Em observação, no doutor Simonides
Hoje é dia 05 de agosto. São 16h46.
Estou no consultório do doutor Simonides (alergologista) em Botafogo.
Estou sentada num sofá, na recepção.
Do meu lado direito, a entrada da clinica, com a porta que dá acesso à rua (isso
aqui é uma casa). E, existe uma outra recepção menor, com uma escada, com
acesso às salas de atendimento. Do meu lado esquerdo, a recepção, com duas
recepcionistas (não consigo vê-las, pois o balcão é alto), e uma varanda (um
espaço aberto), com outras salas. E, na minha frente, algumas cadeiras. Acima de
mim, a televisão passa Garfield, o filme.
Dois rapazes na recepção. Um sentado,
na minha frente. É alto, gordinho, veste calça jeans preta, blusa pólo lilás,
listrada, tênis cinza, e mexe no celular. Aparenta menos de 30 anos.
Outro rapaz, de pé, no balcão da
recepção, no telefone fixo da recepcionista. Não consigo ver a roupa que usa.
- E pra agora, minha situação aqui,
corrente? Vocês têm que? Elas que vão ter que ligar pra Unimed Rio? Elas estão
falando aqui que não podem ligar não. Só passar a validade? Qual a validade da
minha próxima carteira? É. Ah, tá. 16/07/2015. Precisa de minha alguma coisa?
Só isso? Só isso só querida? Você me envia o cartão novamente? Tá ok. Obrigado.
Ah, tá. Obrigado. Tchau.
Ele desliga o telefone.
- Tem como botar o celular ai pra
carregar, que eu tou sem bateria? Ah, eu tou sem carregador. Pode botar aí.
Obrigado.
Entra uma senhora.
- Boa tarde.
O rapaz pega o carregador da
recepcionista, senta na minha frente, também, ao lado do rapaz de blusa pólo
listrada. Agora vejo sua roupa: usa bermuda verde, camiseta preta, estampada, e
chinelo havaiana, branco. É barbado. Tem cerca de 30 anos. O outro rapaz, ao
seu lado, guarda o celular e estica as pernas, vendo o filme infantil na TV.
O rapaz que estava ao telefone,
agora, sentado ao lado do outro, mexe no seu celular, concentrado.
O outro rapaz encolhe as pernas e
cruza os braços.
A senhora passa na recepção e sai.
- Tchau, boa tarde.
Uma senhora passa na recepção e pára
no café, ao meu lado. Nem tinha visto essa mesinha de café logo aqui, ao meu
lado.
Um senhor entra na recepção e pára no
balcão.
- Doutor Simonides? Estou. José
Andrade. Tem muita gente na frente? Três na frente? Eu vou lá fora. Posso
deixar aqui?
Ele guarda uma sacola, com exames, do
lado de dentro da recepção. É um senhor de cerca de 50 anos. Veste jeans claro,
blusa social azul e branca (parece quadriculada) e sapato preto. Ele sai da
clinica, em direção à rua.
O rapaz continua a assistir o
Garfield; e o outro não pára de olhar o próprio celular. As duas recepcionistas
trabalham, silenciosas. O rapaz que vê TV coça o nariz e o cabelo. Cruza os
braços. Olha para o chão, ao seu lado.
O outro tira o olho do celular e olha
para o filme. Cruza as pernas. Continua mexendo no celular. Olha para a tomada,
na parede.
O outro estica as pernas, pega o
celular no bolso e começa a mexer no celular, sorrindo, e esticando as pernas.
O outro coça o cabelo. Mexe nas
revistas próximas a ele.
Ambos mexem nos seus celulares. O
rapaz de blusa pólo listrada guarda o celular e cruza braços e pernas e
continua a ver o filme.
Uma recepcionista sai do balcão e vai
até a porta, abrir a porta para um senhor. Ele entra e senta, também na minha
frente. A recepcionista volta para dentro do balcão.
O senhor que entrou agora tem cerca
de 68 anos. Usa calça jeans clara, blusa de malha (tipo Hering) cinza, sapato
marrom, sem meias. Cabeça branca, com vasto cabelo. Aparenta ser meio índio /
japonês. A pele morena, os olhos puxados. Tem as pernas cruzadas. Tira meleca
do nariz, enquanto olha o filme.
Um casal entra na recepção, com uma
menina. Eu conheço essa mãe, de algum lugar, não sei bem da onde. Ela pára ao
meu lado e serve café para ela e a criança. Ela – a mãe – senta bem à minha
frente, ao lado do senhor índio / japonês. A criança vai até a mãe.
- Quer sentar com ela aqui?
- Não, senhor, pode ficar aí.
