Fabiana

Hoje entrevistei Fabiana. Apenas mais uma candidata dentre tantas que recebo. Nada de especial nela. Nenhuma roupa, cabelo, sapato, tom de voz, experiência ou competência me chamaria a atenção.

Seu olhar me chamou a atenção.

Mora em Caxias, com a mãe. Sem filhos, sem irmãos. O pai, falecido de infarto fulminante em 2005. 

35 anos, estudante de Administração, último período. Escrevendo monografia sobre algum assunto do qual não me lembro mais.

Foi entrevistada coletivamente, junto com outros quatro candidatos. 

Postura firme, silenciosa, esguia. É uma mulher alta, magra, vestida de forma sóbria. Cabelos e olhos negros, lisos. Sim, os olhos também lisos.

O olhar. Este me impressionou. Desejava ser feliz. Não era. Não é. Não foi o pai, nem a sua morte. Foi o seu nascimento. O de Fabiana. Já nascera assim, com um olhar triste. 

A sua vida? Pacata, normal. Nada de feliz, nem triste. Vida normal de subúrbio do Rio de Janeiro. 

Fabiana cultivava o olhar triste. Não com esforço. Já aprendera a ser assim: triste. 

Eventualmente, ela sorria, balançava a cabeça afirmativamente, achava graça em algo que era dito. Mas o olhar permanecia liso. Triste.

Fabiana era (é) uma mulher bonita. Seu olhar triste, também.

Foi aprovada. Talvez, pela autenticidade do olhar.

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