Postagens

As amigas e a meditação

Ela aprendeu a correr. Re-aprendeu a caminhar. A respirar, a olhar. São muito amigas.  A que corre, é meio surda. Com os fones de ouvido, então, mais ainda. Quando corre, coloca os fones e uma música qualquer. Pode ser funk, música clássica, ou qualquer-outro-som.. Elas encontraram-se depois, bem depois. Grandes amigas. - Lua, você não viu que te chamei? - Não, quando? - Na praia, você estava correndo. - Nossa, não te ouvi... Perdão. - Mas você olhou na minha direção, sua louca! - Olhei? - Lógico.  - É que eu estava meditando. - É, você não é normal. Ninguém medita correndo. Cadê a posição de lótus? O silêncio? Os olhos fechados? Então a amiga que corre explicou, ainda que apenas na teoria: Correr (pode ser caminhar) significa movimento; Precisa ter um propósito. Caminhar no shopping não vale; Tem que ser "caminhar" ou "correr" em algum local que seja a "sua casa"; O ar entra. O ar sai. Você sente, fisicamente,...

Em observação, no Psicologia e Coaching

Hoje é quinta-feira. São15h03. Estou no consultório “Psicologia e Coaching”, aguardando os três candidatos de 15h. Estou sentada na minha mesa. Na minha frente, três cadeiras vazias. Ao meu lado direito, parede. Ao meu lado esquerdo, um pequeno móvel com minha bolsa em cima. Por aqui, tudo aceso e silencioso.

Em observação, n'O Colesterol

Hoje é quarta-feira. São 14h58. Estou em Botafogo, na gravação d’O Colesterol. Estou sentada em um banco de praça, no play de um prédio residencial, do entrevistado – Miguel. Miguel está sentado na minha diagonal direita. Na minha frente, parte de um banco vazio; ao meu lado esquerdo, o play vazio e silencioso. Ao meu lado direito, André está sentado. Ele é mulato, alto, um pouco acima do peso. Tem o cabelo preto, curto, e é barbado. Veste calça jeans, blusa e casaco preto e sapato preto. No seu colo, notebook. Na sua mão direita, um gravador. - Ok. E até entrando naquilo que a gente tava discutindo. E o Felipe mandou uma pergunta. Sempre nos momentos de maior tensão para o basquete nacional, os jogadores que atuam na NBA se esquivam de maiores responsabilidades ou alegam problemas pessoais. O que você acha que ocorre de fato? Ele balança a cabeça, positivamente. Olha para o entrevistado. O braço direito esticado. - Entrega total. E... Você foi o último técnico...

Em observação, no Cereja Café

Hoje é terça-feira, são 14h16. Estou no Cereja Café, cafeteria no Centro do RJ, sentada em uma mesa, aguardando clientes para reunião. Ao meu lado esquerdo, uma cadeira com minha bolsa e pasta em cima. Ao meu lado direito, uma cadeira vazia e um pequeno corredor, onde as pessoas passam. Na minha frente, uma cadeira vazia, e uma mesa em frente, com o pai e o filho sentados. Bem a minha frente, está o pai. Ele está sentado. É branco, alto, magro. Tem o cabelo branco, liso, molhado. Usa óculos. Veste uma calça jeans escura, uma blusa social listada, azul e branco e um sapato social marrom e meias pretas. - Ah, sei. Ah. Meu celular toca. Converso com uma senhora sobre o plantão psicológico. O senhor da minha frente está sentado, agora, sozinho. - Tá bom. O filho retorna e senta ao lado do pai. - Vem cá. Eu quero tirar isso daqui. Eu não posso tirar? Não sobrecarrega isso não? Ah, tá, entendi. Agora eu quero ver aquilo que você falou pra mim. É aqui?...

Em observação, no táxi - 2

Hoje é terça-feira. São 10h11. Estou no taxi do seu Francis, voltando de Nova Iguaçu para o Centro. Na frente, Sr. Francis no volante, meu pai no carona. Atrás, eu e Gaeth, ao meu lado esquerdo. Ela é baixinha, gordinha, grisalha, cabelo curto, e usa óculos. Veste uma calça vinho, blusa estampada, sandália. Casaco vinho e bolsa ao lado, entre a gente. Ela lê um prospecto. Guarda um prospecto. Abre a bolsa e pega o celular e digita nele. - 20 é terça, 21 é quarta, viu, Luana? Ela guarda o celular na bolsa. Olha para fora. - Não, dar ré em curva, numa rua estreita, não é mole não. É provável. Mas, aquilo ali tá até errado. Caminhão não devia fazer isso. Caminhão, entrar numa rua curva. Não tá legal. Isso não tá legal. Afe. Isso é Avenida Brasil? Dutra, né? Restaurante Vovô Genaro. Olha só que nome interessante... Vovô Genaro... é, todos eles. Coloca a mão no apoio de mão, sobre a janela. E o outro braço apoiado na pasta do meu pai, entre a gente. - Será que a...

