Pedro Ernesto Madeira Figo
Conheci
Pedro, por acaso. Tínhamos amigos em comum, e estivemos juntos algumas poucas
vezes.
Eu
moro na Tijuca, e ele já veio à minha casa, algumas vezes, com estes amigos,
beber, jogar, bater papo. Ele (e os meninos) traziam uns
qualquer-coisa-para-comer e eu e Augusto (o marido) providenciávamos o álcool.
Pedro
e Augusto não se conheciam, da primeira vez. Pedro foi apresentado como Pedro
Ernesto e, Augusto, sem deboches, só o chamava assim.
Pedro
Ernesto não tinha dito, mas preferia ser chamado assim. Era um homem
enigmático.
Não
sabia bem o que ele fazia, qual profissão tinha, nada. Na verdade, isso não
importava muito. Não éramos (somos) amigos, apesar de eu gostar dele. Pedro
Ernesto e Augusto ficaram amigos rapidamente e, Augusto me contava sobre ele:
-
Saca o Pedro Ernesto? Ele é Engenheiro, mas não exerce.
-
Nossa, nunca imaginei ele como engenheiro.
-
Sério, por que?
-
Sei lá, eu acho que ele seria qualquer-outra-coisa.
-
Que coisa?
-
Não sei. Não consigo analisar o Pedro.
-
Pedro Ernesto, Ana. Pedro não. Pedro Ernesto. As pessoas devem ser chamadas
pelo nome que elas gostam de ser chamadas.
-
E o que Pedro Ernesto faz, já que não é engenheiro?
-
Ele é engenheiro, só trabalha com outra coisa.
-
Que coisa?
-
Também não sei.
Das
vezes que estivemos com Pedro Ernesto, aqui em casa, eu via um homem rindo,
jogando, brincando, soltando piadas. Eu não sabia nada da sua vida, além de seu
nome e de que era Engenheiro, e não exercia. Nunca me atrevi a perguntar. Nem a
Augusto (eu sabia que ele sabia, mas a lealdade estava presente na remota
amizade dos dois).
Mas,
o que quero falar não é de Pedro Ernesto - ou de Augusto. Quero falar sobre as
minhas impressões e da fotografia que fiz de Pedro Ernesto.
Era
um homem sociável, falante, brincalhão, estabanado. Mas eu conseguia ver
tristeza em seus olhos. Solidão. Nos segundos entre um jogo e outro, Pedro
olhava para os lados. Não para ninguém. Nem procurando nada. Apenas para fora
de si.
Augusto
- observador, como a sua mulher - acompanhava o olhar dele, e fazia que sim com
a cabeça, tipo "estou aqui". Pedro Ernesto sorria amarelo e voltava
ao jogo. Ou ao álcool. Ou aos amigos.
Eu
acho que Pedro Ernesto nunca chorou. Exceto quando sua avó morreu, há alguns
anos atrás. Deve ter aproveitado a morte da sua velhinha para chorar tudo o que
jamais chorara antes. E depois.
Perdi
contato com Pedro Ernesto. Nunca mais o vi. Acho que se mudou, para o
interior do Rio.
Ele
mandou uma carta para Augusto. Pude ler, no envelope: "Pedro Ernesto
Madeira Figo".
-
Amor... Carta do Pedro Ernesto pra você. Coisa mais antiga isso, gente? Carta?
-
Deixa aí, já vou ler. Obrigado.
Por
acaso, vi Augusto lendo a carta. Pude ver, em seus olhos, os mesmos olhos
tristes que vi de Pedro, alguns anos atrás aqui em casa.
-
Tá tudo bem com Pedro, Augusto?
-
Pedro Ernesto, Ana.
[Era
bonito ver o respeito que ele tinha pelo amigo, pelo desejo de como ser
chamado, mesmo quando não estava presente. Eu me cagava pra isso. Eles dois,
não].
-
Tá tudo bem com Pedro Ernesto?
Augusto
só me deu um sorriso amarelo. E silencioso.
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