Juvenal
[Escrito em 09 de março de 2025]
Juvenal é o nome dele. É meu tio. Trabalha como porteiro em um prédio da zona sul.
Há muitos meses meu primo, João, não conseguia falar com o pai e pediu que eu fosse até o prédio que ele trabalhava, para ver se ainda estava lá e se estava bem.
O primo João não sabia bem o endereço, mas deu algumas referências. Era uma rua principal, perto de uma esquina, na altura da farmácia tal, em frente a uma banca de jornal.
Eu sabia mais ou menos onde era. E fui tentar. Era um primo querido. Um tio querido. Eu não os via há muitos anos, mas acho que saberia reconhecer meu tio, sobretudo.
- Vou tentar, primo. Vou até lá ver se acho o meu tio.
Fui até o prédio. Esperei um pouco do lado de fora. Não havia ninguém na portaria.
Tinham se passado uns 5 anos, mas pareciam quinze. Meu tio estava mais velho. Cabeça branca. Corpo curvo. Olhar envelhecido, triste.
Eu toco a campainha da portaria, ainda no portão da rua. Ele me olha. Um olhar enigmático.
- Juvenal?
- A seu dispor.
- Tio Juvenal?
Ele me olhou, os olhos marejados.
- Meu filho... Como você está? E a sua mãe? O seu pai? O que aconteceu?
- Oi tio, lembra de mim? Eu sou o Renato, seu sobrinho.
- Claro que lembro, como você está?
- Eu vim a pedido do João, seu filho. Ele está atrás do senhor. Não consegue mais ligar.
- Ah, filho. É que eu fui roubado, troquei de número tem muito tempo. Não sei mexer com essas internetes, e perdi o telefone de todo mundo.
- Eu vou colocar o telefone dele no seu telefone, tá bem?
- Tá bem.
- Vamos tirar uma foto? Pra eu mandar pro José, seu filho. Pra ele ver o senhor. Vou tirar uma self com o meu celular, tá bem?
Subitamente, meu tio vai para trás da portaria, onde tem uma parede espelhada, tira do bolso de trás da calça um pente pequeno, já quase sem dentes. Passa a língua na palma das mãos, passa no cabelo ralo e branco, e penteia o cabelo. Olha para ele mesmo, no espelho, dá um leve sorriso, guarda o pente no mesmo lugar.
- Agora pode tirar a foto, filho. Agora estou bonito, pro meu filho José me ver.
Comentários
Postar um comentário