Lucca, Léo e os curumins

[Escrito em 22 de dezembro de 2024]
[Obrigada ao Bernardo, por ter escrito a quatro mãos]

Lucca é o seu nome. Meu filho. 

Com muita dor, ele não está mais entre nós. Nasceu e desencarnou. Enquanto esteve vivo, e até hoje, onde ele está vivo, ele segue sendo amado.

Mas essa história não é sobre Lucca. Mas me lembrou muito dele.

Eu estava trabalhando. Em uma cidade do interior, quase sem infraestrutura alguma. Chegamos e saem aeronaves com os mais diversos suprimentos.

Dessa vez, estava chegando combustível. O piloto, militar, ao pousar a nave, trazia a sua família para um passeio inusitado. 

O pequeno filho do piloto, de quatro anos, chama-se Léo. É um menino gordinho, loirinho, e estava fardado, tal como o pai. Na sua farda, o seu sobrenome: Satto.

O local de pouso e onde estávamos, a trabalho, era uma aldeia indígena.

Léo saiu da aeronave assustado. Olhando no entorno. Foi quando se deparou com algumas crianças, da sua idade. Indígenas.

Eles estão pelados, pai..., pensou o menino.

E estão pintados...

E esse facão? E as flechas? A mamãe deles deixa?

Eles se olhavam de longe. Todos assustados, e curiosos. Iam se aproximando cada vez mais, até quase se tocarem. 

Bora, filho! Vamos subir pra levantar voo de novo?

O menino Léo correu, sem olhar pra trás. Já dentro da aeronave, uma última olhadela. E acenou, como um tchau, para os dois curumins na estrada.

Eu, que estava na base, pude pegar este momento e fotografar, com o celular. Os curumins deixaram os facões longe e foram correndo para mais próximo da aeronave, para acenar o "tchau" pro Léo. 

Estes, tão pequenos, falando outra língua, imersos em outra cultura, acenavam o tchau de volta.

Tchau é universal. Todo mundo sabe o que significa.

O que me emocionou nesta cena toda foi de que seres tão jovens e tão sábios. Crianças tão diferentes, mas tão curiosas sobre o outro, sobre o diferente.

O olhar curioso do curumim indígena sobre o menino branco. O menino branco curioso sobre os meninos pelados e pintados. Ele também queria ser pelado e pintado. Livre.

E de pensar que meu pequeno Lucca, eu não pude me despedir dele. Eu nem queria me despedir dele... Dizer tchau para um filho é a pior dor que um pai e uma mãe podem ter.

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