria para lá e para cá. Eles estavam jogando futebol! Jo-gan-do-fu-te-bol. A bola era uma pequena garrafa - já amassada - de água.
Eu, que parei para ver a cena com mais cuidado e detalhes, quase fotografei. Mas eu não seria respeitosa. Eles estavam em casa, no seu momento de intimidade e cuidado.
Os amigos foram quase unânimes em escolher o termo "morador de rua".
Apesar de achar este mais apropriado (eu concordo com eles), sobretudo se estou falando deste povo de forma positiva, eu gosto da palavra "mendigo". Gosto do som que ela produz, quando ouço e falo.
Não tem, portanto, nenhum tom pejorativo, ou negativo. Não há tom, aqui.
Há, apenas, belezas de cenas que consegui captar.
E, desculpem, eu continuo preferindo "mendigo" para denominar "morador de rua". Quando eu me refiro a eles, pessoalmente, prefiro perguntar seus nomes e tratá-los por como eles se chamam, e não por sua "condição social".
De qualquer forma, meu muito obrigada a todos que responderam à pesquisa].
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