Em observação, no ônibus - 324

Hoje é sábado. São 07h15.

Estou no ônibus 220, sentada.

Ao meu lado direito, uma janela fechada. Ao meu lado esquerdo, um banco vazio. Na minha frente, um homem sentado. Ele é negro e magro. Tem o cabelo curto e grisalho. Veste uma blusa pólo preta. Segura no banco da frente com a mão direita. Olha para fora da janela. Olha para baixo. Olha para o outro lado. 

- Não vai bater não? Lá pra frente. Vou ligar pra ela. Acabou de postar, né? Vou ligar pra ela. Valeu. Vou ligar pra ela aqui. 

O homem sentado na minha frente desencosta a mão direita do banco da frente. Encosta a mão direita no banco da frente. Desencosta a mão direita do banco da frente. Mexe no celular. 

- Oi filha. Como você tá? Maneiro. Ah, sim. Tá bom? Tá bom. Não. Ah? Vou. Vou lá amanhã. Tá bom? Tá bom? Tá bom filha. Tá bom então. Beijão. Tá legal. 

O homem sentado na minha frente olha pra fora da janela. Encosta a mão direita no banco da frente. 

- Oi, tá me escutando? Não da nem pra ouvir o que ela falou. Ela vai vir mais tarde. Tá bom? Ai eu te ligo. Isso. Ai eu te ligo pra ir com você. Nada, que isso. Um beijo. Outro.  Tchau. 

O homem sentado na minha frente desencosta a mão direita do banco da frente. Olha para baixo. 

- Liguei pra ela. Liguei pra ela e ela falou que vai mais tarde então. É. Mais tarde. Bem mais tarde. Tá bom? Oi? Fala. Fala. Tá bom então. Beijo, tchau. 

O homem sentado na minha frente mexe no celular e conversa com alguém no WhatsApp. 

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