Dagmar

[Escrito em 31 de maio de 2014] Conheci Dagmar em abril, num dia qualquer, numa ocasião qualquer. Não importa o eu nesta história.  Dagmar existe na vida real, e conversamos durante cerca de trinta minutos. Eu não precisei perguntar nada. Dagmar contava tudo, sua história de vida, tão inusitada. Apesar do nome ambíguo, Dagmar é um homem. Tem cinquenta-e-cinco anos, e mora no Centro, na rua de Santana, sozinho. É um homem grande, corpulento. Alto, gordo, muito cabelo na cabeça. Cabelo liso, grisalho, despenteado. É um homem simples. E sujo. Fede um pouco, a suor. Tem as mãos e unhas sujas. Sua roupa é mal lavada.  [Não tenho e nunca tive problema com limpeza / sujeira. Ou com pessoas perfumadas ou fedidas. Acredito, até, que o fedor dignifica o homem. Um homem sujo é digno de seu cheiro. Falamos disso em outro momento]. É o filho mais velho de uma família de outros quatro irmãos, todos também homens. Sempre foi afeminado, desde menino, e nunca teve problemas ...

Em observação, no Espaço da Mulher - 5

Hoje é quinta-feira. São 12h07. Estou no Espaço da Mulher, no Leblon. Ao meu lado direito, mesas e cadeiras; ao meu lado esquerdo, idem; na minha frente, a porta de vidro, onde as pessoas passam. Por aqui, tudo aceso e silencioso. O celular bipa. Email de candidata que chegou. Volto ao silêncio habitual do local.

Em observação, n'As Claras

Hoje é quarta-feira. São 8h26. Estou n’As Claras, no Shopping Itanhangá, na Barra. Estou sentada em uma mesa, sozinha. Ao meu lado direito, um pequeno corredor onde as pessoas passam; ao meu lado esquerdo, uma mureta; na minha frente, uma cadeira vazia e outras mesas, igualmente vazias. Um senhor passa ao meu lado direito. É mulato, baixo, magro. Veste uma calça jeans, blusa do Flamengo, tênis cinza e boné verde. Ele passa novamente ao meu lado direito. Um senhor passa ao meu lado direito. Mulato, baixo, magro, cabelo raspado. Veste uma bermuda preta, uma camisa rosa e um tênis preto. Um senhor passa ao meu lado direito. É mulato, alto, gordo, cabelo preto, raspado. Veste calça jeans, blusa preta, sapato marrom e mochila marrom. Uma senhora passa ao meu lado direito. É baixa, gordinha, cabelo preto, liso, preso num coque. Carrega uma vassoura. Veste um uniforme azul e branco e usa botas brancas. Passa novamente ao meu lado direito. Um senhor passa ao meu la...

Em observação, na Polícia Federal

Hoje é terça-feira. São 9h41. Estou na Polícia Federal de Nova Iguaçu, com meu pai e Gaeth. Ninguém ao meu lado direito nem ao meu lado esquerdo. As pessoas estão sendo atendidas na minha frente, mas a alguns metros de mim. Bem ao meu lado direito, uma porta que dá acesso à recepção da Polícia Federal. Um senhor dos Correios entra. - Você é que assina? Ele é negro, alto, magro, usa boné e é óculos. Veste calça azul, blusa azul e tênis preto. Sai, rindo.

Em observação, no táxi

Hoje é terça-feira. São 8h54. Estou no taxi do seu Francis, indo para Nova Iguaçu. Na frente, Sr. Francis no volante, meu pai no carona. Atrás, eu e Gaeth, ao meu lado direito. Ela é baixinha, gordinha, grisalha, cabelo curto, e usa óculos. Veste uma calça vinho, blusa estampada, sandália. Casaco vinho e bolsa preta sobre o colo. Ela responde as perguntas do meu pai. Está sentada, olhando para a frente. - Nova Iguaçu é organizada a beça. Não, não é não. Oi. Oi. É. Ela olha para mim. Olha para a frente novamente. Olha para fora. Olha para a frente. E olha para fora. - Hã? Hã? É. Uma beleza mesmo. Ela olha para fora. E ri. - Luiz, isso é uma briga inglória. Isso é uma briga inglória. Você está falando isso por causa do Saldanha. Ele nunca vai querer motorista. Ele precisava. Por que, o Saldanha não tá velho demais, não? Não? Você não escutou nada do que eu falei não? Porque ele tá doido pra colocar um motorista pro Saldanha. Você não escutou nada do que e...