Fotografando Gente

Hoje é quinta-feira. São 14h52. Estou no consultório do Centro, sentada na poltrona, na sala de atendimento, esperando a paciente de 15h30. Por aqui, porta e janelas fechadas. Tudo na penumbra e silencioso. Apenas o barulho do ar condicionado. O celular bipa. Um email chega. Volto para o silêncio, apenas com o barulho do ar condicionado.

Hoje é quarta-feira. São 12h17. Estou no consultório de Copacabana, aguardando a paciente de 13h. Estou sentada à mesa, na sala de atendimento. Por aqui, porta e janela fechadas e silencioso. Apenas o barulho do ar condicionado, trepidando na janela. O celular bipa. Mensagem no whatsapp do André. Volto para o silêncio. Apenas o barulho do ar condicionado por aqui. O celular bipa. Mensagem no whatsapp do André. Volto para o silêncio. Apenas o barulho do ar condicionado por aqui. O celular bipa. Mensagem no whatsapp do André e do @marcelo, do grupo #SessãodeTerapianoGNT. Volto para o silêncio. Apenas o barulho do ar condicionado por aqui. O celular bipa. Mensagem no whatsapp do André. Volto para o silêncio. Apenas o barulho do ar condicionado por aqui.

Hoje é terça-feira. São 12h21 Estou no Centro Cultural Caravelas, no Humaitá, aguardando a minha consulta. Estou sentada na recepção, em uma poltrona. À minha esquerda, tem a entrada da rua. À minha esquerda, tem a escada, e as salas, aqui no térreo e nos dois outros andares. Na recepção, comigo, está a Cibele(*), sentada na mesa da recepção. Veste uma saia curta, blusa social branca, sandália bege. É magra, alta, cabelo comprido, preto, preso num rabo de cavalo. Usa óculos e está mexendo no notebook. Ao lado dela, um rapaz, sentado num puff. Veste calça jeans, blusa verde, sandália. É magro, alto, e meio calvo. Usa barba e está mexendo no iPod. Ao lado dele, um rapaz sentado no sofá, conversando com ele. Usa calça jeans, blusa cinza, tênis cinza. É, também, barbado. É alto, magro, e tem cabelo preto. Fui chamada. Beijo, tchau.

Hoje é segunda-feira. São 13h08. Estou na Neide’s Coiffeur, sentada, esperando enquanto a tinta age no meu cabelo. Atrás de mim, o corredor por onde as pessoas passam. Do meu lado direito, ninguém sentado. Ao meu lado direito, uma moça escova o cabelo da outra. A cabeleireira é negra, cabelo encaracolado, com mechas loiras. É um pouco gordinha. Veste calça jeans, blusa preta, do salão, rasteirinha verde. A cliente é branca, alta. Veste uma calça azul, blusa cinza, casaco cinza, chinelo havaiana. É loira, tem o cabelo liso, comprido. - Como é que você quer o corte? - Só quero acertar, que está tudo torto. A cabeleireira mexe no cabelo dela. Ambas em silêncio. - Que? Gostou? Não, mexi só um pouquinho. – a cabeleireira conversa com uma senhora, funcionária do salão, que está sentada longe, e elogia o cabelo da cliente que ela está atendendo. - É só a pontinha mesmo, né? - É, só acertar. A cabeleireira liga o secador, e seca o cabelo da cliente. Uma...

Hoje é sexta-feira. São 10h48. Estou no Clube do Conhecimento. Estou assistindo a palestra da Rute, sentada na primeira fileira. Do meu lado esquerdo, janela. Do meu lado direito, Gleice está sentada. Veste sapato preto, alto, calça preta, blusa social branca, bolsa preta sobre seu colo. É magra, alta, branca. É loira e tem o cabelo comprido, preso num rabo de cavalo. Tem as pernas cruzadas e as mãos cruzadas. Na minha frente, está sentado o Carlus. Veste terno cinza, com blusa social branca. É alto, magro, branco, cabelo preto, curto. Tosse. Coça o olho. Coça os dedos. Morde os dedos. Tosse. Cruza os braços. Ajeitou-se na cadeira. Cruzou os braços. Gleice pegou o celular. Carlus olha para Gleice, volta a olhar para a palestrante. Gleice tira os olhos do celular, olha para a palestrante. Volta a olhar pro celular. Carlus ri. Coça o nariz. Cruza os braços. Gleice olha para a palestrante. Gleice guardou o celular e olha para a palestrante. Carlus leva...

