O status do Whatsapp

[Escrito em 21 de maio de 2025]

Vagou um lugar no metrô, e eu sentei. Era de tarde e não estava muito cheio. Eu só queria sentar para continuar lendo o livro que comecei. 

Sentei ao lado de um homem ligeiramente espaçoso. Os braços eram largos, as pernas grossas, e ele fazia questão de abrir ainda mais as pernas e mexer no celular com os braços encostando em mim.

Normalmente, não gosto que encostem muito em mim, sobretudo as pessoas com quem eu não tenho intimidade, e não conheço.

Pedi desculpas, pois achei que por um segundo, tinha sido eu a esbarrar nele, mas era ele o espaçoso. Ele sequer olhou para mim ou me respondeu ao pedido de desculpas. Apesar de não estar de fones de ouvido, estava entretido no próprio celular. 

Não me aguentei e espiei. Estava vendo status de WhatsApp, e viu uma foto específica. Um homem, em pé, segurando uma arma. Parecia uma metralhadora. Aquelas armas pretas, enormes, que as pessoas empunham pra baixo. Era grande mesmooo. 

Pude perceber que o homem da foto era ele mesmo. 

Ele ampliava a foto e via cada detalhe da arma. E via o seu próprio sorriso, na foto, de canto de boca. 

Na foto, não estava fardado. Ele ampliava a foto e via a sua própria roupa, na foto. 

Quando viu que estava sendo observado, saía da própria foto, e via os status das outras pessoas do seu WhatsApp, dando print nos textos e nas imagens. 

E imediatamente voltava para a própria foto, e ampliava, tal qual uma criança, que aprende a abrir os dedinhos para dar zoom na imagem. Dava zoom, segurava na tela, e via cada detalhe da imagem. A arma. A roupa. O olhar. O sorriso.

Olhei de canto de olho para ele. E ele ainda sorria, orgulhoso.

Pena que pelos motivos errados.

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