Em observação, no ônibus - 145

- Dia primeiro de novembro. Ainda bem. Sim.

Hoje é segunda feira. São 06:31.

Estou no ônibus 415, sentada.

Ao meu lado direito, um banco vazio. Ao meu lado esquerdo, uma janela fechada. Na minha frente, uma mulher sentada. Ela fala ao celular.

- Ahn? Ahn? Tem que pagar sim. Aham. Tá sim. Não posso. Não. Se não vou pagar multa. Não tem nem um ano. Vou pagar multa. É.

O celular bipa. Notificação da agenda.

- Ahn? Se tivesse plantado a... Ele vai. Ele vai fazer. Quando é? Nao eu não sei. O Joel não era meu e eu não tinha que gastar dinheiro com vidro. É. Não estava tão cheio. É. Se eu sair perdendo não. Se eu sair ganhando. Ele não ia me cobrar vidro nenhum. Ele não ia. Ele estava revoltado que eu estava saindo. A ação dele era pra mim não sair, entendeu? Ele não gosta de fingir. Uhum.

A mulher ajeita o cabelo.

- Quando? Humm?

Se ajeita no banco.

- Ele vai ficar de ma fé. Não vai querer, entendeu? Filipe é acessório. Entendeu? Aí pra ele ficar pra um lado. Meu filho ficava escorando ele. Humm. Mas é. Foi o que ele falou pra mim. Não fiz, tá? Pois é. Eu avisei a ele, eu falei: Filipe, não vai pra esse negócio, no morro,. Não conta comigo. E vai ficar bolado de novo. Então me avisa. Tia, tou no morro. Que aí eu vou pro morro também e fico junto com ele. Ele saiu de lá da Conceição dizendo que ia pro morro. Pois é. Eu não fui procurar. Deve ter acontecido. Pegou as minhas e levou. Deve ter ido pra academia e levou. Graças a Deus. Não. Eu falei pra ele. Não. Vou ver se vejo ele hoje. Apesar de que ele falou pra mim. Tia, eu vou pro Thiaguinho. O Filipe. Ninguém chamou ele. Só que ele tem que entender que está desempregado e vivendo as custas dos outro e do pouquinho de dinheiro que ele guardou. Você só está na rua. Perna. Botando gelo. Esse Rafael quer pegar a casa do meio. Eu falei. Você vai me deixar aqui sozinha? Ele falou que vai pagar. Ela está escondendo de mim. Apesar de que sábado eu não vou para casa.

Um homem senta ao meu lado direito.