O moço e o sábado

(Escrito em 11 de dezembro de 2015)

Era um sábado à tarde. 15:00h e pouco.

Eles dois tinham ido me pegar no consultório, num fim dum dia de sete pacientes. Estavam sentados no hall dos elevadores do meu andar. Dali, íamos ao teatro, nós três.

Eu, que não havia almoçado, sugeri um Mc Donalds. Tava a fim de comer besteira.

Eu fui primeiro ao segundo andar, com a minha bandeja. Ela veio depois. E, por mim, seu pai. 

Estávamos conversando sobre qualquer-coisa, quando ela saca o livro da bolsa e começa a nos contar charadas. Eis que chega um moço meio estranho. 

Tá bom, eu gosto de gente estranha. Eu sou estranha. Nós somos. Nós duas, por exemplo, estamos sempre meio descabeladas e fazendo, de vez em quando, uma mini-bagunça.

Mas o moço era um estranho-estranho-mesmo.

Cruzou o olhar conosco e puxou assunto com ela. Perguntava o que estava lendo.

Ela, que não gosta muito de papo com quem não conhece, olhou pra gente, e sorriu, tímida.

O moço estava vendendo peça de teatro; ingresso de cinema; suas idéias; e vendendo o fato de que, no auge do seu falatório, se dizia autista.

- O papai, faz o quê?

- É professor - ela disse.

- E a mamãe? Faz o que?

Um segundo de constrangimento. E agora?, pensei eu.

- Eu não sou a mamãe -, digo. Sou a mamãe do coração.

- Mamãe do coração é a segunda mamãe, não é?

Em meio segundo, ela cruza o olhar comigo e, sem tirar os olhos de mim, balança a cabeça fazendo sim. No mais absoluto e maravilhoso silêncio ela disse: a mamãe do coração é a segunda mamãe.

E, mais tarde, no ônibus, voltando pra casa, ela estava cansada. Recostou a cabeça no banco para tentar cochilar.

Ofereci meu colo. Ela deitou no meu peito, se aninhou. Suspirou. E sequer dormiu. Ficou ali, com os olhos abertos, olhando o mundo passar do lado de fora. No mais absoluto e maravilhoso silêncio foi ali que a gente ficou.

E é assim que a gente vai ficar. Pro restante de todos os nossos dias. Nós três. 

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