Em observação, na fisioterapia - 2

Hoje é sexta-feira. São 8h36.

Estou na fisioterapia, em Copacabana, sentada à recepção.

Ao meu lado direito, parede. Ao meu lado esquerdo, uma cadeira vazia. Na minha frente, uma senhora sentada. Ela é branca, um pouco gordinha, cabelo curso, castanho, e usa óculos. Veste uma bermuda azul, blusa cinza e sandália preta. Ela está conversando com o senhor do seu outro lado, que não consigo vê-lo. Ela está vendo TV, com as mãos cruzadas na frente do corpo.

- Deve ser porque aqui abre, começa 7h talvez. As meninas para trabalharem chegam às 7h eu acho. Já faz tempo que eu não ando aqui. Agora é que eu voltei. Aqui não tem ar refrigerado. Nossa senhora. Isso também é igual... Eu acho que o mundo está acabando. Eu acho que o mundo vai acabar, né? A gente... Quem vai engolir? A quem vai ruim? Matam, roubam, é uma roubalheira, é uma roubalheira desgraçada... Matam por troco e por nada. A mesma coisa. Agora tá lá fora... E a miséria que fizeram, né? Só dois? E a miséria que fizeram, né? Ah, pronto. É. Eu tenho família lá na França. Sobrinhos, sobrinhos e sobrinhos. Eu tenho um bocado de família lá. Mas já estão muito longe. Mas já estão muito longe. Uns e outros qualquer e não tem perigo nenhum. Mais um chefe de família, coitado. Mas vagabundo não, tá matando é que nem rato. É muito bom. É muito bom, mas... Também tem os seus problemas. Bom dia.

Ela olha para a área da porta, e continua assistindo a TV, com as mãos cruzadas na frente do corpo.

- Ei, bom dia.

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