O comerciante
[Escrito em 17 de maio de 2025]
- Falaê minha amiga? Tem um café lá pra nós na moral?
(A mulher só sorriu, e passou, carregando um monte de coisas para abrir a sua loja de cabelos, ali no beco da rua Uruguaiana)
- Gosto de mulher assim, trabalhadora.
(Ela sorriu)
- Mó respeito por mulher trabalhadora. Minha mulher é assim também, rala pra caralho. Trabalhadora pra caralho. Mó respeito.
(Ela sorriu e balançou a cabeça, equilibrando as caixas e coisas para abrir o portão com a chave)
- Minha mulher acha que eu sou comerciante. Eu era, né? Só que comerciante assim, camelô. Aqui na Uruguaiana. Vendia celular. Robado, né?
(Ela quase deu uma gargalhada, mas arregalou o olho e trocou olhar comigo de longe e piscou. Ele não viu).
- Mas aí a vida do crime me chamou. Hoje eu sou bandido mermo. Já levei três celular hoje na Uruguaiana. Vale mil real cada um pra mim ali na Uruguaiana. Porque aí revendo, né? E aí fico aqui, fumando minha maconha, esperando dar perto da hora do almoço, assim, que as moça largo do trabalho, pra robar mais três. Aí faz seis mil e volto pra casa. Vou até levar um presente pra coroa que dei nada pra ela no dia das mães, pô. Tava fraco nessa época. E levar um agrado pra mulher, né? Que hoje tem.
[Todo esse diálogo aconteceu entre um rapaz e uma moça, que estava abrindo a sua loja, no beco, na rua Uruguaiana, às 07h40 de um sábado. Estava eu esperando a Smart Fit abrir e presenciei o diálogo e pude fotografar].
Comentários
Postar um comentário