Ligou engano

(Escrito em Janeiro de 2020)

Eram quase 23h. Por um motivo qualquer, eu ainda estava acordada. Momento raro, neste horário.

O celular toca. Número restrito. Aquele micro-segundo.

- Filha em casa? Marido em casa? Todos em casa. Vou atender, né? Vai que...

- Alô.

- Mãaaaaee....

Sinto cheiro de golpe e a minha veia humorada não estava saltada dessa vez.

- Ligou engano, amigão.

A mesma pessoa que me chamou de mãe, não mais que de repente, diz:

- Oi, minha linda... - com a voz do antigo tele-sexo (ainda existe isso?)

- Continua ligando engano. Não sou a sua linda.

São 23h. Ele não espera que eu tenha bom humor neste horário, né?

- Ah, você não é a minha linda...? - com a voz ainda mais sensual.

Coloquei o celular no viva voz. E entra o marido no quarto.

- Quem era amor?

- Engano, paixão. Primeiro um rapaz achando que eu era a mãe dele. E em seguida achando que eu era a linda dele. Ou seja: não era pra mim. Ligou engano.

E eis que eu ouço no fundo da ligação.

- É, mané. Tenta outro. Esta não deu.

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