Em observação, na Neide's Coiffeur - 2

Hoje é segunda-feira. São 13h08.

Estou na Neide’s Coiffeur, sentada, esperando enquanto a tinta age no meu cabelo. Atrás de mim, o corredor por onde as pessoas passam. Do meu lado direito, ninguém sentado. Ao meu lado direito, uma moça escova o cabelo da outra.

A cabeleireira é negra, cabelo encaracolado, com mechas loiras. É um pouco gordinha. Veste calça jeans, blusa preta, do salão, rasteirinha verde.

A cliente é branca, alta. Veste uma calça azul, blusa cinza, casaco cinza, chinelo havaiana. É loira, tem o cabelo liso, comprido.

- Como é que você quer o corte?

- Só quero acertar, que está tudo torto.

A cabeleireira mexe no cabelo dela. Ambas em silêncio.

- Que? Gostou? Não, mexi só um pouquinho. – a cabeleireira conversa com uma senhora, funcionária do salão, que está sentada longe, e elogia o cabelo da cliente que ela está atendendo. - É só a pontinha mesmo, né?

- É, só acertar.

A cabeleireira liga o secador, e seca o cabelo da cliente.

Uma manicure passa atrás de mim, carregando o potinho de unhas. A manicure passa de volta.

A cabeleireira desliga o secador. Passa um produto na sua mão, que parece óleo. Esfrega uma mão na outra e passa no cabelo da cliente.

- Muito obrigada, hein?

- Gostou?

- Uhum. Muito obrigada.

A cliente se ajeita na cadeira, ajeita o próprio cabelo.

A cabeleireira passa atrás de mim.

A cliente se levanta e passa atrás de mim.

Agora, ninguém ao meu lado direito e ninguém ao meu lado esquerdo.

Uma cabeleireira passa atrás de mim.

A cabeleireira que estivera ao meu lado, passa atrás de mim. E passa de volta. E passa de volta.

Moisés passa atrás de mim.

- Vou dar uma puxadinha, tá, amoré?

- Tá bom.

E está atrás de mim, mexendo no meu cabelo. E sai.

Uma cabeleireira passa atrás de mim.

Uma depiladora passa atrás de mim. E passa de novo.

Uma cliente passa atrás de mim.

A cabeleireira passa atrás de mim, de novo.

Moisés passa atrás de mim, e guarda um avental, ao meu lado.

Uma manicure passa atrás de mim, mexendo no celular.

Moisés passa atrás de mim.

A cabeleireira de antes para ao meu lado esquerdo, com uma cliente.

- Como você vai cortar?

- Como da ultima vez, mas aqui atrás, batesse mais um pouquinho.

- Tá. Em cima não.

- Só um pouco.

- Você falou que ia cortar, mas que não tinha preferência... aí eu...

- Não, é porque foi você que cortou da ultima vez.

- Deixar mais desfiadinho, né?

A cliente é uma senhora, veste uma calça branca, blusa preta estampada, sapatilha preta. É branca, alta, meio gordinha. Tem o cabelo curto, liso, preto.

- O rapaz ficou chateado?

- Não, ficou não. Eu falei que você tinha preferência. É porque eu achava que podia ser com qualquer pessoa, entendeu?

A cabeleireira corta o cabelo dela.

Uma faxineira passa atrás de mim.

Uma manicure passa atrás de mim. E passa de novo. E passa de novo, agora, carregando o potinho com água para as unhas.

Moisés vem.

- Vamos, amor?

- Vamos.

(...)

Agora Moisés está cortando meu cabelo, atrás de mim.

Ninguém ao meu lado direito, ninguém ao meu lado esquerdo.

- Luana, assim tá bom?

- Não sei, deixa eu ver no espelho.

- Tá bom, tá ótimo. Porque, quando seca, ele sobe.

- É.

- Vou dar só uma desfiadinha de leve, nas pontas.

A cabeleireira passa atrás de mim.

- Loslene, eu fui lá com ela, né? E ela falou com os olhos, ah, mas foi a menina que cortou meu cabelo. Não, tinha dado uma explicação. E eu lembrei que você tinha cortado e bem. Sério, por isso. Tu não lembrou dela, né? Mas lembrou agora, né? Aqui tá grande, né, Luana?

- É, pode tirar bem.

- Mas você quer que tire caindo, ou tire reto?

- Pode tirar caindo.

- Caindo assim, né?

- Eu vou fazer minha unha. Vou ficar perto de você. Vou ficar perto. Vê, acho que tá bom, né?

- Ta ótimo. Tá ótimo. Obrigada, Moisés, ficou perfeito.


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