Luz e sombra


Estive hoje passando pelo Aterro e tirando algumas fotos, como de costume. Uma foto inesperada me mostrou – com o Pão de Açúcar tão lindo ao fundo – uma árvore, com uma copa frondosa, vertendo uma sombra. Próximo dali, daquela sombra, um banco vazio.

Apesar de não ter gente, fotografei a cena. Fotografando não-gente. E, refleti (reflito, agora) sobre a luz e a sombra. E sobre bancos vazios.

Todos nós temos luz e sombra, fora e dentro da gente. Algumas pessoas, no entanto, atuam na vida, nas relações, projetando a sua luz ou a sua sombra. Algumas oferecem o seu melhor, para si e para o outro, para as relações, portanto. Outras retêm o que o outro tem para dar, e projeta a sombra do outro quando, na verdade, é a própria sombra travestida de sombra do outro. É sempre mais fácil ver a sombra do outro do que a nossa própria. Olhar pra dentro é sempre mais difícil, não?

Todos temos luz. Até aqueles que achamos que não. E, neste caso, não é uma questão religiosa, de “seres de luz”. É o caso de todos serem iluminados, que possuem uma luz interna. Ainda que o próprio ser ache que não. Existe uma fagulha que nunca se apaga.

Onde há sombra, tem sempre uma luz por trás, que possa projetar para que a sombra apareça. Aparece a questão, então, de o que é luz e o que é sombra de cada um. Onde eu projeto a minha essência? Onde intensifico o eu no mundo? Onde intensifico o eu no outro?

E, sobre o banco vazio? Penso a respeito da nossa existência, da nossa essência vazia. Da solidão e da (in)completude do ser. O banco, não por um acaso, está vazio onde está a sombra. Neste caso, a sombra da árvore.

Penso que é na solidão, na (in)existência de qualquer gente para ser fotografada que podemos pensar a respeito de luz e sombra. A respeito das relações com o outro e, sobretudo, conosco mesmo.

Quem estaria sentado ali, se houvesse alguém para ser fotografado? Acho que, neste caso, qualquer um de nós. Ou ninguém.

É um jogo - de luz e sombra - escrever sobre não-gente e sobre tantos-alguéns, de uma só vez.

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