Hoje é quinta-feira. São 12h19. Estou no trabalho do André, sentada na recepção, sozinha. Do meu lado direito, uma cadeira vazia. Do meu lado esquerdo, a porta de vidro, de entrada da sala. Na minha frente, um balcão. Um rapaz entra no balcão e senta. É branco, careca e usa uma blusa social rosa claro. Pigarreia. Não consigo mais vê-lo, pois o balcão é alto e tem, também, um computador impedindo a minha visão. Agora, permanece calado. Uma moça abre a porta do balcão e conversa com ele. A moça fecha a porta e entra. Agora, o rapaz permanece calado. O André voltou. Vou embora. Tchau.

Hoje é terça-feira. São 16h03. Estou no Centro Cultural Caravelas, aguardando a minha consulta. Aqui, está a Cibele(*) e a Zulmira(*). Cibele(*) está vestindo calça jeans, blusa social estampada, com fundo laranja, e sandália beje, alta. Tem o cabelo preso e usa óculos. Zulmira(*)  veste calça legging cinza, blusa social preta. Tem o cabelo preso e, também usa óculos. Cibele(*)  está sentada na minha frente, e  Zulmira(*)  andando pela recepção. - Olha, hoje essa yoga me tirou do sério aqui. - Tirou? (...) - Tirar do sério é o site da Prefeitura. (...) - Você é do mal. - Gente, vou te contar. As duas conversando devem ser muito engraçado. Eu tenho certeza que quando terminar essa consulta vai botar tudo na mão. (...) - Não, ainda não. Vem cá, o meu neto me ligou agora, e me disseram que depositaram outro salário para ele. - Ué, é o décimo terceiro. - Ah, verdade. Ai, Jesus, até esqueci que existia isso. ...

Hoje é segunda-feira. São 12h51. Estou no escritório do meu pai, sentada na mesa, de frente para a mesa de reunião, onde está sentada a Nísia (*), candidata que faz a redação. Nísia é magra, baixinha, tem o cabelo preto, liso e curto. Usa uma blusa verde, sem manta. Usa óculos. Está parada, com a mão no queixo, lendo a sua redação. Destampa a caneta, bate com a caneta na mesa, enquanto lê. Pousa a caneta. Vira a folha de papel. Desvira a folha de papel. Conta a quantidade de linhas que escreveu, marcando com a tampa da caneta. - Terminou? - Terminei sim. Vou levar Nísia lá fora. 

Estive hoje passando pelo Aterro e tirando algumas fotos, como de costume. Uma foto inesperada me mostrou – com o Pão de Açúcar tão lindo ao fundo – uma árvore, com uma copa frondosa, vertendo uma sombra. Próximo dali, daquela sombra, um banco vazio. Apesar de não ter gente, fotografei a cena. Fotografando não-gente. E, refleti (reflito, agora) sobre a luz e a sombra. E sobre bancos vazios. Todos nós temos luz e sombra, fora e dentro da gente. Algumas pessoas, no entanto, atuam na vida, nas relações, projetando a sua luz ou a sua sombra. Algumas oferecem o seu melhor, para si e para o outro, para as relações, portanto. Outras retêm o que o outro tem para dar, e projeta a sombra do outro quando, na verdade, é a própria sombra travestida de sombra do outro. É sempre mais fácil ver a sombra do outro do que a nossa própria. Olhar pra dentro é sempre mais difícil, não? Todos temos luz. Até aqueles que achamos que não. E, neste caso, não é uma questão religiosa, de “seres de...

Hoje é quinta-feira. São 10h23. Estou no escritório do meu pai, entrevistando pra vaga de Vendedora. Estou sentada na mesa, de frente para a mesa de reunião. Na mesa de reunião, duas candidatas fazem redação. Mais próxima a mim, está a Cibele (*). É mulata, magra, baixa. Tem o cabelo encaracolado, castanho, bem comprido. Usa uma blusa preta, e a bolsa preta, sobre seu colo. Mais distante de mim está a Danielli (*). É mulata, gordinha, alta. Tem o cabelo encaracolado, bem curto na cabeça. Usa uma blusa social azul marinho. Uma bolsa marrom ao seu lado, na cadeira. Ambas fazem a redação, sérias, curvadas sobre a mesa. Cibele ajeita o cabelo e ajeita a bolsa sobre seu colo. Estala os dedos, pára de escrever e lê a sua redação, com a mão na boca. Ajeita o cabelo e volta a escrever a redação. Danielli funga, sem parar de escrever a redação. Cibele coça o rosto e volta a escrever a redação. Danielli coça a testa e volta a escrever a redação. Cibele coloca...