Três anos
(Escrito em abril de 2015) AnaZ Esta é mais uma daquelas cartas. Que você não vai receber, ou ler, ou saber. Verbos que não fazem mais sentido onde você "está". Entre aspas mesmo, porque estar também não é mais o verbo. Então, a carta é pra gente, mesmo. A gente que está aqui. Desde ontem - dia 27 - eu acordei com uma vontadezinha de chorar. Uma angústia inominável. "Porque está tristonha?", uma amiga perguntou. "Não sei. Acho que cansaço, só". Até que, aqui no trabalho, precisei planejar o dia de trabalho para o dia seguinte. E o dia seguinte era 28 de abril. Aquele dia. O seu último dia. Eu lembro bem do Nilson (nosso tio Nil), e da Rosa me ligando. E lembro da Moniquinha me contando que, após seu último banho, você ainda chamou por mim. Há três anos atrás. Três anos. Eu cheguei, lá, há três anos, um tiquinho atrasada. Você já tinha se ido. Já não estava mais ali, naquele corpo frágil e doente. A gente colocou as...