- Olha aí, filha, o que tá passando?
Garfield.
A recepção, agora, está cheia. A mãe
veste calça verde, blusa branca. A criança está sentada no colo dela. A menina tem
cerca de 10 anos. Veste uniforme de escola. O pai permanece em pé.
Já sei da onde conheço essa moça! Ela não deve ter me reconhecido, já tem tempo que estivemos juntas.
O pai, a mãe e a criança conversam. A
menina no colo da mãe, o pai passeando pela recepção, andando.
Uma moça entra na recepção e pára no
balcão.
A criança levanta do colo da mãe e
fica dançando, pela recepção. Eventualmente, a menina vai até ela, e elas se
beijam. A criança vai até o pai, vem até a mãe. Senta ao lado do senhor (do
lado oposto da mãe, com o senhor entre elas). Sai do local, vai até a mesinha e
procura umas revistas. A mãe da criança me olha.
Uma moça – que parece médica, pela
roupa que veste – vem até a recepção e cumprimenta o senhor índio japonês.
- Tudo bem, Paulo? Cinco foi a outra
semana.
Ambos ficam em pé e conversam.
- Ah, quem sabe? Eu vou ligar pro...
Ele ainda não chegou. Se ele for atrasar, eu te antecipo. Deixa eu dar uma
ligadinha pra ele, tá?
Ela é uma das médicas da clinica. Ela
sai da recepção e o senhor Paulo (agora sei o nome dele!) permanece de pé.
A recepcionista sai do balcão e
retorna.
A médica volta, com o celular na mão,
tentando falar com alguém.
O rapaz que, antes via o filme, agora
fala no celular.
- Oi, tou. Tou. Não sei, por que?
Tou. Por que? Uhum. Hum.
A médica volta, fala com o Paulo, e
ele sai. E ela entra.
Um rapaz entra na recepção. A
recepcionista sai da recepção.
A médica passa por mim e me olha digitando
no netbook.
O rapaz que antes estava na recepção
senta ao meu lado.
O rapaz que estava no celular (aquele,
de pólo listrada) chama-se Mateus e subiu, para a consulta. Foi chamado. Descobri
seu nome
O casal, agora, com a filha, senta junto.
A mãe me reconheceu, mas não nos falamos. Percebi no olhar que cruzamos. Ela
está sentada bem à minha frente. A filha está sentada entre o casal.
O pai, que eu não tinha visto, veste
uma bermuda beje, uma blusa branca e um casaco preto, e tênis preto.
- 23 anos.
- Não. Esse aqui.
- Não, isso tem uns 49, 57.
- 45. Voltou a usar heroína após três
anos.
Pai, mãe e filha conversam sobre
personagens da TV na revista.
Uma moça entra na recepção, vai até o
balcão, e senta ao lado da mãe da criança. Logo ela é chamada, levanta e sobe.
O rapaz que está sentado ao meu lado
usa uma bermuda de linho beje, uma blusa de malha branca, e uma sandália de couro.
Ele olhou para a minha tela, mas não me leu. Sabe olhar perdido? Ele usa
óculos, até.
A menina conversa com o pai. E a mãe,
também, mas menos.
O outro rapaz está com o celular
carregando, e não tira o olho dele. Redes sociais?
A médica sai do balcão da recepção.
- Ela é a próxima? Tem quantas pessoas
na frente? Três? Dá tempo de eu ir na rua e voltar? Mais ou menos quantos
minutos? Quer ir com mamãe?
- Quero.
- Pode ir.
A mãe levanta.
- Viu, a Beth Carvalho, ficou
internada. Negócio de coluna eu acho.
- Coitada.
A mãe sai com a criança. O pai fica
sentado.
Agora, o pai lê revista, sozinho e
silencioso, e o rapaz no celular carregando, o tempo todo.
O rapaz que estava sentado ao meu
lado chama-se Leonardo e é chamado e vai em direção a varandinha.
Agora, estamos eu e os dois rapazes:
o que não tira o olho do celular e o pai da criança, que não pára de olhar para
a revista. Ele tem as pernas cruzadas. Coça o rosto. Olha para trás.
O Mateus (o rapaz da pólo listrada) volta
para a recepção, e pára no balcão.
O Leonardo (o que estava sentado ao
meu lado) passa pela recepção e sai.
A recepcionista passa pela recepção e
entra no balcão.
- Luana? Pode subir. Consultório dois!
- Oi, tou indo. Deixa eu só salvar
aqui. Obrigada.
(São 17h20).
[Exceto pelo médico, todos os nomes dos personagens fotografados são fictícios].
[Exceto pelo médico, todos os nomes dos personagens fotografados são fictícios].
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